Da prancheta
para as pistas
30/10/2009
– Um veículo concebido a partir de processos inovadores,
como a prototipagem rápida, e que faz de 0 a 100 km/h em
apenas 4 segundos. Estas são algumas das características
do protótipo construído por uma equipe formada por 30 alunos
da Faculdade de Engenheira Mecânica (FEM) e Faculdade de
Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp para
participar da sexta edição da Competição Fórmula SAE Brasil-Petrobras,
que acontecerá entre os dias 6 e 8 de novembro, no campo
de provas da Goodyear, em Americana, interior de São Paulo.
O carro, desenvolvido ao longo do último ano e batizado
de F-2009, foi apresentado na noite do último dia 29, em
evento realizado na Casa do Lago. A prova faz parte de um
calendário internacional da Fórmula SAE, denominado Fórmula
SAE Series. Ao todo, 20 equipes participarão da parte brasileira
da competição.
Esta será a terceira
vez que a equipe da Unicamp disputará o certame. Em 2007,
o grupo ficou na sexta colocação geral e ganhou o prêmio
de melhor equipe estreante. Em 2008, os estudantes da Universidade
destacaram-se nas provas estáticas, o que lhes valeu a vitória
no quesito apresentação de projeto, além da quinta colocação
geral. “Este ano pretendemos ir além. Nosso objetivo é ficar
entre os três primeiros colocados. Se tudo correr bem, poderemos
até mesmo brigar pelo título”, adianta o diretor de marketing
da equipe, Pedro Moutinho. De acordo com ele, o terceiro
protótipo desenvolvido pelo grupo apresenta evoluções em
relação aos dois anteriores. O estudante explica que o projeto
foi baseado em três conceitos: performance, confiabilidade
e design funcional.
Para chegar a um veículo
que se enquadrasse nesses parâmetros, os alunos da FEM e
FEEC tiveram muito trabalho. “Para viabilizar o projeto
nós tivemos que fazer uma série de pesquisas e testes. Além
disso, tivemos que planejar a equipe como se ela fosse uma
pequena empresa, uma vez que também precisamos buscar apoios
e patrocínios. Partimos de algumas ideias e fomos obrigados
a nos movimentar para viabilizá-las”, completa Moutinho.
Segundo o capitão da equipe, Érico Ribeiro Fernandes, o
protótipo construído pelo grupo tem tudo para ser competitivo.
Ele explica que o carro foi desenvolvido com recursos e
materiais de última geração.
Um exemplo foi o uso
da técnica da prototipagem rápida. Dito de modo simplificado,
o processo consiste na fabricação de peças e componentes
por meio de informações geométricas fornecidas por um programa
de computador, dispensado dessa forma o emprego de moldes
e ferramentas. Também foram utilizados na montagem do F-2009
materiais compósitos, como fibras de carbono e vidro. “Penso
que chegamos a um carro bastante interessante em termos
de engenharia. Mas tão importante quanto esse resultado
foi ter tido a oportunidade de colocar em prática o que
aprendemos em sala de aula”, analisa Fernandes. Para o diretor
da FEM, professor Anselmo Eduardo Diniz, atividades como
a Fórmula SAE são muito importantes para o desenvolvimento
dos estudantes de engenharia.
Ele destaca que além
de colocarem em prática o que aprendem na teoria, os jovens
também têm a chance de exercitar a criatividade, aprender
a trabalhar em grupo e adquirir experiência em planejamento.
“Tudo isso é muito importante para a formação dos alunos,
pois essas competências serão exigidas deles no mercado
de trabalho. Na sala de aula, o aprendizado é importantíssimo,
mas é dirigido. As respostas podem ser encontradas nos livros.
Mas numa montadora de automóvel, por exemplo, as soluções
nem sempre podem ser encontradas prontas, como eles descobriram
ao longo do projeto. Eu lamento não ter tido a oportunidade
de participar desse tipo de atividade no meu tempo de estudante”,
afirma.
Orientador da equipe,
o professor Kamal Abdel Radi Ismail diz que ficou muito
satisfeito com o trabalho realizado pelos alunos. No seu
entender, o F-2009 apresentou soluções extremamente interessantes.
“Os estudantes fizeram um belo trabalho. Acho que o veículo
é competitivo e vou torcer para que ele ganhe a disputa.
Mas mesmo que isso não ocorra, esses jovens já são vitoriosos,
pois demonstram não apenas criatividade, mas uma grande
capacidade de trabalhar em grupo e de planejamento. Espero
que a experiência deles sirva de incentivo para que mais
alunos decidam participar das próximas edições da Fórmula
SAE”
Das 20 equipes que
participarão das provas entre os dias 6 e 8, 19 são brasileiras,
originárias de seis estados do país, e uma venezuelana.
Em 2008, foram 15. Ao todo, 250 estudantes de engenharia
estarão representados na competição. As equipes que alcançarem
o primeiro e o segundo lugares ganharão a oportunidade de
concorrer na etapa internacional da Fórmula SAE, que envolve
equipes de todo o mundo e que será realizada nos Estados
Unidos. De acordo com o capitão do grupo da Unicamp, a competição
não se resume ao desempenho dos carros na pista. “Os organizadores
também avaliam, entre outros, itens como segurança, custos
e estratégia de marketing”, detalha Fernandes.
Para a SAE Brasil,
entidade promotora da prova no país e que representa os
engenheiros da mobilidade, o crescimento do número de equipes
em 2009 é fruto da contribuição que o Projeto Fórmula SAE
oferece ao complementar a formação acadêmica e aproximar
os participantes do ambiente profissional, que é o mundo
do automobilismo. “Exemplo disso é que já temos ex-participantes
da competição atuando em equipes de F1, Stock Car e Porsche
GT3 Cup Challenge Brasil, e a expectativa é que cada vez
mais estudantes consigam atingir seus objetivos”, diz Leandro
Siqueira, diretor geral do Comitê Organizador Fórmula SAE.
Siqueira destaca,
ainda, o desempenho que as equipes brasileiras apresentam
nas competições da SAE International. Este ano, a equipe
do Centro Universitário da FEI, de São Bernardo do Campo,
SP, conquistou a 10ª colocação na Fórmula SAE Michigan,
nos EUA. Na competição, que reuniu 97 projetos de países
como Japão, Canadá, Venezuela, Coréia do Sul, Singapura,
Áustria e Estados Unidos, apenas 33 equipes conseguiram
completar todas as provas, uma delas a da FEI.
(Manuel
Alves Filho)