Depois de uma queda, a principal preocupação do idoso é a perda da independência e de sua capacidade funcional. O medo de cair novamente também está entre as conseqüências emocionais mais relevantes. Por isso, a queda vem sendo objeto de atenção de profissionais especializados em geriatria e gerontologia no sentido de criar mecanismos de prevenção. “Pode ocorrer um efeito cascata e acarretar problemas neuropsicológicos. O nível de comprometimento da capacidade funcional também é importante, pois nos diz mais da saúde do idoso do que o diagnóstico em si”, esclarece a professora Maria José D’Elboux Diogo, do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas, que orienta um trabalho de iniciação científica sobre o assunto. Outra questão é que, em geral, a queda está relacionada à depressão. “Sintomas depressivos podem ser tanto o motivo da queda, quanto uma conseqüência de permanecer acamado por vários dias e, em alguns casos, passar por cirurgia”, explica a docente.
Maioria sofre acidentes dentro de casa
A pesquisa, envolvendo pacientes com mais de 60 anos internados no Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp, foi realizada por Kelly Onaga Jahana, aluna do quarto ano da Enfermagem. Ela selecionou 73 idosos residentes em Campinas, cujo motivo de internação teria sido uma queda, recorrendo aos prontuários e identificando as causas que levaram ao diagnóstico. Segundo Kelly, não foi um trabalho fácil, pois geralmente as internações são feitas de acordo com o quadro clínico apresentado ao chegar no Pronto Socorro e, não propriamente, pelo motivo que levou aos sintomas. Nos casos estudados, os pacientes estavam internados nas enfermarias de Neurologia, Cirurgia do Trauma e Ortopedia, mas foi na própria residência que a aluna entrevistou os selecionados.
Os resultados apontaram que a maior incidência de quedas está no sexo feminino, com 60%, e em idosos acima dos 80 anos, 45%. Os aposentados somam 90% e, destes, 56% moravam com os filhos. Chamou a atenção o fato de que a maioria sofreu a queda pela primeira vez. Outro fator a ser destacado é que 70% caíram em casa e não em ambientes externos, sendo que 35% estavam andando e tropeçaram. Segundo a professora Maria José, o dado demonstra que o idoso, mesmo conhecendo o ambiente, corre o risco de se acidentar. “Os idosos apresentaram motivos como piso escorregadio ou irregularidade no terreno, e não mal-estar ou fraqueza”, relata Kelly Jahana.
Maria José Diogo alerta para os riscos relacionados com a própria percepção do idoso. Em sua opinião, muitos não têm consciência das limitações impostas pelo avanço da idade e se expõem mais a acidentes. “É comum deparar com situações em que o idoso quer continuar a realizar tarefas perigosas, tais como subir no telhado”, observa. A queda resultou em mudanças nas atividades cotidianas para 45% dos entrevistados, que deixaram de ir à padaria ou supermercado, por exemplo. A professora acredita, entretanto, que o fato de os idosos apontarem os fatores ambientais entre os de risco, já é um aspecto positivo para a prevenção.