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Projeto contribui para diretrizes
de Parque Científico da Unicamp
Estudos avaliam potencial e desafios
para o
desenvolvimento sustentável da região de Campinas
O
projeto da Unicamp em parceria com o Governo do Estado para
constituir o Parque Científico da Universidade engloba,
além do projeto urbanístico e da construção
do prédio que vai abrigar o núcleo do Parque,
o projeto "Ciência, Tecnologia e Inovação
da Região de Campinas e dos seus Parques Científicos
e Tecnológicos", que apresenta seus primeiros
resultados. Na Universidade, o projeto está sendo coordenado
pela Agência de Inovação Inova Unicamp.
Eduardo Gurgel do Amaral, coordenador da área de Sistema
Local de Inovação da Inova Unicamp, explica
que a realização de um projeto científico
e tecnológico é uma exigência da legislação
do Governo do Estado para o cadastro do Parque Científico
no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec),
criado pelo governo estadual para dar apoio e suporte ao desenvolvimento
inovativo, atrair investimentos e gerar novas empresas intensivas
em conhecimento ou de base tecnológica.
O Parque
Científico da Unicamp é um dos 17 projetos que
tem credenciamento provisório no SPTec. "Um dos
objetivos do projeto é direcionar o escopo do parque,
as atividades que vai oferecer, bem como suas áreas
de atuação", coloca Gurgel. Entretanto,
o levantamento do cenário de C&T&I abrangeu
os 90 municípios da Região Administrativa de
Campinas (RAC) porque o compromisso que a Unicamp assumiu
com o Estado foi o de fazer um projeto mais abrangente, que
não só servisse de base para a implantação
dos demais parques científicos e tecnológicos
da região de Campinas, mas também pudesse definir
as diretrizes estratégicas para o desenvolvimento científico
e tecnológico da região.
À
frente do estudo está o pesquisador Domenico Feliciello,
do Nepp- Núcleo de Estudos de Políti-cas Públicas
da Unicamp. Feliciello explicou que o projeto científico
tecnológico avalia não só os potenciais
das empresas e institutos de pesquisa da região, mas
também quais são as falhas e os gargalos. De
acordo com o pesquisador, o projeto foi dividido em três
grandes fases. Na primeira, foram recuperados estudos que
já existiam sobre a região de Campinas. "Com
o resultado deste primeiro levantamento foi possível
verificar quais áreas deveriam ser aprofundadas nos
estudos posteriores", pondera o pesquisador, que trabalhou
com dois bolsistas nesta análise. A segunda fase foi
justamente o aprofundamento desses estudos, para a qual foi
contratada uma equipe maior. Nesta fase foi observado principalmente
o banco de dados da Rais (Relação Anual de Informações
Sociais), do Ministério do Trabalho, bem como dados
sobre a produção de valor das indústrias
na região, e de vários programas públicos
de financiamento de pesquisa e inovação, como
os programas da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos)
e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo).
Além
do levantamento dos estudos, o grupo também fez uma
pesquisa de campo entrevistando 25 empresários para
avaliar questões mais qualitativas, como o relacionamento
das empresas com as universidades e institutos de pesquisa,
o entendimento do conceito de parque tecnológico, e
a disposição de cada um em investir em um projeto
como esse. "Não foi uma amostra aleatória,
foi uma amostra dirigida", informa Feliciello. Segundo
ele, em paralelo, os bolsistas também passaram um questionário
de perguntas mais dirigidas para cerca de 500 empresas. Entretanto,
somente 50 responderam. "Os resultados foram muito convergentes",
avalia o pesquisador. As entrevistas apontaram que os empresários
consideram muito importante o investimento em ciência
e tecnologia, mas os mesmos entrevistados também expressaram
sentir dificuldade em acessar recurso, tanto público
como privado, para este fim.
Vantagens e gargalos na região
Entre os resultados, a análise dos
dados apontou a RAC como uma das principais regiões
solicitantes de recursos para investir em inovação
e P&D. "De acordo com dados da Pintec, a RAC investe
o dobro de recursos tanto em inovação quanto
em P&D quando comparada à média brasileira
em relação ao PIB. Em relação
a São Paulo, gastou 30% a mais. Ou seja, é uma
região importante nessas duas áreas no Brasil",
avalia Feliciello.
Além da quantidade de recurso investido
em inovação, foram mapeadas as principais áreas
de atuação de empresas e institutos de pesquisa.
Segundo Feliciello, já havia a noção
de que a área de tecnologia da informação
e comunicação (TIC) era um dos setores de mais
destaque na atuação de institutos de pesquisa
e de empresas na região. Entretanto, outras áreas
também se destacaram. "Ficou bem evidente que
o setor de agrotecnologia - que engloba agronomia, engenharia
agrícola, tecnologia de alimentos, engenharia florestal
- é uma grande área na região",
colocou. As áreas de saúde e química
também se destacaram. No total, foram identificadas
49 áreas que se destacam em relação ao
Brasil. Elas foram avaliadas em termos de número de
empresas e sua localização geográfica
na RAC, pessoal ocupado, investimento estimado de P&D,
e o valor da transformação industrial (VTI).
