Ferramenta mensura impacto pedagógico
do uso do computador no ensino de música
Tese constata melhora no
desempenho de alunos
após aplicação de testes em três
escolas
O
ensino de música recebeu um reforço especial com o sancionamento
da Lei Federal 11.769, de 18 de agosto de 2008, que torna
obrigatória a sua implantação nas escolas até o próximo
ano. A disciplina, que já integrou a grade curricular no
Brasil à época do canto orfeônico, agora contará com mais
uma alternativa a ser considerada: também poderá ser ministrada
por meio do computador. Na Unicamp, o assunto já é recorrente
no projeto Conexão do Saber, de 2004, que contempla hoje
sete prefeituras do Estado de São Paulo (Pedreira, Salto,
Santos, São José do Rio Preto, Penápolis, Guará e Casabranca).
A iniciativa abrange todas as áreas do conhecimento e atinge
no momento cerca de 200 mil crianças e professores.
Faltava até então, conforme
a musicista Adriana do Nascimento Araújo Mendes, uma ferramenta
capaz de medir o impacto pedagógico deste tipo de ensino,
trabalho que conduziu com sua pesquisa de doutorado, orientada
pela professora do Instituto de Artes (IA) Aci Taveira Meyer.
Mendes é pianista desde os seis anos e chegou a seu objetivo
de doutorado observando a aprendizagem e o desempenho de crianças
de escolas públicas de Pedreira, ao utilizarem experimentalmente
os módulos de educação musical do Conexão do Saber.
A pesquisadora concluiu pela
eficácia da ferramenta e pela melhora no desempenho dos alunos
após aplicação de testes em três escolas de Pedreira. No total,
o trabalho foi desenvolvido com mais de 300 crianças e o resultado
se baseou na comparação de um pré-teste e pós-teste.
Uma das atividades pedagógico-musicais
de Mendes é desenvolver módulos educacionais para computador
no Conexão do Saber, projeto que surgiu na Faculdade de Engenharia
Elétrica e de Computação (Feec) como ramificação de um
projeto maior – o Partnership in Global Learning (PGL),
lançado em 2000. Envolvia universidades estrangeiras e brasileiras,
entre elas a Unicamp. A ideia era produzir e-learning e
promover maior intercâmbio entre universidade e escola.
A musicista começou a participar
do PGL em 2001 como professora em Campinas. No mesmo ano,
tomou parte do trabalho na Unicamp, como pesquisadora vinculada
ao Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (Nics).
Ali teve uma experiência positiva com o software Rabisco.
Além de ser um recurso lúdico de composição musical, no
entender da pesquisadora o software também poderia
ser utilizado como um instrumento pedagógico para situações
de escola.
Neste
software, o aluno desenha com o mouse e ouve um resultado
sonoro. Mendes propôs a realização de pequenas aulas que
levassem os alunos a compreender o mecanismo de funcionamento
do Rabisco. Imaginou esta experiência para a oitava série
(atual nono ano), desenvolvendo as primeiras aulas. Ocorre
que a concepção do PGL naquele momento era efetuar módulos
longos para serem trabalhados no ano. Por falta de apoio,
o seu projeto não chegou a ser aplicado concretamente.
Estava ainda previsto um projeto
de integração entre professores americanos, mexicanos e
brasileiros com crianças de escolas brasileiras visando ampliar
o conhecimento cultural de cada país e dos professores das
escolas também. Devido novamente à dificuldade de financiamento,
o projeto ganhou uma outra característica na Unicamp: uma
parceria com prefeituras, contemplando as especifidades de
cada cidade.
No Conexão do Saber, há
professores de todas as disciplinas desenvolvendo conteúdos
que, em conjunto com especialistas da Universidade, transformam
esta expertise em linguagens de tecnologias. Os professores
desenvolvem o conteúdo e a equipe da Unicamp transforma-o
em aulas lúdicas e com recursos interativos.
