A iniciativa é fruto de visita à universidade chinesa realizada no final do ano passado pelos professores Márcio Percival Alves Pinto e Carlos Alonso Oliveira, respectivamente diretores do Instituto de Economia (IE) e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit/IE), e pelo professor David Antunes Nardy, também do IE.
De acordo com Márcio, o convite para visitar a SWUFE foi feito em 2005 pelos professores da própria universidade, por ocasião da realização de cursos internacionais no âmbito da Global Labour University, integrada pelos principais centros de pesquisas e universidades mais importantes do mundo, entre os quais o IE.
A proposta dos docentes e pesquisadores chineses, apresentada na ocasião, era definir uma agenda de discussões de temas econômicos pertinentes aos dois países, sobretudo aqueles que possibilitassem uma análise comparativa do crescimento das duas nações, e com isso, passar a estreitar o relacionamento entre o IE e a SWUFE considerada uma das mais importantes instituições de ensino superior da China, depois da Universidade de Pequim, e responsável pela formação dos principais quadros do Banco Central e do Partido Comunista Chinês.
Mas, segundo Márcio, durante a estada de 15 dias (do final de novembro a meados de dezembro de 2006) dos representantes da Unicamp em Chengdu, o que a princípio envolveria apenas o IE, ganhou maior dimensão. A reitoria da SWUFE mostrou interesse em estabelecer com a reitoria da Unicamp uma relação mais ampla, por meio de um convênio geral de cooperação técnico-científica para a promoção do desenvolvimento de pesquisas e de outras atividades acadêmico-culturais, que atualmente é objeto de análise pelas duas instituições, sob a coordenação da Coordenaria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori), da Unicamp.
Também conhecido como convênio guarda-chuva, é um instrumento de cooperação, firmado entre instituições de ensino ou pesquisa, sem implicações financeiras diretas, que permitiria a cooperação em áreas de interesse comum, por meio do intercâmbio de docentes, de pesquisadores e de estudantes, da implementação de projetos conjuntos de pesquisa, da promoção de eventos científicos e culturais, e da troca de informações e de publicações acadêmicas, e que envolveria a Unicamp no seu conjunto.
“Estamos ainda definindo, junto com a Cori, o elenco de atividades que farão parte do convênio”, explica o diretor do IE. “Em princípio, deverá ser celebrado um programa de intercâmbio que beneficiaria não só estudantes, professores e pesquisadores do Instituto de Economia, mas de outras áreas da Unicamp nas quais haja mútuo interesse, bem como contemplaria a realização de um seminário internacional. Também está prevista a abertura, provavelmente já no segundo semestre, de um curso de mandarim, a ser ministrado na Unicamp por professores da universidade chinesa, provavelmente por meio do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)”, adianta Márcio.
Ainda conforme o professor, existe o desejo da SWUFE de criar na Cidade Universitária Zeferino Vaz, por meio das diferentes unidades acadêmicas, o que eles denominam “Escola de Confúcio”, uma atividade também voltada à difusão da cultura chinesa, em conjunto com as aulas de mandarim.
Comparar para entender Para o segundo semestre, Márcio revela que também há planos de o IE organizar um seminário internacional na Unicamp, a fim de permitir uma análise comparativa dos diferentes tipos de desenvolvimento econômico da China, da Índia e do Brasil, com a presença de representantes dos governos, institutos de pesquisa nacionais e internacionais, universidades, empresas, representações diplomáticas e órgãos de planejamento dos três países envolvidos.
“A economia da China com um PIB de U$ 1,6 trilhões e um patamar de investimentos equivalentes a 47% do PIB tem crescido nos últimos 25 anos a uma taxa de quase 10% ao ano, assumindo o papel de locomotiva do mundo, enquanto a do Brasil só patinou nesse período, lutando para romper a barreira de crescimento de 3% ao ano. Todos estão ávidos por compreender os mecanismos desse crescimento. É um país que está no centro da dinâmica mundial, na medida em que é responsável por cerca de 25% do crescimento global, e entendemos que é extremamente relevante discutir a natureza do crescimento chinês e seus limites, comparando com o Brasil e a Índia”, argumenta o diretor do IE.
Conforme enfatiza Márcio, a análise comparativa é de extrema utilidade para auxiliar os economistas a entenderem como é que se deu essa diferenciação no crescimento entre os três países. Segundo ele, os economistas, infelizmente, vêm abandonando os estudos comparados como importante instrumento metodológico para entender o desempenho e as alternativas de crescimento de cada país no cenário internacional.
“Existem questões importantes para serem analisadas do ponto de vista comparativo tais como: a diferença das estruturas sociais, a história da construção das suas respectivas nações, as diferentes políticas macro-econômicas adotadas, as várias formas de inserção desses países no processo de globalização, os diferentes padrões de financiamento, papel das elites, entre outros”, esclarece.
“Esses estudos comparativos permitem entender os diferentes caminhos adotados por cada um desses países e suas possibilidades de crescimento e de desenvolvimento sustentável, bem como suas posições relativas na divisão internacional do trabalho”, observa o docente.
Para ele, o debate é fundamental para ajudar a entender um pouco mais sobre o Brasil, seu destino, horizontes, e novas perspectivas e contribuir na formulação de políticas públicas que apóiem o crescimento econômico nacional de forma duradoura com a distribuição de renda e inclusão social.
“Obviamente, dentro disso, há a discussão sobre patentes, sobre custos de produção, sobre o papel na divisão internacional do trabalho e até sobre os aspectos bem mais concretos nas relações comerciais entre os dois países, especialmente a respeito das dificuldades que as empresas nacionais estão passando em razão da enorme competitividade com os produtos chineses, gerando internamente problemas relacionados à diminuição do PIB, da renda e do emprego”, pondera Márcio.
Ainda segundo ele, os chineses vêem a oportunidade de poder conhecer melhor o perfil da economia capitalista latino-americana e de poder ampliar espaços para divulgação da cultura e das tradições chinesas.
Espaço para reflexão Esse aspecto, observa o diretor do IE, poderá ser contemplado, também no segundo semestre, com a promoção, em conjunto com outras unidades da Unicamp, de uma semana sobre a cultura chinesa na Universidade, com palestras, workshops e mostras de diferentes produções artístico-culturais (música, artes plásticas, cinema, teatro etc).
Márcio salienta que o evento servirá para lançar as bases de um projeto mais ambicioso para o próximo ano: o da criação, na Unicamp, de um centro cultural chinês, que em sua concepção seria um espaço permanente de discussão e reflexão sobre a China, por meio de seminários, pesquisas, publicações e mostras de eventos artístico-culturais.
“Nosso sentimento é que existe um conjunto crescente de docentes, pesquisadores e alunos que gostaria de aprofundar o conhecimento sobre a sociedade chinesa. Nesse sentido, a intenção é a de criar um espaço que permita a divulgação e a socialização das informações, onde possamos aprofundar a reflexão sobre as identidades e as diferenças existentes entre nossos países, com perfis históricos, culturais e socioeconômicos tão díspares. E há muito o que analisar e debater, do ponto de vista da tecnologia, da economia, da medicina e das artes”, destaca Márcio.
“Então, conhecer mais a China, nas suas dimensões cultural, econômica e social, por meio de um conjunto de projetos de pesquisa e atividades, é um desafio que no mundo atual considero prioritário para a Universidade. Sua viabilização, no entanto, dependerá do nosso fôlego e de nossa capacidade de articulação entre todos os setores da Universidade com o apoio da Reitoria, os quais serão fundamentais para a estruturação e realização da empreitada.”
Instituição já formou 110 mil