Um dos pontos de atenção na
análise é que apesar de apontar a região
de Campinas como a maior proporção de empresas
inovadoras em comparação com a média
nacional, ainda assim grande parte das atividades econômicas
importantes para a RAC se encontra em uma situação
de baixo valor da transformação industrial (VTI),
com baixo investimento em P&D, constituindo-se como setores
com baixo potencial de inovação, com os de papel,
brinquedos, plásticos, têxteis e joalheria. Para
Feliciello, isto revela a necessidade de criação
de políticas públicas regionais para atrair
ainda mais empresas de base tecnológica, que utilizem
a ciência e tecnologia como um insumo importante do
desenvolvimento. "Que não só desenvolvam
novos produtos e tenham lucro, mas também que desenvolvam
a sociedade como um todo", avalia.
No que se refere aos institutos de pesquisa
e universidades, entre os dados levantados estão as
áreas de pesquisa e grupos de pesquisa. Neste critério
foi destacado o peso da cidade de Campinas na região,
pela concentração de pesquisadores e estudantes,
principalmente em razão da Unicamp, bem como a importância
das outras duas universidades paulistas (Unesp e USP) - as
três são responsáveis por 75% dos grupos
de pesquisa da região. Entretanto, apesar do destaque
nacional para a qualidade da educação superior
na região, outro ponto de reflexão se refere
ao número desfavorável de instituições
voltadas à educação nos níveis
médio e técnico na RAC. "Esta polarização
cria distorções negativas não somente
no mercado de trabalho, mas também nas relações
sociais", aponta Feliciello.
Gurgel lembra que as atividades de inovação
requerem a atração e a fixação
de pessoal qualificado. Neste sentido, o estudo da região
aponta que apesar de muitos avanços conseguidos no
saneamento e em outros aspectos da infraestrutura, quando
comparada a outros centros urbanos a RAC apresenta falhas
no que tange ao transporte coletivo e infraestrutura para
atividades esportivas, de lazer e culturais, além de
ainda apresentar a insegurança como um problema não
resolvido.
Para Gurgel, o estudo é essencial para
a estruturação das diretrizes do Parque Científico
da Unicamp. "O parque deve ter um modelo de negócios
bem definido e em harmonia com a vocação tecnológica
da região", coloca. O coordenador explica que
Parques Científicos e Tecnológicos têm
sido utilizados pelo poder público como instrumentos
que visam estimular a implementação de atividades
econômicas com alto valor agregado e geração
de empregos de elevada qualificação. "Muitos
destes empreendimentos têm sido utilizados para a revitalização
de áreas". Entretanto, Gurgel aponta que, para
se convergir a um conjunto de temas e tópicos tecnológicos
relevantes para a RAC, é preciso não apenas
atentar para as vocações da região, mas
também dialogar com as tendências presentes no
país e no mundo. "A lista de temas e tópicos
tecnológicos precisa refletir um posicionamento estratégico
entre as forças globais e as vantagens locais",
coloca.
Segundo o coordenador, a capacidade instalada da RAC em termos
de empresas inovadoras e pesquisa de alto nível pode
ser potencializada com o fomento de projetos, parcerias e
negócios de base tecnológica, que aproveitem
as vantagens locais e amplifiquem a inserção
da região em bases competitivas na economia brasileira
e mundial. "O grande desafio está em integrar
a cadeia do conhecimento para imprimir uma nova dinâmica
de desenvolvimento socioeconômico. Para isso precisamos
da participação dos setores políticos
municipais, estaduais e federais, além do empresariado
e da academia", finaliza.
A terceira fase do projeto está em
andamento. Uma das primeiras atividades foi a realização
do seminário no dia 14 setembro, que reuniu autoridades
municipais da região, empresários e profissionais
vinculados a questões de Ciência, Tecnologia
e Inovação. No próximo dia 21 de outubro
será realizado um workshop com o objetivo de definir
as diretrizes estratégicas do Projeto de Ciência,
Tecnologia e Inovação da região de Campinas.
Três tópicos serão o foco de discussão:
estratégias para a implantação e consolidação
de Parques Científicos e Tecnológicos, com destaque
para a Região de Campinas; a Consolidação
do Sistema Local de Inovação, por meio de ações
que fomentem a articulação entre governantes,
setores produtivos e instituições de produção
de C&T; e uma Proposta de estruturação de
uma Região do Conhecimento, na qual serão discutidas
as bases estruturais para caracterizar a região como
tal. Os dados compilados nos estudos estão sendo formatados
e serão utilizados em duas publicações.
Parte das informações já está
disponível no site do projeto em: www.inova.unicamp.br/CTI.
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