Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 218 - 30 de junho a 06 de julho de 2003
.. Leia nessa edição
Capa
Artigo
Comentário
Lavagem de dinheiro
Debret: do pincel à pena
Holografia: Cristais fotônicos

Consciência Crítica

Hemoglobina
Ração Animal
História em mochilas
Unicamp na Imprensa
Painel da Semana
Oportunidades
Teses da Semana
Aprendizagem
Crustáceos e seu Habitat
 

8

Unicamp batiza hemoglobina
com nomes de cinco cidades

Melhora da eficiência de emissores de luz e a construção
de componentes e circuitos ópticos estão entre as aplicações

MANUEL ALVES FILHO

O nome de cinco cidades brasileiras, entre elas Campinas, está sendo imortalizado na literatura científica internacional graças ao trabalho de um importante grupo da Unicamp, considerado referência na América Latina na investigação de hemoglobinopatias, mutações que ocorrem na hemoglobina (Hb) e que podem causar doenças como a anemia falciforme e a talassemia. Quando essas moléculas com alterações são descritas pela primeira vez, é costume batizá-las com a denominação da localidade de origem do paciente. Assim, nos últimos anos, o Serviço de Diagnóstico Laboratorial de Hemoglobinopatias da Divisão e Departamento de Patologia Clínica do Hospital das Clínicas e Faculdade de Ciências Médicas (FCM) juntamente com o Hemocentro identificaram as Hb Rio Claro, Hb Poços de Caldas, Hb Joanópolis e Hb Paulínia, Hb Campinas, esta última predominante no feto.

O trabalho de investigação teve início em 1980, quando o médico Fernando Ferreira Costa, atual pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, implantou o Serviço de Diagnóstico Laboratorial de Hemoglobinopatias. Atualmente, quem está à frente do laboratório é a médica Maria de Fátima Sonati, que fez pós-graduação estudando as hemoglobinas e teve a sua tese de doutorado orientada por Costa. Ambos são professores da FCM. Com a colaboração do Hemocentro, que faz as análises de DNA, a unidade realiza aproximadamente 150 diagnósticos/mês, em pacientes encaminhados com suspeita clínica de hemoglobinopatias.

Além disso, o Serviço também desenvolve há cerca de cinco anos um programa sistemático de triagem de variantes raras de hemoglobina, com a análise de 100 amostras/dia. Esse estudo conta com o suporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). De acordo com o professor Costa, a excelência das pesquisas e o volume de testes realizados pelo laboratório fizeram com que ele se transformasse num dos mais atuantes do mundo nessa área, constituindo-se como referência para a América Latina.

O pró-reitor explica que anteriormente, ao ser descrita pela primeira vez, a hemoglobina passava a ser identificada pelas letras do alfabeto. Quando o número de hemoglobinas anômalas se tornou muito grande, os pesquisadores passaram a batizá-las com o nome da cidade de origem dos pacientes. No caso do laboratório da Unicamp, foram descritas cinco novas variantes, que emprestaram a denominação dos municípios brasileiros nos quais os portadores viviam. Estas já constam de publicações especializadas, todas em periódicos com circulação internacional.
Além das cinco variantes, o Serviço também detectou numerosas hemoglobinas previamente descritas em outros locais, como Hb Coimbra, Hb Indianápolis, Hb Santa Ana, Hb Porto Alegre, Hb Zürich, Hb Köln e Hb Kurosaki, entre outras. “É importante lembrar que essas mutações da hemoglobina podem ou não causar alterações clínicas. No entanto, muitas vezes estas alterações podem levar ao esclarecimento de fenômenos biológicos importantes”, esclarece o professor Costa.

Doenças – A hemoglobina é a proteína que dá a cor vermelha ao sangue. Ela também é responsável pelo transporte do oxigênio para todos os tecidos do corpo humano. Acontece, porém, que essa molécula às vezes apresenta mutações. Uma delas faz com que a Hb A seja substituída pela Hb S. As pessoas com dois genes S podem desenvolver a anemia falciforme, doença hereditária que atinge predominantemente os afrodescendentes. Isso ocorre porque as moléculas normais quando desoxigenadas podem mudar a forma do glóbulo vermelho. Este, que é arredondado e elástico, assume o formato de uma foice (daí a denominação falciforme), o que dificulta a sua circulação pelos vasos sangüíneos.

Essa obstrução vascular pode provocar lesões em vários órgãos, sistema nervoso, ossos etc. Entre os sintomas da anemia falciforme estão as fortes crises de dor. Já a talassemia, doença também de natureza hereditária, é conhecida como Anemia do Mediterrâneo, por ser mais prevalente entre os descendentes de italianos e gregos, por exemplo. Por conta da mutação da molécula, o organismo passa a “fabricar” hemoglobina de uma maneira desequilibrada, o que pode levar à enfermidade. As pessoas portadoras desse mal são obrigadas a se submeter a freqüentes transfusões de sangue. Entre os sintomas mais comuns apresentados pelas crianças com talassemia destacam-se: palidez, desânimo, falta de apetite e hipodesenvolvimento.

A anemia persistente leva ao aumento do baço, fígado e coração.
O Hemocentro da Unicamp, conforme o professor Costa, é referência no Brasil para tratamento de talassemia e anemia falciforme. A unidade produz o maior número de publicações internacionais nesse campo entre todas as universidades brasileiras, com várias contribuições originais para o tratamento e o diagnóstico dessas doenças.

 

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2003 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP