| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 348 - 18 a 24 de dezembro de 2006
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Levantamento da FCM com a Prefeitura inclui dados
sobre diabetes mellitus, derrame, infarto e hipertensão

Doenças cardiovasculares constituem
primeira causa de morte em Campinas

A professora Marilisa Barros, uma das coordenadoras do estudo: "Nosso objetivo é chegar o mais próximo possível dos resultados das nações desenvolvidas" (Foto: Antoninho Perri)As doenças cardiovasculares constituem a primeira causa de morte em Campinas, superando os fatores relacionados à violência urbana. Essas enfermidades são responsáveis por 30% dos óbitos registrados entre os homens. Já entre as mulheres o índice sobe para 34%. Os dados são do mais recente boletim divulgado pelo Projeto de Monitorização dos Óbitos no Município de Campinas, uma iniciativa do Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS), órgão ligado ao Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, e da Secretaria Municipal de Saúde. “Embora graves, esses males podem ser perfeitamente controlados por meio de programas adequados de atenção à saúde, sendo que muitos deles podem ser evitados por intermédio de medidas de promoção da saúde, como o incentivo à prática de atividades físicas”, analisa a docente da FCM e uma das coordenadoras do estudo, a médica Marilisa Berti de Azevedo Barros.

Boletim já orienta políticas públicas na cidade

O boletim, de número 38, teve como tema a “Mortalidade por doenças cardiovasculares e diabetes mellitus”. De acordo com o levantamento, o segundo motivo de mortalidade entre os campineiros são as neoplasias (cânceres). Esses casos representam 19% dos óbitos entre os homens e 22% entre as mulheres. Em terceiro lugar encontram-se as mortes por “causas externas”. No que toca às mortes provocadas por problemas cardiovasculares, a professora Marilisa considera que “a maior proporção de fatalidades nas mulheres não significa que elas corram maior risco de mortalidade por estas causas. Na verdade, as taxas masculinas de mortes por doenças cardiovasculares são superiores às femininas. O que ocorre é que os homens apresentam taxas ainda mais elevadas por outras causas como, por exemplo, as que decorrem da violência urbana”, explica.

Com base nas informações fornecidas pelo inquérito de base populacional, o estudo também apurou que a hipertensão arterial tem alta prevalência na população. Cerca de metade dos moradores de Campinas com mais de 60 anos apresentam a doença, independente do sexo. Além disso, o diabetes mellitus atinge perto 6% dos campineiros na faixa de 50 a 59 anos. Já entre os cidadãos acima de 60 anos esse índice se eleva para 14%. Ao analisar a tendência das taxas de mortalidade dentro de uma série histórica de 25 anos [1980 a 2005], os pesquisadores chegaram a conclusões interessantes. Os casos de óbitos provocados pelo diabetes mellitus ao longo do período declinaram progressivamente, apresentando valores semelhantes para os dois sexos. Atualmente, são registradas 10 mortes ao ano por grupo de 100 mil habitantes. Em 1980, essa taxa chegou a ser de 22 óbitos por 100 mil moradores para as mulheres e de 14 por 100 mil para os homens.

A taxa de mortalidade por conta de acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame cerebral, apresentou tendência semelhante. Em 1980, o AVC respondia por 90 mortes a cada 100 mil pessoas entre os homens e 60 óbitos por 100 mil habitantes entre as mulheres. Em 2005, essas taxas despencaram para 45 e 30 mortes por 100 mil, respectivamente. Os óbitos provocados por cardiopatia isquêmica, o chamado infarto, passaram a apresentar tendência de redução consistente e significativa apenas a partir de meados da década de 90, de acordo com a pesquisa. “Esses dados refletem, muito provavelmente, a adoção de hábitos mais saudáveis pela população, bem como uma atuação mais efetiva por parte dos programas públicos de saúde”, avalia a professora.

Em relação à hipertensão arterial como causa básica de mortalidade, destaca a médica, as taxas declinaram na década de 80 e desde então se mantiveram estáveis, alcançando os valores de 2 a 10 óbitos por 100 mil habitantes. Das mortes provocadas por cardiopatia isquêmica, apurou o levantamento, 25% ocorrem em pessoas com menos de 60 anos, sendo que o percentual de óbitos por diabetes é de 17% para essa mesma faixa etária. No que toca às mortes por doença hipertensiva, 40% ocorrem em pessoas com mais de 80 anos. “Ao analisarmos os dados disponíveis, nós também verificamos que aproximadamente 34% das mortes causadas por cardiopatia isquêmica ocorrem nas casas das pessoas, e não em hospitais, o mesmo acontecendo com 12% dos óbitos provocados pelos acidentes vasculares cerebrais”, informa Marilisa Barros.

Ranking negativo – Embora as taxas de mortalidade por doenças como cardiopatia isquêmica, acidente vascular cerebral e diabetes mellitus tenham apresentado declínio ao longo dos últimos anos em Campinas, elas ainda são, na maioria das vezes, muito superiores àquelas apresentadas pelos países desenvolvidos, conforme revela o boletim. Ao confrontarem os dados, os especialistas apuraram que ocorrem mais mortes por essas enfermidades na cidade do que nas nações que compõem o Reino Unido, por exemplo. Para efeito de comparação, foram considerados os coeficientes de mortalidade na faixa etária dos 55 aos 64 anos, segundo o sexo.

Assim, os pesquisadores constataram que em Campinas as taxas de mortalidade por diabetes mellitus são superiores às registradas por França, Japão, Canadá, Inglaterra e País de Gales. Entretanto, são semelhantes às apresentadas pelos Estados Unidos e inferiores às verificadas no Brasil e no Estado de São Paulo. Quanto às doenças cerebrovasculares, os valores observados em Campinas, São Paulo e Brasil são superiores a todos os países considerados, exceto a Argentina, especificamente no que se refere ao índice masculino. “Vale ressaltar que as taxas de mortes por cardiopatia isquêmica registradas em Campinas e São Paulo também são superiores às de todos os países tomados para comparação”, afirma a professora Marilisa.

De acordo com ela, esses dados mostram que a despeito de o Brasil de modo geral e Campinas de forma particular terem avançado no que se refere ao controle e prevenção dessas doenças ao longo dos últimos anos, ainda há muito que ser feito para alcançar o estágio das nações desenvolvidas. “Nosso desafio é tentar chegar o mais próximo possível dos resultados obtidos por elas”, considera.

Desigualdade – O levantamento aponta, ainda, para uma outra questão importante. Segundo os dados do boletim, as áreas mais pobres do município são as que apresentam as maiores taxas de mortes por doenças cardiovasculares. Desse modo, no que toca aos índices de mortalidade causados por hipertensão arterial, os maiores valores foram observados nos jardins Capivari, Santa Lúcia e Vista Alegre, todos acima de 500 óbitos por 100 mil habitantes. As taxas mais baixas, não por acaso, foram registradas em localidades com melhor infra-estrutura e constituídas por moradores pertencentes à classe média, como o Centro e os jardins Eulina e Aurélia.

No entender da professora Marilisa, a desigualdade social aponta para a necessidade da adoção de medidas dirigidas não apenas à promoção da saúde, mas também da eqüidade. “Nós temos notícia de que a Secretaria de Saúde de Campinas já vem utilizando as análises contidas em nossos boletins para auxiliar na orientação de suas políticas públicas. Isso é muito positivo, visto que um dos objetivos do trabalho é justamente fornecer subsídios para que os gestores públicos possam formular suas propostas a partir de bases mais consistentes”.

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