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Mapeando a Costa do Descobrimento
Cartas cartográficas podem subsidiar
ações de gestão e de planejamento
Trabalho inédito apresenta
em, 20 cartas cartográficas, dados referentes ao Zoneamento
Ambiental da região da Costa do Descobrimento, na Bahia, área
considerada inicial da formação do território brasileiro.
O estudo pretende, através de uma análise geoambiental, detectar
problemas e potencialidades da região de forma a subsidiar
ações de planejamento e gestão por parte do poder público
e da iniciativa privada. O trabalho identificou os principais
problemas ambientais e os maiores conflitos referentes ao
uso e ocupação das terras.
Entre os conflitos, destaca
os oriundos da necessidade de conservação dos biomas de Mata
Atlântica, Mangue e Restinga por meio da criação de unidades
de conservação – parques nacionais, parques municipais, museus
naturais, reservas extrativistas, reservas particulares do
patrimônio natural e áreas de proteção ambiental – e a pressão
da expansão das atividades produtivas como a silvicultura
de eucalipto, a pecuária, a agricultura, as industriais e
o turismo de massa.
Outros problemas enfatizados
no estudo referem-se à posse da terra das populações indígenas
que reinvidicam ampliação e demarcação de novas reservas e
as lutas por assentamentos rurais com vistas a uma reforma
agrária regional. Por fim, o trabalho propõe zoneamento ambiental
para a região integrando áreas de preservação, conservação,
melhoramento e reabilitação ambientais e do patrimônio histórico-cultural.
A pesquisa desenvolvida por
Raul Reis Amorim, que durante sua realização foi admitido
como professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), em
Campos dos Goytacazes, teve orientação da professora Regina
Célia de Oliveira, do Departamento de Geografia do Instituto
de Geociências (IG) da Unicamp e coordenadora do Núcleo de
Estudos Ambientais e Litorâneos, ligado ao Laboratório de
Geomorfologia da Unidade. Ela lembra que quando a tese se
iniciou já havia sido realizado o zoneamento da região da
Baixada Santista, pois já existia um projeto maior no Departamento
que era o do estudo das áreas de ocupação pioneiras do território
nacional com o objetivo de estudar como ocorreram suas mudanças
de uso e ocupação e quais os impactos daí resultantes. A tese
de Raul Reis conclui o zoneamento da Costa do Descobrimento
e, atualmente, outro trabalho em andamento envolve a Costa
do Cacau.
O Zoneamento Ambiental constitui
um instrumento legal de planejamento de ocupação de uma área
que deve levar em conta as características de fragilidade
e as potencialidades do seu meio físico, suas condições de
uso e os impactos daí advindos de modo a definir as melhores
opções e possibilidades de ocupação do solo e, considerando
as restrições legais, subsidiar ações adequadas dos agentes
públicos. Extrapola os planos diretores das cidades porque,
abarcando regiões, pode envolver municípios, bacias hidrográficas
e geomorfologias.
Um banco de dados cartográficos
com 20 mapas apresenta informações referentes aos aspectos
naturais como relevo; tipo de cobertura vegetal natural; localização
da Mata Atlântica, do Mangue, da Restinga; distribuição dos
principais tipos de solos; e feições dos vários tipos de litoral
para a partir dessas informações realizar uma caracterização
ambiental. Levando em conta as características turísticas
e os recursos naturais da região, o trabalho procura potencializar
a exploração turística e o desenvolvimento de atividades econômicas
apropriadas.
Além
do levantamento das características naturais, Amorim analisou
aspectos humanos, econômicos, realizou o mapeamento do uso
da terra, de como estão organizados os sistemas produtivos,
delimitou as áreas indígenas, os assentamentos rurais, e diagnosticou
o nível de impacto em relação à ocupação das áreas com altas
e baixas densidades democráticas.
Caracterizados os estados
ambientais críticos, muito ou pouco alterados, o pesquisador
elaborou um mapa final. Nele identifica as potencialidades
da Costa do Descobrimento, localizando áreas recomendadas
para conservação; para proteção, como as remanescentes da
Mata Atlântica; as detentoras de recurso que podem ser explorados
de maneira sustentável; as terras indígenas protegidas por
lei; as de transformação principalmente ligadas à agricultura,
mas que demandam correções; as com graves problemas e que
demandam melhoramento; as que precisam ser reabilitadas. Amorim
diz que “se trata de um mapa que sugere condições de uso.
A ideia foi a de analisar de forma integrada os aspectos naturais
e econômicos e propor o que seria ideal para manter a sustentabilidade
da região”.
O mapa final da tese, o mais
interessante, mostra como se apresenta a região hoje em todos
os aspectos naturais e de exploração. Tradicional região cacaueira,
maior produtora de mamão do Brasil, fornecedora do coco verde,
mantém também plantações de café. Extensivas plantações de
eucalipto e enormes pastagens ocupam áreas planas devastadas
a partir dos anos 60, com a abertura da BR-101, pela extração
descontrolada da madeira, originando desequilíbrios sérios
nos ecossistemas. Cerca de 75% da população é urbana e se
distribui pelas três principais cidades da região: Porto Seguro,
a maior delas e um dos maiores destinos turísticos do País,
Santa Cruz de Cabrália e Prado. Nas áreas rurais, a densidade
demográfica é baixa.
