No
início, em 2002, era apenas um grupo com seis praticantes
que se desdobravam no aprendizado da esgrima em cadeira
de rodas no Centro Universitário Hermínio Ometo, em Araras.
A atividade, praticamente desconhecida no Brasil, esbarrava
nas dificuldades de falta de incentivo e a inexistência
de equipamentos adequados. Ademais, havia o preconceito
dos praticantes da esgrima convencional em relação à pessoa
com deficiência.
Desde então, muita coisa
mudou no panorama da modalidade no país. O idealizador de
todo este projeto, o mestre d’armas – nível de graduação
de quem ministra a esgrima –, Valber Lazaro Nazareth passou
a dedicar tempo e estudo a propostas, análise e implementação
de técnicas pedagógicas para o ensino da modalidade para
pessoa com deficiência, o que rendeu bons resultados em
sua tese de doutorado defendida na Faculdade de Educação
Física (FEF).
Para além da pesquisa, o
envolvimento de Nazareth e do seu orientador, professor
Edison Duarte, na militância pela modalidade foram tão grandes
que a prática se expandiu. Atualmente, a esgrima em cadeira
de rodas conta com cerca de 40 praticantes em todo Brasil
e faz parte dos projetos esportivos de desenvolvimento internacional
do Comitê Paraolímpico Brasileiro. Longe de chegar aos mais
de 500 esgrimistas convencionais, a atividade adaptada,
no entanto, pode ser considerada na opinião de Nazareth
como definitivamente implantada no país. Além do que, Valber
é coordenador da modalidade no Comitê Paraolímpico Brasileiro
e o professor Edison Duarte atua como classificador de categorias
no International Wheelchair Fencing Committee.
“As
iniciativas começaram tímidas, mas hoje as perspectivas
são amplas. Quase 90% dos professores que atuam em clubes
e academias no ensino da esgrima convencional com pessoas
sem deficiência, estão capacitados para atuar também junto
à pessoa com deficiência. Temos a organização institucional
estabelecida através de núcleo representativo e, ainda,
dispomos de equipamentos adequados que permite a prática
com segurança”, destaca.
A tese de doutorado de Valber
discute a esgrima em cadeira de rodas a partir de três dimensões.
No primeiro momento, ele faz um estudo preliminar do comportamento
combativo do praticante da esgrima em cadeira de rodas,
na tentativa de estabelecer o perfil técnico e tático de
jogo destes indivíduos na modalidade. Esta primeira fase
é analisada por Valber no ano de 2006, durante o seu estágio
de doutorado no exterior realizado no Instituto Nacional
de Educação Física da Catalunha, em Barcelona na Espanha.
Num segundo momento, o trabalho
caminha para um resgate histórico da esgrima desde a antiguidade
na forma de arte bélica até chegar aos nossos dias como
um esporte moderno Olímpico e Paraolímpico. O pesquisador
discorre sobre a história da esgrima em cadeira de rodas
no Brasil, fazendo um recorte no período de 2002 a 2008
e, por último, foca a pedagogia de ensino da esgrima, dando
ênfase à adaptação dos procedimentos de ensino da esgrima
convencional para praticantes com deficiência física.
Com a conclusão de seu estudo
de doutorado, Valber agora trabalha sobre o projeto de um
livro e artigos, uma vez que a investigação desenvolvida
na Unicamp consiste em todo um conhecimento acumulado sobre
esta modalidade desde seu surgimento no Brasil. “A esgrima
em cadeira de rodas nasce primeiramente na Universidade,
pelo interesse dos próprios praticantes com deficiência
e independentemente do universo da esgrima convencional.
Com isso, notamos que gradativamente os espaços de prática
do esporte, antes aberto somente a pessoas sem deficiência,
também estão começando a fomentar a esgrima adaptada para
as pessoas com deficiência”, argumenta.
A Paraolimpíada, em 2016,
confirmada para acontecer no Rio de Janeiro, é outro alvo
para a formação de uma equipe brasileira de esgrima adaptada.
Para Nazareth, é difícil prever se haverá resultados excepcionais,
mas a expectativa é galgar mais um passo em direção à representatividade
do esporte. “Planejamos uma classificação internacional
para que os atletas participem da Paraolimpíada em 2014
e, para 2016, a esperança é alcançar um bom desempenho”,
avalia. Já quanto aos trabalhos práticos na Unicamp, para
2010 será oferecida tanto a modalidade convencional como
a adaptada para a comunidade universitária.