Uma planta piloto de desasfaltação desenvolvida
na Faculdade de Engenharia Química(FEQ) da Unicamp é promessa
de aprimoramento da avaliação de petróleos quanto ao seu
potencial para a produção de óleos lubrificantes por processos
de extração com solventes (rota solvente), principalmente
para os óleos do Pré-Sal que apresentem densidade maior
que 28 no grau API, referência do Instituto Americano de
Petróleo para avaliar a densidade do óleo. O principal resultado
da utilização do equipamento é a garantia de um processo
laboratorial de extração
que viabiliza a identificação dos petróleos cujo óleo desasfaltado
(Odes) final apresente propriedades adequadas para a produção
de óleos lubrificantes, entre as quais baixos teores de
metais, enxofre e asfaltenos. De acordo com os pesquisadores,
o novo processo também apresenta condições operacionais
e supercríticas que podem servir de base para as otimizações
das refinarias que realizam a rota solvente. A proposta
é chegar a um produto final com características próximas
ao obtido na refinaria.
A desasfaltação é um processo em que se extrai, através
de solvente, frações de lubrificantes de alta viscosidade
e de grande valor comercial contidas no resíduo do vácuo
do petróleo. Quando realizado em condição operacional supercrítica
do resíduo de vácuo, se mostra eficaz para a separação do
asfalto do óleo lubrificante em comparação com o processo
tradicional feito por meio da extração líquido-líquido,
utilizando éter de petróleo como solvente, conforme acentua
em sua tese Érika Koroishi Blini, uma das pesquisadoras
do projeto.
De acordo com Viktor Cárdenas Concha, outro pesquisador
envolvido no projeto, petróleos que contenham óleos com
essas características são muito importantes para a indústria
da área. Segundo o pesquisador, o óleo desasfaltado obtido
no laboratório apresentou características físico-químicas
interessantes, como elevado grau API, baixa porcentagem
de asfaltenos, baixo teor de metais e baixo resíduo de carbono,
o que confirma a eficiência do equipamento e do processo
em relação ao processo convencional de laboratório.
Dentro do conjunto de vantagens, além do fato de a planta
permitir que as análises sejam realizadas em âmbito laboratorial/piloto,
os pesquisadores destacam a versatilidade que a planta piloto
oferece para trabalhar com volumes maiores de amostras,
utilizar o solvente empregado na refinaria, proporcionar
operações em condições dinâmicas e possibilitar o estudo
da potencialidade de outros solventes, como água e dióxido
de carbono.
Cárdenas explica que o projeto foi concebido a partir de
uma necessidade do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento
Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) da Petrobras de
ter um equipamento de desasfaltação de porte laboratorial
que oferecesse parâmetros próximos da indústria. “O objetivo
era obter óleo desasfaltado em condições semelhantes ao
obtido na refinaria, viabilizando a caracterização do produto
e a consequente avaliação do petróleo”, explica Viktor Cárdenas.
O projeto foi desenvolvido sob orientação dos professores
Rubens Maciel Filho e Maria Regina Wolf Maciel. É coordenado
pela engenheira química Lilian Carmen Medina, da Cenpes/Petrobras,
e recebeu apoio da Finep e da Fapesp. A partir da cooperação
Unicamp/Cenpes-Petrobras/ Finep, vários pós-graduandos da
FEQ, entre eles Cárdenas e Erika, se envolveram no projeto
dedicando suas teses de doutorado, mestrado e pós-doutorado
ao desenvolvimento e aos testes com a planta piloto.
O estudo de Viktor Cárdenas apresentou um processo de extração
para desasfaltação em planta piloto, utilizando o propano
como solvente em diferentes condições operacionais que envolvem
a separação do resíduo de vácuo de petróleo em uma fração
de óleo desasfaltado e outra de resíduo asfáltico (Rasf).
Ele garante que o processo apresenta uma ampliação da atividade
de avaliação dos petróleos leves e médios e também pode
realizar estudos significativos relativos à valoração dos
petróleos pesados, sempre aplicado aos resíduos destes.
O
potencial do óleo desasfaltado obtido inicialmente na planta
piloto destinado à produção de óleo lubrificante foi confirmado
por meio de ensaios de caracterização, segundo Erika Koroishi.
Para chegar aos resultados comparativos entre o produto
da refinaria e do equipamento piloto, foi preciso caracterizar
a carga (resíduo de vácuo do petróleo) alimentada ao extrator,
assim como as duas correntes finais (Odes e Rasf) obtidas
do processo de extração, as quais confirmaram o potencial
da carga para produção de óleo lubrificante e de asfaltos,
respectivamente.