Conflitos
Não é difícil imaginar que
uma área por muito tempo pouco acessível por falta de acessos
por terra tenha, nos últimos 50 anos, sofrido uma exploração
e ocupação desordenadas, o que indubitavelmente leva a conflitos.
Os pesquisadores entrevistados fazem referência aos principais.
Os indígenas discutem na justiça
a ampliação de suas reservas, o que gera conflitos porque
muitas dos locais reivindicados constituem áreas de proteção,
ou são parques ou já estão ocupadas por plantações de eucalipto
ou pecuária extensiva.
A professora Regina considera
que a quantidade de conflitos é agravada pela grande extensão
da área: sejam os problemas indígenas; sejam os relacionados
a assentamentos rurais; sejam os de caráter rural que envolvem
pecuária e agricultura; sejam os oriundos das indústrias de
beneficiamento; atrelados todos eles ao turismo, que se desenvolve
em larga escala e de forma pouco disciplinada ao longo da
costa e que também traz impactos significativos para uma área
com pouco nível de planejamento.
Em um dos mapas apresentados
na publicação, Raul Reis Amorim mostra a posição de áreas
estáveis como as da Mata Atlântica em que remanescentes de
genomas são preservados e que na verdade constituem os parques,
nem sempre suficientemente vigiados e controlados. Ele coloca
como muito críticas as áreas urbanas, principalmente a maior
delas: Porto Seguro. Distingue como críticas as monoculturas
de eucalipto e cacau que levam os sistemas à perda de funcionalidade
e provocam desequilíbrios por impedirem a proliferação de
espécies. Particularmente, os eucaliptos inibem a proliferação
de quaisquer espécies e ainda aguardam durante sete ou oito
anos o ponto de corte e, quando removidos, as máquinas provocam
a compactação do solo. Ele constatou ainda que, de acordo
com a legislação, o entorno das áreas de proteção ambiental,
particularmente parques, deve manter uma zona de transição
em que se desenvolvam atividades que amorteçam o impacto sobre
as reservas, o que não ocorre com eucaliptos e pecuária chegando
até seus limites.
Realizado em três anos, o
trabalho de Amorim recebeu financiamento da Capes e da Fapesp
e se valeu de arquivos de universidades e órgãos oficiais
que detêm dados sobre a região e utilizou imagens de satélites.
Em trabalhos de campo, ele confirmou as informações previamente
obtidas.
Consequências
A professora Regina enfatiza
a importância do Zoneamento Ambiental que possibilita a visão
do todo e da situação ambiental de cada área. Considera que
ações deste tipo devem ser orientadas para mitigar os impactos
detectados, o que depende da integração de órgãos federais,
estaduais e municipais. E como as atividades desenvolvidas
envolvem todos os municípios da região, os problemas não podem
ser resolvidos no âmbito de cada um deles.
O autor da tese acredita que
órgãos federais, estaduais e municipais de posse das sugestões
e conclusões apresentadas no trabalho podem facilitar ou impedir
novos empreendimentos utilizando critérios sugeridos pelo
Zoneamento Ambiental. Para ele, “com base nos resultados do
trabalho, os setores públicos e privados podem indicar e utilizar
os melhores locais para determinados tipos de atividades e
mesmo para a expansão das cidades, para que não ocorram problemas
a exemplo das extensivas plantações de eucaliptos ao longo
da BR-101, que determinam a chamada monotonia da paisagem”.
Conclusões
Os resultados do Zoneamento
Ambiental da Costa do Descobrimento revelam uma população
de apenas 185 mil habitantes distribuídos por um território
que ocupa 7. 552,5 km2 em uma região em que as atividades
econômicas apresentam grande diversidade com destaque no setor
primário para a pecuária extensiva, a produção agrícola de
coco-da-baía, mamão, café, cacau e cana- de-açúcar. A partir
de 1990, surgem atividades ligadas ao cultivo do eucalipto
e produção de celulose, além do fortalecimento crescente do
turismo.
O trabalho destaca a desproporcionalidade
entre as áreas em que predominam os geossistemas com parte
dos seus atributos naturais preservados e/ou conservados e
as áreas em que prevalecem elementos antrópicos. As áreas
ainda não protegidas por mecanismos legais, como as encostas
florestais, vegetação de Restinga e de Mangue, apresentam
forte tendência a transformações ambientais decorrentes do
crescimento populacional, da expansão urbana, da inserção
de culturas agrícolas, plantio de pastagens ou eucalipto e
da utilização de recursos naturais. A área distingue-se ainda
pela fragilidade ambiental porque muito plana durante as chuvas
dá origem a grandes inundações e deslizamentos de terra nas
escarpas litorâneas. Publicação Tese: “Análise geoambiental
como subsidio ao planejamento do uso e ocupação da Zona Costeira
da Região Costa do Descobrimento (Bahia)” Autor: Raul Reis
Amorim Orientadora: Regina Célia de Oliveira Unidade: Instituto
de Geociências (IG).
Publicação
Tese: “Análise geoambiental
como subsidio ao planejamento do uso e ocupação da Zona Costeira
da Região Costa do Descobrimento (Bahia)”
Autor: Raul Reis Amorim
Orientadora: Regina Célia de Oliveira
Unidade: Instituto de Geociências (IG)
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