Número de empregos sem carteira continua crescendo
Fiscalização e novas
orientações econômicas
não impedem aumento da informalidade
Mesmo em situações de maior crescimento econômico e da
tendência à formalização dos empregos, as ocupações
ilegais têm aumentado. Se em 2002 o número de empregados
sem carteira assinada era de 10,8 milhões, em 2008 este número
saltou para 12 milhões de pessoas atuando no campo da informalidade
e sem a garantia de direitos trabalhistas. “Ainda com todas
as condições favoráveis à formalização dos contratos
de trabalho, os empregos ilegais não deixaram de aumentar;
apenas reduziram o seu ritmo de crescimento”, analisa a
economista Renata Silveira Corrêa em sua dissertação de
mestrado apresentada no Instituto de Economia (IE).
Não há dúvida, segundo a economista,
de que ocorreu uma sensível mudança a partir dos anos 2000,
em que as novas orientações econômicas e a maior fiscalização
por parte do poder público favoreceram a expansão do assalariamento
e aumento da formalização dos vínculos de emprego. No entanto,
Renata afirma que não houve uma reversão na utilização do
emprego ilegal no país. Pelo contrário, a magnitude do fenômeno
reflete a frágil organização do mercado de trabalho brasileiro,
mesmo com o aparato institucional construído desde 1930, quando
da criação do Ministério do Trabalho. A economista acredita
que a reprodução do emprego ilegal não é determinada exclusivamente
por fatores de ordem econômica, mas pode estar associada também
a fatores de outra natureza, como as restrições impostas pela
Lei de Responsabilidade Fiscal quanto ao gasto com pessoal
ou a cultura de desrespeito à legislação trabalhista.
O estudo realizado por Renata
Corrêa teve como base os dados da Pesquisa Nacional de Amostra
por Domicílio (Pnad) feita pelo IBGE. Orientada pelo professor
Paulo Eduardo A. Baltar, ela analisou o período de 2002-2008
e traçou o histórico da evolução do emprego sem carteira,
identificando os segmentos responsáveis por essa forma de
informalidade do trabalho. Há que se considerar que a carteira
profissional foi instituída em 1932 com o objetivo de servir
de prova na garantia pelos direitos dos trabalhadores. Só
em 1943 foi decretada a obrigatoriedade da carteira profissional
para o exercício de atividades em estabelecimentos e, em 1969,
ela foi substituída pela Carteira de Trabalho e Previdência
Social.
Um dos pontos que chamam a
atenção na análise da economista é o perfil do empregado sem
carteira assinada. Em relação ao segmento formalizado, há
uma maior participação dos jovens, especialmente menores de
idade. Em geral, pertencem às regiões Norte e Nordeste e se
encontram também em pequenos municípios, assim como também
há uma predominância considerável nos estabelecimentos de
menor porte. Há uma alta participação de trabalhadores manuais,
de vendas e de serviços e maior proporção de empregados nos
setores da construção e dos serviços.
Na pesquisa foram definidos
ainda grupos de ocupações de maior relevância na geração deste
tipo de emprego. Os mais vulneráveis à geração de empregos
ilegais e que ainda apresentaram elevadas taxas de crescimento
entre 2002 e 2008 foram os trabalhadores dos serviços nos
setores de alojamento e alimentação e de serviços pessoais
e coletivos, os trabalhadores manuais da construção e da manutenção
e reparação e os trabalhadores administrativos dos serviços
prestados às empresas.
Outro grupo diz respeito aos
segmentos com menor propensão à ilegalidade, mas que registraram
elevadas taxas de geração de vagas ilegais. É composto por
trabalhadores administrativos e profissionais de nível superior
dos setores de serviços públicos (administração, educação
e saúde) e da educação e saúde mercantil; os técnicos de nível
médio da indústria de transformação; e os trabalhadores administrativos
do comércio, dos serviços de informação e da intermediação
financeira.
Publicação:
“O emprego sem carteira no Brasil urbano”
Modalidade: Dissertação
de mestrado
Autora: Renata
Silveira Corrêa
Orientador: Paulo Eduardo A. Baltar
Unidade: Instituto de Economia (IE)
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