O
nome do ornitólogo e docente da Unicamp Jacques Marie Edme
Vielliard, falecido no final do ano passado, não carece
de referências que o marquem na história da bioacústica
mundial. Mas assim o quis o seu ex-aluno Ariovaldo Antônio
Giaretta, atualmente professor da Universidade Federal de
Uberlândia (UFU). Ele acaba de publicar, na revista internacional
Zootaxa, a descoberta de uma nova espécie de anfíbio, que
foi chamada cientificamente de Proceratophrys vielliardi.
Trata-se de um anuro, nome técnico dado a anfíbios da família
dos sapos, rãs e pererecas.
O anfíbio é o segundo da espécie Proceratophrys
descrita na região central brasileira. Ele foi coletado
no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, em Goiás. “Por
comparações acústicas e morfológicas, concluímos que era
uma espécie que ainda não existia. E quando você faz uma
descoberta de uma nova espécie você pode, entre as muitas
possibilidades, dedicar o nome científico a alguém em forma
de homenagem. Então, este é um reconhecimento ao professor
Jacques, que foi uma pessoa com quem convivi e de quem gostava
muito”, explica o pesquisador.
Criador
do laboratório de bioacústica da Unicamp na década de 1970
– o primeiro da América Latina -, Vielliard pesquisou extensivamente
os sons da fauna brasileira, incluindo os sapos, lembra
Ariovaldo. “O impacto do trabalho do professor Jacques para
o conhecimento da biodiversidade é enorme. Ele tem um reconhecimento
muito grande na comunidade biológica”, ressalta.
Responsável pelo quinto maior acervo do
mundo, com cerca de 30 mil sons de pássaros e animais, Vielliard
gerou, com seu trabalho, uma base de dados que poderá ser
explorada por muito tempo, conta Giaretta. “Há muita coisa
guardada e que ainda não foi pesquisada. Isso é muito importante
porque, em muitos casos, a possibilidade de coletar o dado
novo já não existe mais. Então, o trabalho de Vielliard
será explorado por futuras gerações. Para se ter uma ideia,
no momento, nós nem conseguimos estimar a proporção deste
legado para a bioacústica”, diz, referindo-se ao acervo,
que passa por processo de digitalização no Instituto de
Biologia (IB) da Unicamp
Ex-pesquisador
da Unicamp, com mestrado e doutorado em ecologia pelo IB,
Giaretta conta que o ornitólogo Vielliard viajou praticamente
o país inteiro recolhendo vocalizações da fauna nacional.
“Ele tinha muita disposição física e percorreu todo o Brasil
com um gravador que pesava 5 quilos. Eu trabalhei com equipamentos
emprestados por ele. Na época, esses equipamentos eram caríssimos.
E o Jacques mostrou um enorme desprendimento
material”, recorda.
Em 1998, o pesquisador Ariovaldo Giaretta descreveu uma
espécie de rã de pequeno porte, considerada um dos menores
vertebrados terrestres. Na época ele decidiu homenagear
o professor e botânico da Unicamp Hermógenes de Freitas
Leitão Filho –falecido em 1996–, com o nome Brachycephalus
hermogenesi.