Que
a reciclagem do PET é a melhor alternativa para o país em
termos ambientais e econômicos não se tem mais dúvidas.
O que, por enquanto, se desconhece é até que ponto a utilização
do PET reciclado na composição de embalagens para alimentos
seria realmente segura. A partir da resolução 20/2008, da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2010,
será permitido às indústrias a associação do PET reciclado
e virgem para fabricação de embalagens para comportar alimentos.
Isto quer dizer que parte do material reciclado estaria
em contato direto com o produto. Neste sentido, pesquisadores
do Instituto de Química (IQ) já se adiantaram e desenvolveram
uma metodologia para aferir a qualidade do produto, inclusive
quantificando a presença de PET reciclado nas embalagens.
Segundo o autor da pesquisa,
Wanderson Romão, a polêmica é com relação ao risco de uma
possível contaminação dos produtos alimentícios, caso os
critérios mínimos não sejam respeitados. “A utilização da
resina pós-consumo do PET para embalar alimentos, bebidas
ou fármacos é bastante discutida, uma vez que as garrafas
PET utilizadas, muitas vezes, vão parar em aterros sanitários
ou misturadas no lixo comum. Com isso, alguns metais podem
migrar para a resina e não ser suficientemente descontaminado
dependendo do processo de reciclagem”, explica.
Até então, apenas a resina
denominada virgem era permitida para a fabricação das embalagens
PET, sendo que a resina pós-consumo tinha o seu uso proibido
e não poderia ser utilizada em hipótese alguma para a fabricação
de embalagens para alimentos. Em 1998,o Ministério da Saúde
permitiu a utilização para acondicionamento de bebidas carbonatadas
não alcoólicas, como é o caso do refrigerante. Recentemente,
em março de 2008, a Anvisa baixou a resolução com requisitos
gerais e critérios para a composição das embalagens utilizando
o PET pós-consumo reciclado e descontaminado para o próximo
ano.
O PET é o quarto polímero
mais fabricado no Brasil e sua principal aplicação é na
indústria de embalagens que soma 71%. Cerca de 60% dessas
embalagens são recicladas, ou seja, é o polímero mais reciclado
no país. A principal destinação é a exportação para outros
países, cujo uso mais significativo é na indústria têxtil,
na fabricação de camisas, meias e sacolas. Por isso, a pesquisa
desenvolvida por Wanderson Romão também encontra outra aplicabilidade,
pois o método garantiria a qualidade e assim facilitaria
a venda para o mercado externo. “Na Europa, por exemplo,
é preciso garantir que o PET vendido é 100% reciclado. Eles
não aceitam de maneira nenhuma produto misturado à resina
virgem por questões de impactos ambientais”, esclarece.
Romão iniciou o desenvolvimento
da metodologia única no país, em 2007, orientado pelo professor
Marco-Aurélio De Paoli, quando a utilização da resina pós-consumo
ainda era proibida pelas autoridades. Parte do estudo foi
em parceria com o Laboratório Thomson de Espectrometria
de Massas e com o Grupo de Espectroscopia de Raios-X, ambos
do Instituto de Química. Naquela época, o estudo encontrava
maior aplicação para a fiscalização de embalagens contendo
PET reciclado. Com as novas resoluções, o método continua
importante ferramenta fiscalizadora por permitir controlar
a qualidade final do produto a ser oferecido ao consumidor.
Em apenas 15 segundos, a partir de procedimentos de extração,
é possível mapear e construir mecanismos de detecção dos
oligômeros, substâncias presentes apenas no PET, usando
medidas de espectrometria de massas. Quando o material é
reciclado essas substâncias desaparecem e consegue-se saber
o histórico do material, a qualidade, a porcentagem do reciclado,
e até mesmo o processo pelo qual foi reciclado, além do
estilo do fabricante.