Untitled Document
PORTAL UNICAMP
4
AGENDA UNICAMP
3
VERSÃO PDF
2
EDIÇÕES ANTERIORES
1
 
Untitled Document
 


O legado de Elza Freire

Pesquisa mostra contribuição da educadora
para teorias formuladas por Paulo Freire

Elza e Paulo Freire em diferentes momentos de uma convivência iniciada na década de 40: ideias compartilhadas .Elza Freire, mulher de Paulo Freire, foi mais do que a companheira de todas as horas do educador brasileiro. Como professora, ela despertou no marido a vocação para o trabalho com educação. Para além dessa contribuição, também colaborou de forma decisiva para a estruturação e sistematização da teoria do conhecimento formulada por Freire, cujos conceitos são conhecidos praticamente em todo o mundo. Estes e outros dados sobre a vida e a obra de Elza Freire estão na dissertação de mestrado intitulada "Pedagogia da Convivência - Elza Freire: uma vida que faz Educação", de autoria da educadora Nima Imaculada Spigolon. Segundo ela, "é impossível discutir a história da educação no Brasil, em particular a história da educação de adultos, sem analisar a atuação de Elza". O trabalho, apresentado na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, foi orientado pela professora Sônia Giubilei.

A pesquisa desenvolvida por Nima Spigolon foi classificada como original pelos membros da banca examinadora. Dois aspectos contribuem para esse entendimento. Primeiro, por trazer pela primeira vez para a academia a personagem Elza Freire, juntamente com a apresentação das fontes de pesquisa, com destaque aos seus manuscritos e iconografias. Até então, ela era apenas citada nos estudos em torno da obra de Paulo Freire, em fragmentos. "O meu interesse por Elza inicia-se na apropriação 'particular' que faço da obra de Paulo Freire, tendo em vista fundamentar a minha teoria e prática junto à educação de adultos, acompanhada de outros escritos em torno do pensamento freireano. Ao olhar mais atentamente para esses textos, percebi que Elza era presença constante, ou seja, estava intrínseca na obra de Paulo, ao participar de todo o processo político-pedagógico", explica a autora da dissertação.

Elza e Paulo Freire em diferentes momentos de uma convivência iniciada na década de 40: ideias compartilhadas .Outro aspecto inédito do estudo é a apresentação de uma teoria formulada por Nima Spigolon, batizada por ela de Pedagogia da Convivência, que foi referendada pela banca examinadora. Esta, de acordo com a educadora, teria fundado as bases para o método desenvolvido por Paulo Freire. Conforme a autora da dissertação, "conseguimos encontrar na formação intelectual e na atuação profissional de Elza informações que permitiram a identificação da educadora e de sua prática político-pedagógica, as quais se imbricaram ao pensamento freireano, marcado a partir do casamento. Isso denota que ao se estabelecer a pedagogia da convivência entre Elza e Paulo Freire, dá-se a consolidação das experiências com educação de adultos, o que nos remete à gênese dessa educação no Brasil".

A Pedagogia da Convivência, conforme a autora da dissertação, foi fundamentada nas categorias freireanas, às quais se agregaram às categorias surgidas com a pesquisa, denominadas de elzanianas. "Essa pedagogia tem como referência o pensar, o fazer, o falar e o sentir. Ela parte do princípio de que a convivência pelo encontro em si é uma relação que, por sua natureza, requer respeito e coerência. O que nós fizemos foi trazer essa reflexão para o contexto pedagógico, com critério acadêmico. Ou seja, é através dessa convivência e dos 'saberes diferentes' que o conhecimento é compartilhado, mediante o ensinar-aprender, pautado na amorosidade, criticidade e principalmente na conscientização", detalha Nima Spigolon.

