26/3/2010
– A Fapesp está disposta a adquirir o melhor navio
oceanográfico disponível no momento, desde que as três universidades
públicas paulistas contratem mais cientistas para incrementar
as pesquisas no mar. “Podemos investir em equipamentos,
barcos ou num navio, mas não podemos contratar pesquisadores
e professores; as universidades, sim. Queremos enfatizar
os projetos de pesquisa sobre o mar montando um plano competitivo
mundialmente. É o desafio que deixo aqui na Unicamp”, afirmou
o professor Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico
da agência de fomento.
Brito Cruz participou no
último dia 26 de mais uma edição dos Fóruns Permanentes
organizados pela Universidade, que desta vez apresentou
os objetivos e estratégias para os próximos dez anos do
Programa Biota/Fapesp. “Agora com o pré-sal, o mar ficou
ainda mais importante para o Estado de São Paulo. Precisamos
de pesquisa para entender como ele é e como ficará com a
exploração do petróleo. É um assunto muito urgente”.
Segundo o diretor científico,
a Fapesp está bastante satisfeita com os resultados do Biota,
que demonstra capacidade de se regenerar graças à participação
da comunidade que traz ideias, críticas e desafios novos.
“O Biota também serviu para colocarmos em prática uma medida
importante: a busca de apoio institucional aos projetos,
que é menor do que nossos investimentos. Não cabe a um coordenador
telefonar para o convidado, marcar sua passagem e pegá-lo
no aeroporto; cientista precisa do seu tempo para fazer
ciência. A Unicamp já forneceu um manager para o programa
e outro profissional que cuida da base de dados, além de
serviços de outras unidades”.
Carlos Joly, coordenador
do Biota e docente do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp,
atentou para o processo de institucionalização do projeto,
que se desenvolve há quatro anos. “Nesse processo, a
secretaria executiva veio para a Unicamp, juntamente com
a revista Biota Neotrópica. Na Unesp está sendo instalado
o banco de extratos: ao contrário dos outros bancos de
dados do Biota, que são de acesso público, este é sigiloso
e exige sistema de senhas. Quanto à USP, estamos conversando
para que cuide do desenvolvimento e testes clínicos de
produtos a partir de moléculas com potencial para a indústria
farmacêutica ou cosmética”.
Abrindo o leque
A realização de um fórum
extraordinário sobre o Biota/Fapesp teve o objetivo de atrair
e informar pesquisadores das mais diversas áreas sobre a
possibilidade de ampliar o leque de pesquisas para muito
além das biológicas e químicas. “Nesses primeiros dez anos
ficou claro que há enormes possibilidades de avançar para
outras especialidades, a fim de que possamos melhor entender
aspectos relacionados com a exploração racional dos nossos
recursos nacionais”, observou o professor Ronaldo Pilli,
pró-reitor de Pesquisa.
Na opinião do professor
Paulo Mazzafera, diretor do IB, o Biota é o melhor programa
da Fapesp, o que se comprova justamente por sua longevidade.
“Este fórum é uma iniciativa interessante por trazer pesquisadores
de novas áreas. No início, o projeto parecia relacionado
apenas a botânicos, mas percebemos que é possível agregar
muitos outros especialistas para trabalhar com assuntos
da biodiversidade, a exemplo de físicos que estou vendo
no auditório”.
Em termos de interação,
Carlos Henrique de Brito Cruz lembra que a Fapesp possui
um conjunto de programas que, embora não seja o caso, sugerem
uma predominância de recursos para o meio ambiente. “Temos
os programas de Mudança Climática Global, de Bioenergia
e o Biota, que se relacionam. Incentivamos encontros com
pesquisadores dos três programas justamente para que eles
interajam, visto que existem tanto objetivos convergentes
quanto conflitantes – por exemplo, entre aqueles da bioenergia,
que apóiam a monocultura, e do Biota, que defendem a biodiversidade.
É um debate bom de se promover”. (Luiz
Sugimoto)