O que existe hoje, comenta
Mendes, é um trabalho de formação desses professores em duas
frentes: os que vão utilizar os conteúdos já constantes de
um banco de módulos da Feec e os que vão desenvolver esses
módulos. “A riqueza do projeto está na soma do que cada professor
faz em sala de aula”, atesta. A musicista continuou seu trabalho
de bastidores com pequenos módulos. Em 2004, foi fechada uma
parceria da Unicamp com a Prefeitura de São José do Rio Preto,
a primeira cidade a encampar a ideia. Todas as escolas municipais
utilizaram módulos do Conexão do Saber por cerca de cinco
anos, quando houve mudança de prefeito.
Módulos
O objetivo de Mendes sempre
foi trabalhar com a concepção de educação musical mais próxima
da realidade do aluno, com noções de sons do cotidiano e explorando
os parâmetros básicos do som. Em suas aulas virtuais, a pesquisadora
procura transmitir conceitos de uma apreciação musical consciente.
Em Pedreira, as escolas públicas
aderiram ao Conexão do Saber com aulas semanais de 50 minutos
no laboratório de informática para cada turma. Como desenvolvedora
de módulos de arte (que engloba o de música), Mendes pôde
conversar com alguns representantes das Secretarias de Educação
das cidades parceiras enfatizando que “os módulos são um reforço
para as atividades que todos os professores desempenham em
sala de aula”.
A pesquisadora empregou como
motivação para sua pesquisa trechos de música (rock, MPB,
cantigas e até toque de celular), para mostrar aos alunos
que o que eles estavam ouvindo tinha a ver com uma determinada
representação gráfica. Trabalhou junto com a equipe técnica
da Feec, a qual transformou suas ideias numa aula virtual,
com apoio do software Flash e recursos sonoros. Os
módulos de música, diz, são bem trabalhosos de serem feitos,
por envolverem som e imagem.
Outra pergunta das Secretarias
era sobre o impacto do ensino via computador no desempenho
dos alunos. Mas, como é difícil medir o quanto os alunos aprendem,
o desafio era encontrar um mecanismo de mensuração. O doutorado
de Mendes propôs mensurar esse impacto a partir do quanto
os alunos apreendem da aula virtual a respeito de educação
musical.
Mendes constatou que o impacto
pedagógico para a faixa etária de dez anos (quinto ano) foi
maior para as meninas. “Fiz um teste com o grupo experimental,
aplicando os módulos e reaplicando o mesmo teste depois”,
relata. Para o grupo-controle, foi aplicado um módulo que
não tinha correlação com o teste anterior. Depois foi aplicado
o mesmo teste do grupo experimental. “Comparei o desempenho
das crianças do grupo experimental, que tinham sido submetidas
às minhas aulas virtuais, e as do grupo-controle, que não
tinham”, descreve.
A melhoria no desempenho das
meninas comprovou a validade de sua proposta. Observou também
que os meninos apresentam formas diferentes de aprender, que
necessitariam futuros estudos para validar generalizações.
Outro objetivo, diretamente
ligado ao primeiro, foi desenvolver uma ferramenta que medisse
o impacto pedagógico do Conexão do Saber. Ela conseguiu
viabilizar esta ferramenta e garantir que ela poderá ser
estendida a outras disciplinas, além de ter averiguado formas
de como as crianças estão praticando os módulos
Mendes afirma que, além dos
módulos, há o projeto mais complexo dos laboratórios virtuais,
que trabalham com 3D, na linha de jogos virtuais. “Não existe
uma linearidade, com começo, meio e fim nas aulas. É como
um videogame”. Uma sugestão de Mendes é a ampliação dos recursos
de construção de jogos para estudos futuros. “É preciso unir
a prática de quem sabe jogar e associá-la ao conhecimento
que o professor detém.”
Publicação:
“Estudo experimental da apreciação musical
de alunos do ensino fundamental no ensino musical via
computador”.
Modalidade: Tese
de doutorado
Autora: Adriana
do Nascimento Araújo Mendes
Orientadora:
Aci Taveira Meyer
Unidade: Instituto
de Artes
Financiamento:
Capes
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