RAQUEL
DO CARMO SANTOS
O
engenheiro da computação Henrique Przibisczki de Oliveira
desenvolveu um novo ranking de veículos de publicações
científicas baseado em dados colhidos da Web. Trata-se
de um método diferente em relação aos tradicionais, que
destacam o número de citações do periódico em base de
dados. Neste caso, Henrique Oliveira colheu as informações
existentes nas páginas virtuais de pesquisadores da área
de computação de universidades estrangeiras, destacados
em um ranking publicado no jornal US News, de grande
circulação nos Estados Unidos. Ele analisou o currículo
de mais de três mil docentes em um total de 145 mil publicações.
“A ideia foi disponibilizar
uma nova forma de ranquear os veículos de divulgação científica
levando em conta outro tipo de métrica. Na área de computação,
assim como em outras áreas cuja natureza das pesquisas seja
voltada para o aspecto prático, uma forma rápida e eficaz
de os pesquisadores submeterem seus estudos aos pares é
a apresentação em conferência, seminários e simpósios. E
este tipo de veículo não é considerado tradicionalmente
em ranking de publicações científicas”, justifica Oliveira,
que apresentou dissertação de mestrado no Instituto de Computação
(IC), orientado pelo professor Ricardo Anido.
Por mais que um veículo
de divulgação científica seja prestigiado pelos pesquisadores,
explica Oliveira, se ele não for indexado sua qualidade
não será considerada para a publicação de uma pesquisa.
Isto porque a métrica mais utilizada para medir o impacto
de um veículo científico é o uso de citações. Em geral,
estas citações estão relacionadas à qualidade, impacto e
abrangência. “É o que os cientistas buscam para eleger um
e não outro veículo para notificar a descoberta ou resultado
de um determinado experimento”, esclarece.
O renome da publicação científica
é largamente utilizado pelas instituições para promoção
de seus pesquisadores, e até mesmo pelas agências de fomento
e governo para destinar recursos. Muitas empresas, por sua
vez, avaliam as qualificações de um candidato a emprego
pelo prestígio das publicações científicas constantes no
seu currículo. Em resumo, há uma forte pressão na comunidade
acadêmica mundial para ter o nome estampado em um veículo
de visibilidade.
Oliveira desenvolveu complexas
ferramentas de computação para chegar a um modelo razoável
de ranking que poderá servir, por exemplo, para ser usado
em conjunto com outros métodos. Para chegar aos resultados,
ele colheu as informações das páginas dos professores das
áreas ligadas à computação de 60 universidades estrangeiras.
Inicialmente, selecionou o currículo dos docentes, identificou
e extraiu os locais de publicação, autores e ano. Este aspecto
consumiu grande parte do empenho e tempo de Oliveira, uma
vez que os textos das referências encontradas não obedeciam
a um padrão específico e, portanto, era difícil desenvolver
um programa adequado com margem mínima de erro.
Após esta etapa, Henrique
realizou análise de acordo com o número de publicações que
o veículo recebeu. Esta proposta é, justamente, contrária
àquela utilizada normalmente nos cálculos dos valores de
impacto, pois não está relacionada com algo que emerge do
veículo, e sim do prestígio atribuído por um pesquisador
a cada publicação. Ou seja, o objetivo foi buscar os veículos
que o pesquisador prestigiou e não aqueles em que ele publicou
por conta do prestígio.
Um componente que despontou
durante o estudo realizado por Oliveira foi a importância
dada pelos pesquisadores da área de computação para as
conferências. De certa forma, a informação confirma a
necessidade de novos métodos para cálculo do valor de
impacto de um veículo de publicação científica para
esta categoria. Pelo levantamento realizado, houve uma inversão
da quantidade de publicações em conferências e journals
com o passar dos anos. Se em 1990, por exemplo, 80% das
publicações na área de computação eram feitas em
journals e, apenas 10%, em conferências, atualmente
teríamos 60% de publicações em conferências contra apenas
30% em journals. “O número médio de publicações
por professor em conferências, em 2007, chega a ser o dobro
do volume de publicações em journals”, esclarece.
As conferências, segundo
Oliveira, consistem em um espaço de discussão e troca de
ideias e este aspecto favorece as áreas cujo conteúdo das
pesquisas não é teórico. O meio é extremamente rápido e
permite um retorno imediato do impacto que a pesquisa causa
entre os pares, diferentemente dos veículos impressos, cujo
processo de publicação torna lenta a visibilidade da pesquisa
e o retorno para a comunidade acadêmica. Neste sentido,
este tipo de veículo é mais interessante. Por conta deste
fato, as conferências apareceram como era de se esperar
nas primeiras colocações do novo ranking gerado.