Pesquisadores do Laboratório de Óptica
do Instituto de Física estão utilizando
a holografia para fabricar cristais fotônicos,
com alta qualidade óptica. Esses cristais,
estruturados artificialmente, têm a capacidade
de atuar sobre os fótons em dispositivos ópticos,
da mesma forma que semicondutores atuam sobre os elétrons
em dispositivos eletrônicos. Esse grupo é
o primeiro no País a produzir estruturas deste
tipo, utilizando a mesma técnica de holografia
que é usada para gravação e reconstrução
de imagens tridimensionais.
Como são materiais
construídos, podem ter sua simetria e geometria
previamente definidas, diferentemente dos cristais
naturais, compostos por arranjos de átomos,
cujas geometrias são determinadas pela natureza
dos elementos. Desta forma parece não existir
limites para o que se pode fazer com eles. As aplicações,
diz a coordenadora do Laboratório de Óptica
Lucila Cescato, incluem desde pesquisa básica
até tecnologia de ponta. Entre as possibilidades
estão a melhora da eficiência de emissores
de luz e de dispositivos para guiamento de luz, e
a construção de componentes e circuitos
ópticos similares aos eletrônicos que
existem hoje.
Os cristais fotônicos
podem ser uni, bi ou tridimensionais. Os que estão
sendo fabricados no Laboratório de Óptica
são bidimensionais, explica Elso Rigon, que
acaba de defender seu mestrado trabalhando, sob orientação
de Lucila, no desenvolvimento de processos para gravação
de estruturas bidimensionais, com dimensões
nanométricas (ou seja, em escala de milionésimo
de milímetro), utilizando exposições
holográficas e litografia.
O que de fato interessa nos
cristais fotônicos é que, devido a sua
similaridade com os cristais naturais, eles possuem
bandas de energia proibidas. São energias ou
comprimentos de onda dentro do material onde os fótons
não podem existir. É justamente essa
propriedade que faz com que estas estruturas recebam
o nome de cristais fotônicos.
Isto significa que há
possibilidade, por exemplo, de se criar um material
estruturado, com bandas de comprimentos de onda proibidos,
para inibir a emissão espontânea de luz.
Isso resultaria em um dispositivo que aproveitasse
muito mais energia emitindo luz apenas na região
de interesse. Algo como ter uma lâmpada incandescente
que emitisse apenas a luz visível, ao contrário
das atuais que emitem a maior parte de luz no infravermelho,
o calor. O cristal fotônico abre, assim,
possibilidade para fabricação de fontes
de luz com eficiência de quase 100%, compara
Lucila. Ainda não há dispositivos para
isso, mas quando existir, não é difícil
imaginar a economia que será gerada em termos
de energia.
Como os cristais fotônicos
são estruturados, intercalando diferentes materiais
(ele será mais eficiente quanto mais diferentes
forem os materiais), deste modo, a forma mais efetiva
de construção é alternar material
e ar. Para construção de dispositivos
de guiamento de luz e circuitos ópticos, este
material deve ser dielétrico como, por exemplo,
resinas, vidros, óxidos, enfim, qualquer material
transparente na faixa onde se deseja que ele apresente
bandas proibidas para os fótons.
Rigon conseguiu fazer cristais
usando a holografia, projetando padrões de
interferência em um material fotossensível.
Esse padrão periódico tipo claro, escuro,
é gravado no material, depois revelado como
numa fotografia. Assim, o padrão luminoso se
converte em padrão em relevo, resultando em
uma superfície repleta de elevações,
semelhantes a arranjos de minúsculos postes,
com ar entre eles. As propriedades desse cristal dependem
do material onde está sendo gravado o padrão,
do espaçamento as estruturas e de sua geometria.
Estamos conseguindo obter desde estruturas formadas
por arranjos de cilindros de resina, até estruturas
complementares, como buracos num filme de carbono,
informa Rigon. Esses buracos têm
diâmetro entre 100 e 150 nanômetros para
distância entre o centro de um buraco
até o centro do outro, de 1 micron. Entretanto,
ressalta Rigon, estas dimensões podem ser reduzidas
em até 50 %, utilizando a mesma técnica
desenvolvida.
Como esses cilindros (postes)
ficam alinhados, se for, por exemplo, retirada uma
fileira deles, a luz ficará confinada naquela
região, podendo fazer qualquer caminho projetado
Esta qualidade é muito útil para
fabricação de dispositivos e circuitos
ópticos, pois, nos cristais fotônicos,
podemos fazer trajetórias extremamente versáteis,
tais como curvas de 90 graus, porque a luz não
pode sair do caminho construído, diz
Rigon.
O confinamento de luz em regiões
bem definidas de guias ópticos é ideal
para a fabricação de fibras ópticas.
Fibras de cristal fotônico (fibras fotônicas)
são muito mais eficientes que as atuais fibras
ópticas. Nas atuais, a luz só propaga
se incidir em um ângulo maior que o ângulo
crítico. Se estiver abaixo, a luz escapa pela
casca da fibra. Já em uma fibra
fotônica, independente do ângulo de incidência,
a luz só vai passar no caminho aberto para
ela, explica Lucila. Se encontra um defeito, ela espalha,
mas continua propagando.
Peneiras - No Laboratório
de Óptica, embora a linha de pesquisa em cristais
fotônicos seja recente, há muito tempo
são estudados materiais fotossensíveis
e elementos ópticos difrativos. As técnicas
desenvolvidas no laboratório permitem a fabricação
de estruturas nanométricas com aplicações
tanto em óptica como em micro-mecânica.
No momento o grupo também
está desenvolvendo processos para fabricação
de micropeneiras. A mesma técnica holográfica
utilizada para construção dos cristais
fotônicos está agora sendo utilizada
para construir as minúsculas peneiras, formadas
por uma membrana muito fina com furos em escala de
nanômetros, da ordem de 100 milionésimo
de milímetros. Vamos chegar a obter furos
em escala de vírus, observa Lucila. Os
testes de filtragem serão feitos pela professora
Maria Aparecida da Silva, da Faculdade de Engenharia
Química.
Essas peneiras são
produtos de nanofabricação usando a
técnica holográfica, que substitui,
com vantagens, as técnicas convencionais. A
pesquisadora explica que, normalmente, para gravar
as estruturas nas dimensões conseguidas pelo
grupo, o único outro processo é usar
feixes de elétrons, mas equipamentos assim
custam milhões de dólares e só
gravam em áreas extremamente pequenas. Para
gravar estruturas periódicas submicrometricas,
a holografia é mais eficiente e barata,
afirma.