RAQUEL
DO CARMO SANTOS
O
"Mini-Teste da Linguagem para o Neurologista",
desenvolvido pelo neurologista Benito Damasceno, professor
da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), foi
aplicado pelo médico Fabrício Ferreira de
Oliveira para identificar a localização exata
de lesão cerebral em 37 pacientes acometidos com
o primeiro acidente vascular cerebral isquêmico. Todos
os pacientes foram atendidos na fase aguda no Hospital das
Clínicas da Unicamp (HC), entre 2007 e 2008. Com
a aplicação do teste, Oliveira, que também
é neurologista, conseguiu resultados bem semelhantes,
quando comparados aos exames de imagens - como tomografia
computadorizada e a ressonância magnética -
tradicionalmente realizados para este objetivo. Em apenas
dois casos, a localização não correspondeu
ao esperado.
O neurologista explica que as alterações da
linguagem em pacientes com AVC podem estar relacionadas
a lesões tanto na parte frontal como em outras regiões
do cérebro. "Neste sentido, o teste se mostrou
eficaz para um diagnóstico rápido e preciso
do comprometimento da fala e linguagem nos casos de AVC
na fase aguda. Estes dois elementos - rapidez e precisão
- são fundamentais para o início do tratamento
com a maior brevidade possível e evitar complicações
no estado clínico do paciente", explica Oliveira,
que pelo estudo recebeu dois prêmios de relevância
nacional e internacional na área de neurologia.
Um dos prêmios foi oferecido pela Academia Americana
de Neurologia e publicado em março de 2009 na revista
AANnews. Fabrício Oliveira foi o único latino-americano
a receber o prêmio International Scholarship Award,
junto com outros 12 contemplados de várias partes
do mundo. O prêmio Roberto Melaragno Filho, também
obtido pelo neurologista, foi oferecido pela Associação
Paulista de Medicina e entregue durante o 7º Congresso
Paulista de Neurologia, realizado em junho último
no Guarujá. Ambas as premiações envolveram
a participação de seu orientador no estudo
de mestrado apresentado na Faculdade de Ciências Médicas,
professor Benito Damasceno.
No estudo, o neurologista observou que a taxa de mortalidade
nos pacientes que apresentaram afasia global, distúrbio
em que os componentes da linguagem são afetados de
maneira mais ampla, foi maior. Dos 37 casos, 11 desenvolveram
afasia global, sendo que cinco pacientes morreram durante
a internação. A evolução da
linguagem consistiu em outro ponto a considerar, pois transcorreu
de forma bem mais lenta para aqueles que apresentavam afasia
global. "Alguns pacientes demoravam até um ano
ou mais para voltar a falar", destaca.
É certo que as alterações da fala e
linguagem no paciente que sofreu o AVC consistem em um dos
fatores mais complexos nas doenças desta natureza.
Isto porque o processo de socialização do
indivíduo é interrompido e pode ser mais danoso
que o fato de não mais caminhar, por exemplo. Neste
sentido, o Mini-Teste da Linguagem poderia auxiliar os médicos
para aferir o grau de comprometimento e a região
do cérebro afetada.
O neurologista Fabrício de Oliveira realizou a pesquisa
entre 2007 e 2008 a partir do interesse em buscar conhecimentos
na área da chamada Neurologia Cognitiva. O médico
acompanhou os pacientes por pelo menos três meses
para fazer as análises que envolviam os componentes
de compreensão, repetição, nomeação,
fala espontânea e fluência. O teste consiste
em uma espécie de questionário que os pacientes
devem responder, sendo atribuída uma pontuação
de acordo com os acertos.
Os selecionados foram avaliados nas primeiras 72 horas,
pois era necessário que o AVC estivesse na fase aguda.
Também tinham que ter mais de 18 anos, e não
podiam apresentar doença cerebral prévia,
ou doenças sistêmicas graves (cardíaca,
pulmonar ou renal). Não poderiam ser alcoólatras
ou usuários de drogas. A idade média foi de
64 anos em um intervalo de 39 a 85 anos. A validação
do teste ainda não foi concluída, faltando
alguns itens para que a sua certificação esteja
completa. (R.C.S.)