Elza e Paulo Freire em diferentes momentos de uma convivência iniciada na década de 40: ideias compartilhadas .O período considerado na dissertação vai de 1916, ano de nascimento de Elza, a 1965, data em que ela se submete a exílio voluntário ao lado do marido. "Pretendo dar continuidade ao estudo em torno da vida e obra de Elza, abordando as fases em que ela permaneceu no exterior e de seu retorno ao Brasil. Para tanto, pretendo ampliar a discussão e a divulgação das fontes de pesquisa, de modo a promover uma profunda reflexão sobre o legado que ela deixou para a educação brasileira. Elza é o meu projeto de vida no âmbito acadêmico", adianta Nima Spigolon. Embora o trabalho de mestrado não tenha esmiuçado a questão da importância de Elza Freire para a educação nacional, a autora acredita que, a partir dele, é possível apontar contribuições da educadora para esta área, bem como fomentar o interesse de outros pesquisadores.

Segundo Nima Spigolon, Elza Freire foi uma das responsáveis, por exemplo, pela inserção da arte-educação na escola pública de Recife. Também foi uma das precursoras na formação de professores, trabalho que executou em Recife, Angicos, Brasília (Plano Nacional de Alfabetização) e São Paulo (Vila Helena Maria), ao demonstrar inovações de práticas de ensino. "Elza dedicou sua vida à educação. Defendia que a pessoa humana era algo concreto e não uma abstração. Assim, por amor e por acreditar na educação, Elza fez de sua experiência o trabalho libertador que se desdobrou em prol da humanidade", esclarece a autora da dissertação.

Em razão do comprometimento e da ação de Elza Freire no campo da educação, Nima Spigolon assevera que é possível, sim, pesquisar esta personagem histórica. Nesse sentido, a dissertação demonstra como Elza influenciou e contribuiu para a teoria do conhecimento formulada por Paulo Freire. "Assim, para melhor compreender a obra freireana e a própria história da educação no Brasil é necessário se levar em conta as contribuições de Elza". O próprio Paulo Freire, prossegue Nima Spigolon, sempre fez questão de registrar em seus trabalhos e escritos, ora na forma de dedicatórias, ora nas citações, as contribuições da esposa para o seu pensamento e a sua prática político-pedagógica.

Nessas referências, o educador reconhecia os atributos intelectuais e humanitários da companheira. Os próprios manuscritos de Elza, aos quais a pesquisadora teve acesso, são reveladores da ampla e sólida formação da personagem. "Nesse aspecto, cabe um agradecimento especial aos filhos de Elza e Paulo Freire, que me franquearam o acesso ao acervo da família. Eles foram muito generosos, estenderam a mão e abriram o coração. Mais do que disponibilizar documentos, eles compartilharam memórias", entende a autora da dissertação.

Biografia

A educadora Nima Imaculada Spigolon, autora da pesquisa: "Elza é o meu projeto de vida no âmbito acadêmico".  (Foto: Antoninho Perri). Elza Freire nasceu em junho de 1916, em Recife, capital de Pernambuco. De acordo com Nima Spigolon, ela teve uma formação bastante sólida. Após o ensino básico, completado em sua cidade natal, transferiu seus estudos para Olinda, matriculando-se na Academia Santa Gertrudes, escola confessional. Novamente em Recife, cursou a Escola Normal, tornando-se professora em 1935. Em seguida, buscando o aprimoramento profissional, inscreveu-se no Instituto Pedagógico, passando de aluna a professora. Aprovada em concurso público para a rede estadual, em 1943 exerceu o cargo de professora e diretora de escola, até licenciar-se sem remuneração para acompanhar Paulo Freire, com quem se casou na primavera de 1944, e os filhos no exílio voluntário. "Elza frequentou escolas de excelência", explica a pesquisadora, acrescentando que ao longo da sua formação a educadora conviveu com importantes intelectuais da época, o que a influenciou nas práticas pedagógicas, consolidando seu espírito crítico-solidário por intermédio de seu compromisso com as causas humanitárias.


 
Untitled Document
 
Untitled Document
Jornal da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas / ASCOM - Assessoria de Comunicação e Imprensa
e-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP