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Imunossupressores causam perda
óssea em transplantadas hepáticas
Estudo pioneiro foi conduzido no
HC com
23 mulheres submetidas ao procedimento
Estudo
realizado pelo ginecologista Luiz Francisco Cintra Baccaro,
com 23 mulheres que realizaram transplante de fígado
no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, revelou que
a ingestão de medicamentos imunossupressores
cuja função é coibir a rejeição
do novo órgão - ocasiona uma significativa diminuição
de massa óssea.
Como consequência, as
transplantadas hepáticas podem apresentar quadro de
osteoporose. Trata-se, de acordo com Baccaro, de uma doença
silenciosa, na qual muitas vezes as pacientes são doentes
crônicas e graves. Além disso, as complicações
mais urgentes do transplante mascaram a doença. Se
não prestarmos atenção e não fizermos
uma busca ativa nessas pacientes, elas podem até sobreviver
à doença hepática, no entanto podem ter
uma queda e sofrer uma fratura que pode até mesmo provocar
a morte, alertou o ginecologista.
O trabalho resultou na dissertação
de mestrado de Baccaro, sob a orientação do
professor Aarão Mendes Pinto Neto, do Departamento
de Ginecologia, da Faculdade de Ciências Médicas
(FCM) da Unicamp. O orientador, inclusive, ressaltou que a
participação da equipe da professora Ilka de
Fátima Boin, coordenadorada Unidade de Transplante
de Fígado do HC, foi fundamental para o sucesso inicial
da pesquisa. O financiamento para a realização
do estudo, feito pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), também
foi destacado pelo docente.
O
impacto imediato dessa primeira fase dos trabalhos, segundo
Aarão, foi a sensibilização de todo o
grupo de pesquisadores para a importância do assunto.
Conseguimos atrair a atenção dos cirurgiões
gastroenterologistas que atuam nessa área, contou.
A pesquisa foi publicada nos anais do XV Congresso Paulista
de Obstetrícia e Ginecologia. Foi aceita para apresentação
oral no Congresso Brasileiro de Transplantes de Fígado
e Pâncreas e teve aceitação e compromisso
de publicação por parte de uma revista internacional
sobre transplantes hepáticos. É um assunto
que tem interesse nacional. É o primeiro estudo latino-americano
sobre o tema, que chama a atenção para a manutenção
da saúde da mulher em geral e especificamente para
a mulher climatérica, ou seja, com 35 anos ou mais,
após o transplante hepático, afirmou o
orientador.
Com relação a
essa pesquisa sobre densidade mineral óssea é,
segundo Baccaro, necessário prestar muita atenção
nas pacientes acima dos 35 anos de idade. Nesses casos, deve-se
proceder a quantificação de massa óssea
antes do transplante, com o objetivo de verificar pacientes
com maior risco de desenvolvimento de osteoporose. Um acompanhamento
específico deve ser feito nos dois primeiros anos após
o procedimento cirúrgico, porque nesse período
há uma perda muito grande de osso. Recomendamos
que essa avaliação torne-se uma rotina, pois,
caso seja necessário, deve ser instituído o
tratamento para osteoporose visando preservar a massa óssea.
Não basta ter apenas a função hepática
normal, alertou o pesquisador.
Baccaro disse ainda que alguns
estudos publicados na literatura médica mostram que,
nos últimos anos, o transplante hepático tem
apresentado grande progresso. As mulheres, numa média
de 60% a 70%, estão ultrapassando o tempo de sobrevida
de oito anos após o procedimento e, consequentemente,
tem atingido o período da menopausa. No entanto, são
poucos os estudos que relacionam o transplante hepático
com o hipogonadismo (diminuição da produção
de hormônios ovarianos) que essas mulheres apresentam
quando chegam ao climatério. Estamos tentando
elucidar como elas se comportam quando chegam nessa fase da
vida, disse. São raros os trabalhos que fazem
alguma relação entre o transplante e densitometria
óssea e, também, com a qualidade de vida. Os
que estão publicados têm um grande número
de homens incluídos nas estatísticas e, portanto,
não há nada dedicado exclusivamente às
mulheres.
A associação com
o grupo da professora Ilka Boin permitirá a Baccaro
desvendar o quanto o transplante afeta não só
a massa óssea, como também a menopausa, o volume
ovariano, os níveis hormonais, a saúde vaginal
e a libido. Nossa intenção é oferecer
um atendimento integral às mulheres que se submeterão
ao transplante, assegurou. Já existem relatos
de que mulheres transplantadas podem engravidar. Sete mulheres
participantes do grupo engravidaram após o procedimento.
Na opinião de Baccaro, especificamente nestes casos
não houve alteração no ovário
e, portanto, não tiveram a fertilidade alterada. Estamos
estudando essas mulheres, avaliando o tamanho dos ovários,
os níveis de hormônios, dificuldades ou problemas
de saúde vaginal, se elas têm mais sintomas como
calores e palpitação, se a menopausa ocorre
em idade inferior às mulheres que não fizeram
transplante, a massa óssea, a qualidade de vida e até
alterações mamárias, acrescentou
o ginecologista.
É fundamental preconizar
tratamentos para a menopausa e, ao mesmo tempo, descobrir
qual tipo de imunosupressor afeta menos a massa óssea
da mulher. Trata-se de uma classe de medicamentos muito grande.
Um fator muito importante para Baccaro é recomendar
a suplementação de cálcio diária
para essas mulheres e instituir tanto um programa de exercícios
físicos quanto uma dieta adequada visando à
prevenção da osteoporose e manutenção
geral do corpo humano. A preocupação é
com o bem-estar geral da mulher, garantiu Aarão.
Porém, para saber se é necessário modificar
ou melhorar um medicamento é preciso entender como
essa fase da vida funciona nessas pacientes que fizeram o
transplante. O que se pode afirmar, segundo Baccaro, é
que a terapia de reposição hormonal por via
oral não deve ser utilizada em pacientes com hepatopatias
crônicas. Num estudo futuro será possível
analisar o uso de terapia hormonal por via transdérmica
ou vaginal em pacientes que estejam estáveis e que
não apresentem rejeição ao órgão
transplantado.
Para Aarão, esse é
um grupo específico de mulheres que precisam, de fato,
de uma atenção ginecológica muito grande.
Por esse motivo que Baccaro iniciou a pesquisa do doutorado,
com um grupo controle de mulheres transplantadas e de não-transplantadas.
Isso será importante para comparar quais aspectos
estão relacionados com a menopausa de cada grupo. Vamos
ser mais objetivos nessa questão, concluiu.
Trabalho apresentado
Baccaro, L. F. C.; Boin, I. F.; Pedro, A. O.; Costa-Paiva,
L; Leal, A. G.; Ramos, C. D.; Pinto, A.M.. Fatores associados
à diminuição da massa óssea em
mulheres transplantadas hepáticas. In: XV Congresso
Paulista de Obstetrícia e
Ginecologia, 2010, São Paulo, 2010.
Trabalho aceito para apresentação oral tema
livre
Baccaro, L. F. C.; Boin, I. F.; Pedro, A. O.; Costa-Paiva,
L; Leal, A. G.; Ramos, C. D.; Pinto, A.M. Fatores associados
à diminuição da massa óssea em
mulheres transplantadas
hepáticas. In: VI Congresso Brasileiro de Transplante
de Fígado e Pâncreas, Porto de Galinhas, 2010.
Trabalho enviado para publicação
Baccaro, L. F. C.; Boin, I. F.; Pedro, A. O.; Costa-Paiva,
L; Leal, A. G.; Ramos, C. D.; Pinto, A.M. Decrease in bone
mass in women after liver transplantation. Osteoporosis
International, 2010.
Publicação
Dissertação de mestrado Fatores
associados à densidade mineral óssea de mulheres
submetidas a transplante de fígado
Autor: Luiz Francisco Cintra Baccaro
Orientador: Aarão Mendes Pinto Neto
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas
(FCM)
Fonte de financiamento: Fapesp
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