O
engenheiro eletricista Luciano Maia Lemos identificou 47
spin-offs – empresas criadas por egressos da Unicamp (alunos,
professores, funcionários) – que geraram 3.265 empregos
diretos e faturaram entre R$ 471 milhões e R$ 837 milhões
no ano passado. O faturamento líquido conjunto destas empresas
praticamente dobrou de 2005 a 2007. A identificação se deu
a partir de um cadastro da Inova – Agência de Inovação da
Unicamp contendo 150 spin-offs. Dentre as 47 que responderam
ao questionário, 20 foram visitadas e tiveram sua estrutura
detalhada pelo autor para fundamentar sua pesquisa de mestrado.
“As chamadas ‘Filhas da Unicamp’ eram ainda
pouco conhecidas. Este é o primeiro estudo mais apro¬fundado
sobre suas características e o papel exercido pela Universidade
para a criação e o desenvolvimento delas”, afirma Luciano
Lemos, que foi orientado pelo professor Sergio Luiz Monteiro
Salles Filho, do Departamento de Política Científica e Tecnológica
(DPCT) do Instituto de Geociências.
O estudo mostrou que as spin-offs da Unicamp estão concentradas
em nove setores de atividades: tecnologia da informação
e comunicação (quase 50%), eletrônica, máquinas e equipamentos,
alimentos, biotecnologia, consultoria em gestão, consultoria
em engenharia, química e ensino. “São setores que exigem
intensa utilização de conhecimento e tecnologia, com produtos
de valor agregado. Não são empresas simples. Perto de 85% realizam pesquisa e desenvolvimento”,
informa o engenheiro.
Segundo Lemos, dos 3.265 empregados registrados, terceirizados,
bolsistas e estagiários, 55% possuem nível superior, estando
assim distribuídos: graduados, 48%; mestres, 6%; doutores,
1,3%; e pós-doutores, 0,2%. Os outros 45% dos colaboradores
têm o nível médio. Um terço dos empregados graduados é de
formados na Unicamp. Com relação aos fundadores, aproximadamente
67% são pós-graduados. “Um aspecto interessante é que a
metade dos fundadores iniciou o empreendimento ainda na
graduação ou recém-formado, buscando depois a especialização
e a pós-graduação”.
O levantamento aponta que 34% das empresas
empregam entre zero e 9 funcionários; 21%, entre 10 e 19;
26%, entre 20 e 99; e 17%, entre 100 e 499. “A PST Electronics
[fundada por jovens estudantes da Unicamp em 1988 e que
se tornou uma das maiores fabricantes do mundo de sistemas
eletrônicos para veículos] conta hoje com cerca de mil colaboradores.
Temos um conjunto de empresas que oferece uma contribuição
importante para a economia, sobretudo local, e que requer
mão-de-obra de alta qualificação”.
O
autor da pesquisa diz que as empresas maiores e que respondem
pelo grosso do faturamento são as mais antigas, mas observa
que as spin-offs menores apresentam um crescimento acelerado,
como no caso das recém-graduadas pela Incubadora de Empresas
de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp). “Duas destas empresas
quadruplicaram o faturamento entre 2005 e 2007, e outras
cinco cresceram mais de duas vezes no mesmo período”.
De
acordo com a amostra, 55% das empresas exportaram seus produtos
ou serviços nos últimos três anos, em todos os setores (exceto
o de consultoria em engenharia), indicando potencial para
competir no mercado globalizado. “Entretanto, as receitas
provenientes da exportação ainda são baixas, representando,
para a metade das empresas, menos de 5% do seu faturamento”.
Perto da mãe
O levantamento de Luciano Lemos mostra uma grande concentração
geográfica das empresas. Juntando matrizes e filiais, as
47 spin-offs estão presentes em 22 municípios de nove Estados
e sete também têm representações no exterior. Contudo, 77%
das matrizes se encontram em Campinas, porcentagem que alcança
98% para o Estado de São Paulo.
Um detalhe é que 41 empresas (87%) possuem ao menos uma
unidade na Região Metropolitana de Campinas. Deste grupo,
26 empresas (63%) apontaram a proximidade da Unicamp como
premissa para a escolha da localização. “Um dos fatores
importantes é a formação de recursos humanos, mesmo porque
muitos sócios e colaboradores são formados aqui. Outro fator
é a possibilidade de realizar P&D em colaboração com
a Universidade”.
O pesquisador observou que muitos empresários vêem a Unicamp
também como catalisadora de relações entre vários atores
do processo de inovação, formando uma rede de relacionamentos
(networking) fundamental para a geração de negócios. “Um
exemplo é a promoção pela Universidade de eventos reunindo
empresários, representantes de governo, professores, alunos.
