O problema poderá vir a ser solucionado se órgãos como o Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro) referendarem a metodologia desenvolvida pela pesquisadora para a “Tipificação de méis brasileiros por microextração em fase sólida combinada com cromatografia gasosa”.
O professor Fábio Augusto revela que o trabalho passou a ser desenvolvido por sugestão de uma empresa incubada na Incubadora de Empresas de Bases Tecnológicas da Unicamp (Incamp) durante um workshop. A empresa, que trabalha com análises químicas e bioquímicas de méis, propôs algumas linhas de pesquisa que pudessem ter interesse com vistas a futuros convênios. Uma delas era o desenvolvimento de uma metodologia que permitisse caracterizar a origem floral do mel.
Fábio Augusto enfatiza a importância de a idéia ter partido de uma pequena empresa para o atendimento de centenas de pequenos produtores (o setor emprega cerca de 350 mil pessoas), porque se sabe que o mel tem valor agregado quando associado a uma florada, o que, entretanto, precisa ser certificado por uma metodologia reconhecida.
A determinação da origem botânica do mel tem grande importância econômica porque alguns tipos de méis são mais apreciados pelo consumidor. Ademais, o seu valor nutritivo depende da origem floral. Como a flora apícola brasileira é muito diversificada e varia de lugar para lugar, é imperioso conhecer a composição e a qualidade dos produtos oriundos de cada região para caracterizá-los e estabelecer padrões, fundamentais para a abertura de mercados internacionais.
Segundo o pesquisador, o mel brasileiro tem boa aceitação no mercado exterior porque não contém antibióticos, já que as abelhas melíferas brasileiras, acidentalmente cruzadas com abelhas africanas, tornaram-se resistentes e estão menos sujeitas a infecções comuns em outros paises.
Além disso, prossegue Fábio Augusto, o Brasil apresenta condições climáticas diversificadas, do que resulta produção de mel durante o ano todo, e uma ampla flora apícola que origina uma variedade de sabores e aromas exóticos, apreciados principalmente pelos europeus. Os méis de aroeira e de marmeleiro, exemplifica o pesquisador, além de outros, agregam valor muito grande ao produto.
Entretanto, observa o cientista, essa circunstância não tem sido aproveitada por falta de certificação de florada, o que leva os importadores europeus e americanos a utilizá-lo quase exclusivamente em misturas para correção de méis de qualidade inferior. “A falta de métodos certificados para a determinação de antibióticos em méis também tem gerado problemas, como o embargo europeu ao mel brasileiro, que fez reduzir a quantidade exportada, em 2005, de 21 para 14 toneladas”, revela o pesquisador.
O objetivo do trabalho foi então desenvolver uma metodologia que permita a identificação da origem floral de méis brasileiros a partir da caracterização química de sua fração volátil, responsável pelo aroma e pelo sabor, utilizando inicialmente a Microextração em Fase Sólida e, na seqüência, a Cromatografia Gasosa Solid Phase Microextraction - Gas Chromatografhy (SPME-GC), que usa dispositivos e procedimentos relativamente pouco complexos, esclarece o professor Fabio Augusto.
O professor estima que o tempo necessário para a análise, da entrada da amostra no laboratório ao resultado, não seja superior a uma hora e meia. Fábio Augusto garante que o procedimento é simples e qualquer técnico treinado pode executá-lo em equipamentos rotineiramente disponíveis em laboratórios de análise.
No desenvolvimento da metodologia, foram avaliadas 90 amostras de méis brasileiros de 20 origens florais e variadas procedências geográficas, oriundas diretamente dos produtores e de fontes fidedignas e não-comerciais. As identificações das floradas foram atestadas pelos produtores e assumidas como verdadeiras.
Segundo o professor Fabio Augusto, cada um dos tipos de méis estudados apresenta perfis cromatográficos diferentes, mas os resultados obtidos mostraram que a metodologia empregada permite a separação e a identificação de compostos marcadores, assim chamados porque possibilitam a identificação da origem, permitindo a certificação desses produtos.
Em nove das 20 floradas, foi possível identificar marcadores e determinar as concentrações que possibilitam sinalizar suas origens. Ele dá exemplos: “O mel de laranjeira apresenta características-padrões tanto na composição do volátil como no perfil cromatográfico. Para a identificação de sua origem floral, os isômeros do aldeído lilálico, com o antranilato de metila, podem ser usados como marcadores. No mel de eucalipto o L-pinocarveol, o fencho e a pinocânfora mostram-se possíveis marcadores na maioria das amostras estudadas”.