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Arquiteta projeta ‘casa’ para
vítimas de desastres naturais
Habitação para situações emergenciais
pode ser acondicionada em espécie de maleta
Dois
dias após as chuvas terem alagado o município de São Luiz
do Paraitinga – cidade turística no interior do Estado de
São Paulo –, em janeiro de 2010, mais de cinco mil pessoas
não tinham como voltar pra casa. Os danos materiais deixaram
milhares de desabrigados que precisaram buscar acolhida em
locais improvisados oferecidos pelas autoridades. A tragédia
foi o ponto de partida da arquiteta Giovana Savietto Feres
para desenvolver um projeto de habitação efêmera para situações
emergenciais.
O projeto consiste em construções
pré-fabricadas e desmontáveis, feitas de polietileno de alta
densidade – o mesmo material usado em dutos de ar condicionado
–, com boa resistência e que oferece conforto térmico e acústico
para os seus usuários, sem necessidade de se utilizar argamassa
ou cimento. Pelo projeto, os módulos são individuais e transportados
em uma espécie de maleta para serem usados quantas vezes forem
necessárias em situações de emergência. Poderiam ser instalados
em um local, longe do perigo dos desastres naturais, para
abrigar as vítimas por um período determinado. Segundo apurou
a arquiteta, em média, 50% dos acampamentos emergenciais duram
mais de cinco anos, enquanto apenas 25% permanecem menos de
dois anos.
“A ideia é implantar um bairro
novo e provisório para o primeiro socorro das vítimas, mas
mesmo assim seria dotado de toda infraestrutura para que morassem
com relativo conforto e sem ter que recorrer às escolas e
ginásios ou às barracas improvisadas e desprovidas das necessidades
básicas”, explica Giovana, que visitou várias vezes São Luiz
do Paraitinga para fundamentar seu trabalho.
O
projeto foi apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC), na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo
(FEC), em dezembro último. Orientado pelo professor Leandro
Medrano, o TCC arrancou elogios da banca examinadora, formada
por especialistas na área. “O assunto é novo no Brasil e o
tema surpreendeu os professores por ser inusitado. Além disso,
trata-se de um problema real no país. Giovana conseguiu uma
solução simples e factível”, salienta Medrano. Segundo ele,
por sugestão da banca, será construído um protótipo da habitação
para ser apresentado ao Ministério das Cidades, como proposta
a ser implantada no Brasil.
Medrano lembra que, segundo
a Organização das Nações Unidas (ONU), o número de desastres
naturais passou de uma média de 50 por ano, na década de 1960,
para 165 por ano na década de 1980. Ademais, estima-se que
são cerca de 1,7 bilhão de pessoas afetadas nos anos 90. “É
certo que os fenômenos vão continuar acontecendo, e a arquitetura
pode buscar soluções para auxiliar os desabrigados de eventos
como terremotos ou enchentes. A proposta apresentada é viável,
além de sustentável”, elogia.
Mesmo
sendo um projeto inicial, o abrigo emergencial portátil apresenta
uma riqueza de detalhes grande e uma preocupação com a preservação
do meio ambiente. Tudo foi pensado como forma de solucionar
as questões de espaço e oferecer praticidade para ser montado
em poucas horas. Os cômodos, por exemplo, foram projetados
para abrigar famílias de quatro, seis ou oito pessoas, podendo
perfeitamente ser montados por apenas duas pessoas. O módulo
para quatro pessoas, por exemplo, possui em torno de 16 metros
quadrados. Ademais, há possibilidade de ser adaptado para
abrigar escolas, posto de saúde e outras instalações necessárias
para proporcionar uma estadia adequada aos desabrigados por
um período de cerca de um ano.
O piso, feito de material
reciclado à base de pneu, aumenta a sustentabilidade do projeto.
Já as camas seriam dobráveis no formato leito, como os de
carros de passageiros de trens. A habitação teria ainda uma
bancada para acomodar a pia e fogão elétrico. O banheiro seria
químico, semelhante àqueles utilizados na construção civil.
Todo o projeto de instalação hidráulica e elétrica também
seguiria o modelo sustentável, com utilização de energia eólica.
Os módulos podem ser agrupados e formados em torno de uma
praça central, destinada ao lazer dos moradores, à semelhança
do que ocorre em um bairro planejado.
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