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Os professores Marcos Ferreira e Oscar Braunbeck, da Feagri, com a colheitadeira ao fundo: conforme o equipamento vai se deslocando no campo, são feitos a colheita do tomate, beneficiamento, classificação (por tamanho e cor), e depois o encaixotamento, sem substituir os trabalhadores (Fotos: Antoninho Perri) |
Depois de quatro anos de pesquisas, que geraram oito dissertações de mestrado (todas em andamento) e 13 artigos científicos, foi concluído no último dia 14 de dezembro um projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) voltado à otimização da colheita do tomate de mesa. Conduzido por uma equipe da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, com a colaboração de pesquisadores de outras três instituições, o trabalho culminou com o desenvolvimento de um equipamento destinado à colheita do produto. Uma das vantagens da nova tecnologia, que já está sendo objeto de pedido de patente, é que ela não substitui a mão-de-obra humana.
A quebra
chega a 30%
durante e
e depois da
colheita
Batizado de Unidade Móvel de Auxílio à Colheita (Unimac), o equipamento tem por objetivo reduzir as perdas que ocorrem durante e depois da colheita, conforme explica o coordenador do projeto, o professor Marcos David Ferreira. De acordo com ele, alguns estudos apontam que a produção pode sofrer uma quebra de até 30% nessas etapas. “Isso ocorre principalmente por causa do intenso manuseio, o que provoca uma elevada incidência de danos físicos nos frutos”, explica. O docente afirma que a despeito do grande avanço tecnológico registrado no setor agrícola, o auxílio mecânico para colheita de frutas e hortaliças praticamente inexiste no Brasil. “Justamente por isso, resolvemos enfrentar o desafio de criar uma máquina para esse fim, destinada exclusivamente ao tomate de mesa”.
O professor Oscar Braunbeck, que também participou do projeto, esclarece que a Unimac é constituída por uma plataforma móvel de seis metros de largura por 3,6 metros de altura. A unidade tem tração nas quatro rodas, um cuidado tomado pelos idealizadores para favorecer a operação em terrenos inclinados. O acionamento é elétrico, em substituição aos convencionais sistemas mecânico e hidráulico. Conforme o equipamento vai se deslocando no campo, os trabalhadores executam a colheita, beneficiamento, classificação (por tamanho e cor) e embalagem do produto. De acordo com os cálculos do pesquisador, a Unimac deve ser capaz de reduzir as perdas significativamente, além de diminuir em até oito vezes o tempo gasto com a colheita exclusivamente manual. “Nossa expectativa é que o equipamento colha cerca de duas toneladas de tomate por hora de trabalho”, antecipa.
Além de otimizar a colheita do tomate de mesa, a Unimac, cujo custo de mercado ainda não foi devidamente estimado, também deverá trazer vantagens para os trabalhadores rurais. Segundo os pesquisadores da Unicamp, o equipamento foi desenvolvido a partir de dois conceitos fundamentais complementares. Primeiro, não promover a redução do emprego no campo. Segundo, melhorar as condições de trabalho de homens e mulheres que sobrevivem da colheita do produto. “Nós nos preocupamos com uma série de questões, entre elas a que envolve a ergonomia, para não prejudicar a postura dos trabalhadores. Outra vantagem é que as caixas serão transportadas pelo próprio equipamento, dispensando as pessoas de carregarem peso como acontece atualmente”, afirma o professor.
Para o professor Marcos, a despeito de a Unimac ter sido o principal resultado do projeto temático, é preciso destacar os ganhos acadêmicos que ele proporcionou. Além dos artigos científicos e dissertações de mestrado já citados, as pesquisas reuniram 13 docentes da Unicamp, de diferentes áreas, e mais três especialistas da Universidade da Flórida, Universidade Federal de Uberlândia e Centro de Qualidade de Hortaliças da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Pau-lo (Ceagesp). “Isso sem falar no envolvimento de cerca de 40 estudantes do ensino médio e de graduação e pós-graduação da Unicamp”, acrescenta o coordenador do projeto. Um dos alunos de graduação, Augusto César San-chez, teve importante participação no projeto e construção do maqui-nário, segundo o docente da Feagri. O protótipo apresentado no último dia 14 de dezembro foi construído pela empresa CTA – Centro Técnico de Automação, de Limeira. Cerca de 40 pessoas, entre técnicos e produtores, prestigia-ram o evento. Outras informações sobre o projeto Unimac podem ser obtidas em: www.feagri.unicamp.br/unimac.
Origens – A maioria dos botânicos atribui a origem do cultivo e consumo do tomate à civilização inca do antigo Peru. A dedução vem do fato de ainda persistir naquela região uma grande variedade de tomates selvagens e algumas espécies domesticadas. Esta vertente acredita que o tomate da variedade Lycopersicum cerasiforme, que parece ser o ancestral da maioria das espécies comerciais atuais, tenha sido levado do Peru e introduzido pelos povos antigos na América Central, dado que este foi encontrado amplamente cultivado no México. Outros acreditam que o tomate seja originário do atual México, não apenas pelo nome pertencer tipicamente à maioria das línguas locais (Náuatles), mas porque as cerâmicas incas não registraram o uso do tomate nos utensílios domésticos, como era costume.
O tomateiro é a segunda horta-liça cultivada no mundo, sendo superada apenas pela batata. A produção mundial de tomate em 2005 foi de 125 milhões de toneladas. O Brasil é o nono produtor, com uma safra de 3,3 milhões de toneladas em 2006, conforme informações da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). O Estado de São Paulo é o segundo maior produtor brasileiro, com um volume estimado em 700 mil toneladas, do qual 60% é destinado para o consumo in natura.
No caso do tomate de mesa, explica o professor Marcos Ferreira, a colheita tem sido realizada manualmente no Brasil, sem o auxílio de equipamentos. “Alguns estudos foram realizados utilizando equipamentos adaptados da colheita do tomate industrial, mas os resultados obtidos não tiveram muito sucesso, principalmente porque o tomate para a indústria tem uma colheita única e não múltipla como no caso do tomate de mesa”, afirma.