A Unicamp, ao associar seu nome a desenvolvimento tecnológico,
propicia o contato entre empresas e investidores”.
Luciano Lemos levantou e ordenou as formas de apoio mais
buscadas na Unicamp: treinamento e capacitação dos empregados
(57% da amostra), obtenção de informações para P&D (55%),
obtenção de recursos financeiros para P&D (30%), investimento
em P&D em colaboração (23%), contratação de empresas
juniores (11%), obtenção de aportes de capital (6%) e obtenção
de direitos de propriedade intelectual (6%).
A formação profissional dos quadros, na opinião do autor,
é uma das principais colaborações que a Unicamp oferece
às spin-offs, mas ele também destaca a influência da promoção
de eventos e da atuação em empresas juniores na decisão
dos alunos de se tornarem empresários. “Aproximadamente
26% das ‘filhas da Unicamp’ possuem fundadores que participaram
das juniores”.
Relacionamento
Contudo, o autor da dissertação apurou que o relacionamento
da Unicamp com suas “filhas”, na maioria dos casos, ocorre
de maneira informal: 91,5% das spin-offs mantêm relação
com a Universidade, mas pouco mais de 30% já formalizaram
contratos ou convênios. Para 61% delas, a relação se baseia
no contato pessoal e na liberdade de circulação pelos órgãos
e unidades, enquanto que 8% podem ser consideradas “filhas
desgarradas”, sem qualquer vínculo com a Instituição.
Para Lemos, o modo e a importância do relacionamento com
a Unicamp variam conforme as características das spin-offs,
tais como estágio de desenvolvimento, setor de atuação,
forma de concepção e tempo de graduação dos fundadores.
“As empresas mais jovens e cujos fundadores se graduaram
há menos tempo, bem como empresas geradas em incubadoras,
mostram maior interação com a Universidade. Isto sugere
que estes laços são mais importantes para empresas em estágio
inicial de desenvolvimento”.
Autor prega atuação sistêmica e integrada
Na conclusão
de sua pesquisa de mestrado, o engenheiro
Luciano Maia Lemos sugere que a Unicamp passe
a tratar a questão da criação e de fomento
às spin-offs de forma sistêmica, institucionalizando
mecanismos que reforcem a disseminação da
cultura da inovação e do empreendedorismo
junto a professores e alunos, e também de
relacionamento com as empresas fundadas por
seus egressos.
Em seu estudo,
Lemos apurou que as ações de empreendedorismo
da Unicamp influenciam de forma heterogênea
suas unidades de ensino e pesquisa, pois os
empresários graduados saíram de 10 das 20
faculdades e institutos. Entretanto, há forte
concentração de empresas formadas a partir
da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação
(FEEC) e do Instituto de Computação (IC),
que respondem por 65% dos fundadores graduados
na Universidade.
O autor observa
que este padrão de concentração encontrado
na amostra de 47 empresas se repete no universo
composto por cerca de 150 spin-offs cadastradas
na Inova. “Tal constatação sugere oportunidades
de ações de suporte a alunos e professores
das unidades que menos geram empresas”.
Luciano Lemos
ressalta o esforço da Unicamp desde 1990,
quando começou a aperfeiçoar mecanismos para
se incorporar ao mundo da inovação. Na época,
já existia o Escritório de Transferência de
Tecnologia (ETT), cuja preocupação era disseminar
a cultura do patenteamento, a fim de transformar
conhecimento acadêmico em produtos para a
sociedade. “A Unicamp, hoje, está à frente
das maiores empresas públicas e privadas em
termos de depósitos de propriedade intelectual”.
O pesquisador
recorda que, quando o governo brasileiro determinou
a criação de um núcleo de inovação tecnológica
(NIT) em todas as universidades em 2004, no
ano anterior a Unicamp já havia formado a
Inova, agência de inovação pioneira no país.
“Ainda assim, os mecanismos para criação e
fomento de empresas são muito recentes. A
Incubadora foi criada em 2001, a Inova em
2003 e as ações de pré-incubação começaram
em 2005”.
Na opinião
de Luciano Lemos, assim como a Unicamp procura
tratar da inovação de uma forma sistêmica,
a Universidade também pode institucionalizar
os mecanismos de fomento às spin-offs, abraçando-as
efetivamente como suas filhas. “Na Unicamp,
o ensino e a pesquisa nasceram juntos, inclusive
em interação com o setor produtivo, quando
da elaboração de ementas dos cursos para formar
os profissionais que a região de Campinas
necessitava. Agora, temos um novo eixo de
apoio a empresas a ser devidamente planejado”.
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