Os pesquisadores explicam que na avaliação do potencial
de petróleos para lubrificantes a partir do resíduo de vácuo,
são realizados quatro processos sequenciais em laboratório:
desasfaltação e desresinação por extração líquido-líquido
– utilizando éter de petróleo como solvente –, desparafinação
e desaromatização. As etapas desasfaltação/desresinação
demandam mais tempo de execução e de mão de obra, além de
apresentarem diferenças em relação ao industrial, já que
nas refinarias a desasfaltação ocorre a partir de extração
a propano.
De acordo com os estudos dos pesquisadores, o equipamento piloto propicia redução desse tempo do processo laboratorial, pois realiza a remoção de asfaltenos e resinas em um só processo. Viktor Cárdenas explica
que, tanto no laboratório como na refinaria, o Odes obtido na extração a propano passa pelos processos de desaromatização e desparafinação, para que o óleo lubrificante seja obtido,
mas na refinaria ainda acontece o processo de hidrotratamento, para sua purificação e enquadramento dentro das especificações comerciais.
Érika ressalta que dificilmente são encontrados equipamentos que possam representar o processo de desasfaltação em nível laboratorial/piloto. De acordo com ela, que avaliou a planta piloto em sua tese de doutorado, para obtenção dos resultados o grupo de desasfaltação teve que ajustar e modificar para aplicação a petróleo a planta piloto inicialmente adquirida. Ela pontua que todas as alterações realizadas na unidade resultaram em atingir um melhor desempenho da planta, bem
FEQ desenvolve planta piloto para
a produção de óleos lubrificantescomo melhores resultados finais. A montagem do protótipo durante a pesquisa contribuiu para o entendimento
do funcionamento detalhado do equipamento. Sem as modificações,
não seria possível colocar o equipamento em operação. “A participação
na adaptação e montagem do equipamento contribuiu para o pleno conhecimento da unidade, possibilitando a proposição de modificações
para solucionar os problemas apresentados durante os testes de pré-operação, agregando um conhecimento
de grande valia” declara Erika Koroishi.
A planta piloto de desasfaltação
supercrítica foi desenvolvida para ser operada a altas pressões.
As mudanças foram de grande importância,
segundo Érika, pois os pesquisadores aplicaram conhecimentos básicos e de formação da engenharia química para o desenvolvimento da configuração final da planta piloto. Paralelamente ao desenvolvimento do equipamento, estudos de princípios fundamentais dos sistemas foram realizados visando à caracterização dos sistemas e o desenvolvimento de uma planta virtual de desasfaltação.
Enxofre
Segundo Cárdenas, a caracterização do produto Odes indicou
um baixo de teor de enxofre e metais, o que o torna interessante,
já que cada vez mais há uma preocupação das refinarias em
obter produtos livres de enxofre, devido a seu alto poder
de contaminação. Ele observou que a quantidade de metais
na corrente de Odes teve uma diminuição significativa quando
comparada com a matéria prima alimentada e constatou que
estes metais ficaram concentrados na corrente de fundo,
o Rasf, mostrando que a planta piloto operada sob as condições
operacionais adequadas leva a uma elevada seletividade,
que deve servir como base para as otimizações do processo
industrial.
Em paralelo, as significativas reservas de óleos pesados do Brasil levam à necessidade de melhor aproveitamento de correntes mais pesadas, de valor agregado relativamente mais baixo, como os resíduos de vácuo e motivaram a Petrobras a intensificar pesquisas e desenvolver metodologias de caracterização e processos de valoração para estes óleos e correntes, visando obter derivados com especificação
e qualidade adequadas, segundo
os pesquisadores. Desta maneira, torna-se imprescindível realizar a caracterização
do petróleo por meio de um conjunto de análises específicas, conhecida internacionalmente como crude assay. Estas análises permitem que se conheçam as propriedades dos óleos e, assim, que se definam seu potencial
de produção de combustíveis, lubrificantes e asfalto.
Laboratório
Para intensificar ainda mais as pesquisas na área de valoração de petróleo, a Petrobras investiu R$ 5,6 milhões no projeto, que envolve a construção de um prédio de 850 metros
quadrados de área útil, que ocupa um terreno na Unicamp de 2.500 metros quadrados, em vias de finalização,
que deverá abrigar o Laboratório
de Processos Intensificados para Avaliação e Valoração de Petróleos (Valpet). Para as obras foi destinado o valor de R$ 1,6 milhão da verba.
A escolha, pela Petrobras/Finep, do grupo de pesquisadores do Lopca deve-se à experiência da equipe com o processo de destilação molecular e processos de separação em geral. Com a implantação da Lei de Participação Especial (LPE) da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que orienta as empresas de petróleo a aplicarem 1% dos recursos dos royalties de petróleos em pesquisa e desenvolvimento, foi possível pensar
o projeto para investir os recursos iniciais básicos para a instalação do laboratório, de acordo com o professor
orientador Rubens Maciel Filho.
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Artigos
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