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O grande legado de Attílio Giarola
Colegas destacam pioneirismo
de professor emérito falecido dia 15
A trajetória do professor Attílio José Giarola, da Faculdade
de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec), falecido aos
79 anos no último dia 15 de abril, é considerada exemplar
por seus pares. Seu legado científico e administrativo foi
destacado por amigos, colegas e ex-alunos. A vocação para
a formação de recursos humanos qualificados foi lembrada por
todos – ao longo de sua carreira, por exemplo, o professor
emérito da Unicamp orientou 22 dissertações de mestrado e
15 teses de doutorado. Para o professor Evandro Conforti,
orientando de doutorado e posteriormente colega de departamento,
o maior impacto do legado científico deixado por Giarola pode
ser comprovado na formação de grupos de pesquisa na Universidade
Federal do Pará (UFPA), na Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), na Universidade de Brasília (UnB) e na Universidade
Federal de Campina Grande (UFCA). “Quando ele retornou dos
Estados Unidos com a bagagem do mestrado e doutorado, trouxe
consigo a visão de pesquisa na engenharia. Graças a essa orientação,
a engenharia elétrica da Unicamp lidera esse esforço de divulgação
internacional dos trabalhos aqui produzidos. Ele foi um pioneiro
ao antever a importância de publicar no exterior”, observou
Conforti.
“Quando eu vejo o catálogo
de pós-graduação da Unicamp de 1976, classifico-o como um
documento importantíssimo”, ressaltou o professor aposentado
da Feec Celso Bottura. Para ele, Giarola assumiu a coordenação
de pós-graduação da Unicamp com muito entusiasmo, numa época
que esse tema praticamente inexistia no Brasil. Na opinião
de Bottura, os catálogos de graduação e pós-graduação foram
e sempre serão, numa universidade de peso, documentos fundamentais.
“Esse trabalho eu reputo como um dos mais importantes na história
da Unicamp, por isso tenho uma admiração enorme pelo que ele
fez”, assegurou.
Colega
de departamento de Giarola, o professor Rui Fragassi Souza
também ressaltou o pioneirismo na formação de núcleos
de pesquisa no Brasil. “Foi ele quem formou os primeiros
doutores que originaram esses grupos”, disse. Outro aspecto
bastante interessante lembrado por Souza é que, juntamente
com o professor David Anthony Rogers, Giarola introduziu na
pós-graduação a primeira disciplina prática, intitulada
Laboratório de Implementação de Circuitos Integrados de
Micro-ondas. Até então, não havia nenhuma disciplina prática
nos cursos de pós-graduação. Ademais, o fato de ele publicar
muitos trabalhos serviu como estímulo para que todo corpo
docente do departamento passasse a publicar. “Convivi bastante
tempo com Giarola e me chamava atenção a maneira rápida
como decidia tudo, sem deixar para resolver problemas no dia
seguinte”, testemunhou Souza.
Segundo o diretor da Feec,
Max Henrique Machado Costa, Giarola foi uma parte bem-sucedida
no plano do reitor e criador da Unicamp, Zeferino Vaz. E recorda
do seu dinamismo. “Se tivesse que resumir todas as características
de sua personalidade em uma única palavra, diria que ele era
um dínamo, com uma energia impressionante. Publicava com frequência
e tinha muitos orientandos”, comentou o diretor. A sua gestão
à frente da Comissão Central de Pós-Graduação (CCPG) da Unicamp,
de 1975 a 1986, de acordo com Costa, contribuiu sobremaneira
para que a Universidade se lançasse no espaço internacional
das universidades e centros de pesquisa. O título de professor
emérito recebido em 1995, prosseguiu o diretor, coroou toda
a sua contribuição para a pós-graduação da Universidade. “Além
disso, criou uma geração de pesquisadores”, concluiu.
Ex-aluno
de mestrado de Giarola no período de 1987 a 1990, Carlos
Menezes Diniz Jr. afirmou que o docente tinha soluções práticas
muito inteligentes para questões laboratoriais e experimentais.
Ele recordou que passou praticamente quatro meses tentando
fazer uma medição, justamente na época em que o professor
teve que implantar quatro pontes de safena. No dia que ele
retornou às atividades, resolveu uma questão bastante simples
que impedia Diniz de atingir seu objetivo. “Eu fazia a medida
de uma antena quando ele olhou e disse para tirar um prego
do local onde estava, porque assim funcionaria. E funcionou
mesmo. Ele era muito respeitado”, disse.
Primeiro aluno de doutorado
de Giarola, o hoje professor da UFRN Adaildo Gomes D´Assunção
destacou, além da grande generosidade e educação, a competência
demonstrada pelo seu orientador. Outro aspecto abordado por
Adaildo foi com relação à confiabilidade. “Ele foi o
primeiro a apoiar a iniciativa e me deu todo o apoio para
a realização do primeiro Simpósio Brasileiro de Micro-ondas
fora do eixo Rio-São Paulo”. Muito emocionado, o docente
ainda narrou um fato que para ele é marcante. Giarola foi
a pessoa que, representando a Unicamp, negociou os termos
do acordo de cooperação entre a UFRN e a Unicamp em 1976,
possibilitando que muitos professores da instituição nordestina
pudessem realizar treinamentos em todas as áreas.
A próxima Conferência Internacional
IMOC 2011, a ser realizada em Natal (RN), vai promover uma
homenagem ao docente falecido recentemente. A coordenação
geral do evento é do professor Adaildo e a coordenação
técnica é do professor Evandro Conforti.
Docente ingressou na Unicamp
em 1975
Graduado em engenharia mecânica
e elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo (USP) em 1954, foi professor do Instituto de
Tecnologia da Aeronáutica (ITA) entre os anos de 1955 e
1957. Obteve o título do mestrado em 1959 e do doutorado
em 1963, ambos pela Universidade de Washington, em Seattle
(EUA). Paralelamente à sua carreira acadêmica, no período
de 1958 a 1968, atuou como pesquisador cientista da Boeing.
Logo depois, iniciou seu pós-doutorado na Universidade
do Texas, concluído em 1974. Já na Unicamp, em 1975, assume
como docente do departamento de Engenharia Elétrica –
unidade que deu origem à Faculdade de Engenharia Elétrica
e de Computação (Feec) e, logo após, ocupa a função
de coordenador dos Cursos de Pós-Graduação, onde permaneceu
até 1986. De 1985 até 1989 ocupa os cargos de presidente
e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Micro-ondas
e Optoeletrônica (SBMO). Aposenta-se em 1993, porém continua
na ativa como professor colaborador da Feec e, em 1995,
recebe o título de professor emérito da Unicamp. Publicou
80 artigos em periódicos nacionais e internacionais, além
de 218 trabalhos em eventos científicos.
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