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Pesquisador desenvolve técnicas para
gerenciar redes de comunicação sem fio
Engenheiro eletricista utiliza, em
trabalho, conceitos da Teoria dos Jogos
Tecnologia largamente utilizada no mundo
todo, a comunicação sem fio através de redes necessita – para
o seu bom funcionamento e também para sua evolução – de um
gerenciamento eficaz de interferência. Foi nesse sentido que
o engenheiro eletricista Fabiano de Sousa Chaves desenvolveu
uma pesquisa, cujas principais contribuições se dão no contexto
de duas importantes técnicas: o controle de potência de transmissão
e a equalização de canal, utilizando conceitos da Teoria dos
Jogos. Por meio de uma cooperação internacional entre a Unicamp
e a École Normale Supérieure de Cachan (ENS-Cachan), patrocinada
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp) e pelo Centre National de La Recherche Scientifique
(CNRS), o doutorado de Chaves evoluiu para uma tese em cotutela
com a instituição francesa.
Orientado
pelo professor João Marcos Travassos Romano, da Faculdade
de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec), Chaves atua
nesse tema desde seu mestrado, realizado na Universidade Federal
do Ceará. No caso do controle de potência, o pesquisador já
havia utilizado um ramo da Teoria dos Jogos, chamado Jogos
Estáticos, com uma formulação mais simples, de fácil entendimento
e aplicação. No entanto, era de seu interesse a aplicação
dos Jogos Dinâmicos, cujas características abrem novas frentes
de pesquisa não só para esse problema como também para vários
outros em telecomunicações.
Apropriadamente,
os parceiros franceses, professores Hisham Abou-Kandil e Mohamed
Abbas-Turki, são especialistas em Teoria dos Jogos, em particular,
Jogos Dinâmicos, e em Controle Automático. Dessa maneira,
foi possível chegar a formulações matemáticas dos problemas
de telecomunicações adequadas à aplicação de soluções já existentes
na teoria.
No que
diz respeito à técnica de equalização de canal, Chaves, que
é hoje pesquisador do Instituto Nokia de Tecnologia (INdT),
explicou que essa parte foi desenvolvida essencialmente nos
laboratórios da Unicamp. A ideia, de acordo com o pesquisador,
foi modificar uma solução já consolidada na área da filtragem,
chamada de filtro H-infinito, que é voltada para a questão
da robustez, ou seja, é capaz de funcionar bem em situações
não previstas com precisão. “A equalização robusta H-infinito
é apropriada em situações em que imprecisões ou incertezas
nos modelos que representam o sistema são tais que as soluções
convencionais sofrem séria degradação de desempenho”, afirmou.
Por outro
lado, trata-se de uma solução muito conservadora, na opinião
do autor. Se as imprecisões nos modelos não são significativas,
as soluções convencionais para a equalização apresentam desempenho
superior à equalização H-infinito. A ideia, então, foi reunir
as duas soluções – a convencional e a robusta – de maneira
a aproveitar as duas características desejáveis, associando
a precisão à robustez. Foram, portanto, propostas duas novas
maneiras de combinar as soluções para equalização de canal.
Com relação
ao controle de potência, o interesse maior está em prover
altas taxas de transmissão e, ao mesmo tempo, permitir a conexão
simultânea de um grande número de usuários na rede. Para Chaves,
os dois objetivos são antagônicos porque os recursos da rede
são limitados, e se alguns usuários utilizam uma grande quantidade
dos recursos, a capacidade da rede em termos de número de
usuários é diminuída. Portanto, nesse caso, o enfoque é encontrar
um compromisso para os dois objetivos. “Desenvolvemos vários
algoritmos derivados da Teoria dos Jogos e da Teoria do Controle
para chegar a esse compromisso, alguns deles voltados para
a questão da robustez, outros para a flexibilidade com relação
ao perfil do usuário”.
Na opinião
do engenheiro, de certa forma esse trabalho é bastante inovador,
pois dificilmente o compromisso entre o número de usuários
de uma rede e a taxa de transmissão é tratado de forma tão
clara. “É o que chamamos de controle de potência oportunista.
É um conceito relativamente novo em termos de algoritmo”,
explicou Chaves. Segundo o autor, foi difícil fazer comparações
com outras soluções porque não se encontrou nenhuma solução
que se encaixasse no mesmo perfil. Então, foi necessário fazer
comparações com algoritmos que buscam simplesmente aumentar
o número de usuários e outros que buscam aumentar a taxa de
transmissão.
Chaves
ressaltou que a interferência em sistemas de comunicação é
algo que está e estará sempre presente. Um bom exemplo são
as redes celulares. Trata-se de um sistema de alta capacidade
com recursos limitados, os quais são compartilhados entre
todos os usuários do sistema, o que causa a interferência.
“A nossa missão é desenvolver algoritmos que minimizem essa
interferência de um usuário no outro”, citou.
Simulação
Na área de telecomunicações há uma dificuldade natural de
colocar em prática soluções desse tipo, uma vez que dificilmente
se dispõem de redes de alta capacidade para testes. O mais
comum nesses casos é desenvolver simuladores computacionais
nos quais se faz uma modelagem da rede com todos os seus elementos
– transmissores, receptores e canais de propagação – e depois
são lançadas simulações com configurações variadas. Através
da obtenção dos resultados de simulação computacional é possível
fazer a comparação entre diferentes algoritmos e abordagens,
além de estimar o seu desempenho em sistemas práticos.
Foram propostas então, tanto
para o caso do controle de potência de transmissão quanto
para a equalização de canal, modelagens do sistema de comunicação,
incluídas aí abordagens distintas e comparações entre os diferentes
casos. A plataforma de simulação adotada por Chaves é bastante
utilizada no mundo todo e é apropriada para esse tipo de aplicação,
em que se tem como objetivos a modelagem de sistemas e a proposição
e/ou avaliação de diferentes soluções. “A plataforma de simulação
nos dá um grande suporte, com uma linguagem de programação
simples, mas todo o trabalho de concepção dos simuladores,
com a implementação dos modelos e soluções, é de nossa responsabilidade.”,
garantiu Chaves.
Cotutela
Sobre o desenvolvimento da tese no âmbito de duas instituições
diferentes, Chaves afirmou que, antes de tudo, isso reflete
a multidisciplinaridade do trabalho. No seu caso, o orientador,
que é docente da Unicamp, é da área de processamento de sinais
e tem maior interesse no problema da equalização de canais.
Já com relação aos colaboradores da França, o pesquisador
disse que eles são especialistas em Controle Automático e
Teoria dos Jogos, ferramentas fundamentais em suas abordagens
para o controle de potência.
Com relação à experiência
da cooperação internacional, o pesquisador apontou que todos
saem ganhando do ponto de vista técnico, porque a internacionalização
das universidades é um caminho sem volta. “Os programas de
cotutela são um passo à frente para se conquistar um nível
mais alto de internacionalização das universidades. Além disso,
do ponto de vista do aluno, o contato com profissionais de
reconhecida competência em outros países abre um leque de
possibilidades que vão desde a consolidação do aprendizado
até a formação de parcerias internacionais duradouras para
pesquisa e desenvolvimento”, lembrou.
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Publicação
Tese: “Controle de potência oportunista e equalização
robusta em redes de comunicação sem fio: enfoques via controle
automático e teoria dos jogos”
Autor: Fabiano de Sousa Chaves
Orientador: João Marcos Travassos Romano
Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica
e de Computação (Feec)
Fonte de financiamento: Fapesp
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