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Programa simula condições para
compra e venda de energia elétrica
Sistema permite que usuário opere
de forma eficiente no mercado
O desenvolvimento de um sistema computacional, que utiliza
ferramentas Excel e a modelagem das regras vigentes de comercialização
de energia elétrica ditadas pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), permite aos usuários comprar e vender energia,
sempre com o menor custo global da operação. O projeto, que
foi elaborado pelo engenheiro eletricista Marcelo Richter
Fernandez, possibilita simulações de várias condições de mercado
e uma avaliação do risco ao qual o usuário está exposto em
cada operação. A grande inovação revelada pela pesquisa, que
rendeu a Fernandez a sua dissertação de mestrado, defendida
na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Com- putação (Feec)
da Unicamp, está na possibilidade de operar de forma eficiente
no mercado livre de energia elétrica. A dissertação foi orientada
pelo professor Christiano Lyra Filho.
Criado em 1995, o mercado
livre surgiu com o propósito de permitir ao consumidor comprar
energia elétrica de qualquer fornecedor (gerador ou agente
comercializador), como uma alternativa a adquiri-la diretamente
da distribuidora ou transmissora local. O objetivo era diminuir
o preço para os consumidores finais – grandes empresas e indústrias.
Instituiu-se, portanto, a competitividade no setor.
Fernandez esclarece que, obviamente,
para poder receber essa energia é preciso estar conectado
à rede. A distribuição e a transmissão de energia são monopólios
naturais, portanto o consumidor livre continua conectado a
estas empresas e paga um “pedágio” para que essa energia chegue
até ele, chamada de Tarifa Fio. “Houve uma separação de fio
e energia”, comentou. Isso fez com que surgisse outro mercado
por meio do qual a energia pudesse ser contratada bilateralmente,
no preço, forma, quantidade e período que desejasse. A partir
daí, surgiram empresas comercializadoras de energia que compram
de geradores, além de outras, que montam um portfólio de contratos
e vendem essa energia para clientes, independentemente de
suas localizações.
Para poder fazer isso, Fernandez
– que atuou bastante tempo nessa área na Elektro – afirmou
que existe uma série de regras setoriais. É necessário, por
exemplo, que a empresa tenha energia contratada; é preciso
registrar todos os dados de compra, venda e consumo; e é fundamental
ter lastro de potência, o que significa que em um dado patamar
do dia é preciso ter energia para cobrir o pico do consumo
e, ainda, em um intervalo de 12 meses corridos a quantidade
de energia comprada deve ser igual ou superior à vendida ou
consumida. “Esse cenário de comercialização no dia a dia é
muito complexo”, assegurou.
Foi nesse momento que surgiu
a idéia de montar um sistema capaz de analisar todos os contratos
de compra e venda de energia e fazer a melhor alocação possível,
para maximizar resultados. “O sistema verifica a compra mais
barata e vende de maneira que o resultado seja maior. Esse
é o objetivo do projeto”, observou. Além disso, ele dissipa
algumas incertezas como, por exemplo, quanto, quando e de
quem comprar energia, uma vez que tanto consumo quanto expectativa
de preços de curto prazo são aspectos futuros.
A
ferramenta criada por Fernandez é capaz de executar simulações,
entre as quais: se no próximo mês, o custo da energia estiver
10% mais caro, o comercializador perde ou ganha dinheiro nas
operações?; e qual o impacto de uma nova compra ou venda no
resultado global do portfólio da empresa? Com esse cenário,
fica mais fácil tomar uma decisão.
O engenheiro contou que,
em dezembro de 2006, quando ainda atuava no setor, observou
perfis de consumo e de preço de curto prazo bastante peculiares.
“Se fizéssemos a operacionalização da comercialização da maneira
habitual, utilizando análises pontuais, teríamos um resultado
menor em cerca de R$ 400 mil”, revelou Fernandez.
O pesquisador ressalta que
o volume de energia transacionada no mercado livre representa
aproximadamente 25% do consumo total do Brasil.
Abertura
O engenheiro classificou a
abertura de mercado como um fato “bastante interessante”.
O custo da energia para a distribuidora é repassado 100% ao
cliente, ou seja, ela não ganha nem perde, está protegida.
Trata-se de um monopólio natural e a empresa precisa de receita
para poder operar e manter a rede funcionando. Por outro lado,
um gerador enxerga essa situação com dois olhos. Ele pode
vender energia para as distribuidoras dentro dos leilões,
nos quais o menor preço ganha e os contratos são de longo
prazo, vendidos e garantidos. Ou ele pode apostar numa expectativa
de preço no mercado futuro e operar no dia a dia. “A vantagem
é pegar preços altos e a desvantagem é que os preços podem
cair ou ainda, caso ele não consiga vender essa energia, terá
que liquidar no mercado de curto prazo”, assegurou Fernandez.
Por esse motivo é que a maioria
dos geradores assegura a venda, durante os leilões, para as
distribuidoras, uma vez que esse volume é garantido. No entanto,
é prática manter parte desse volume para comercializar no
mercado livre, porque também é um bom negócio.
Os clientes, segundo Fernandez,
veem isso como uma oportunidade de redução de custo, principalmente
por causa da competitividade existente dentro do mercado internacional.
Para grande parte dos consumidores que estão no mercado livre,
a energia é um dos principais insumos de produção. Por exemplo,
indústrias de eletrointensivos como papel e celulose e fundições,
ou têm plantas de cogeração ou partem para compra de energia
no mercado livre.
Com relação à competitividade
do preço do MWh, Fernandez afirmou que a energia produzida
no Brasil não é cara, principalmente se forem observados os
padrões internacionais. Obviamente que quando essa energia
chega ao consumidor, encarece muito em razão de uma série
de encargos e tributos no preço. “Geração hidráulica é boa,
porque o custo operacional é barato; por outro lado, o custo
de implantação é muito mais caro, leva muitos anos para ser
amortizado, além dos impactos ambientais e sociais em razão
das áreas alagadas”, disse.
Comercialização
Qualquer empresa que possuir
licença da Aneel para comercializar energia pode atuar no
mercado livre, uma vez que ele está bem regulado. A ideia,
segundo o pesquisador, é permi- tir aos agentes a busca por
eficiência e redução no custo de entrega. “O modelo que temos
privilegia o longo prazo pensando nas distribuidoras”, afirmou.
Apesar de ser um modelo que está buscando a competitividade
no curto prazo, é uma alternativa que mira o futuro, na busca
da melhor oferta. “Quando compro energia para daqui a cinco
anos, com prazo de 30 anos, estou garantindo um retorno financeiro
com um investidor que queira construir uma usina, por exemplo”,
garantiu.
Sobre a contribuição do trabalho,
o engenheiro garantiu não haver nada na literatura a partir
do foco dado na pesquisa – operacionalização da comercialização
no Brasil e no exterior. Existe, segundo Fernandez, uma série
de trabalhos nacionais e internacionais que exploram como
construir um portfólio de contratos, de maneira a minimizar
os riscos. No entanto, o ponto forte da sua pesquisa está
na maximização dos resultados de operacionalização deste portfólio.
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Publicação
Dissertação: “Contratação ótima para comercialização
de energia elétrica”
Autor: Marcelo Richter Fernandez
Orientador: Christiano Lyra Filho
Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica
e de Computação (Feec)
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