Estudo
realizado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), em conjunto
com a Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, revela
alto índice de consumo de álcool e tabaco entre crianças
espanholas e brasileiras, mais precisamente na faixa etária
dos 11 anos. Pelos resultados, 74,4% dos alunos espanhóis
e 43,8% dos brasileiros já ingeriram bebidas alcoólicas.
Quando o assunto é o consumo de tabaco, este percentual
cai para 21,9% na Espanha e 12,7% na amostra brasileira.
Os dados, segundo a autora da pesquisa no Brasil, a professora
da FCM Kátia Stancato, demonstram a existência de uma percepção
de menor perigo, assim como uma maior tolerância social,
em relação ao álcool do que ao tabaco. A docente alerta,
porém, para a gravidade do problema do uso indiscriminado
em ambos os casos, já que são drogas consideradas lícitas,
cujo consumo é liberado.
“A expectativa é que esses
números possam orientar ações de conscientização e educação
permanente de pais, alunos, professores e comunidade para
um dos mais graves problemas de saúde pública: o consumo
de álcool e tabaco cada vez mais frequente em idades precoces.
Por isso, este primeiro estudo comparativo de crianças de
culturas distintas, além da formulação de um perfil dos
padrões de consumo, proporciona informações relevantes que
podem subsidiar formuladores de programas de prevenção”,
destaca.
A professora salienta ainda
que o consumo irresponsável e inadequado das drogas legais
tem aumentado nos últimos anos, mas muito pouco se sabe
sobre a problemática no público infantil. “É fundamental
obter informações objetivas e sistemáticas sobre a situação,
assim como identificar os fatores de risco que levam ao
consumo e os fatores de proteção que dificultam o seu início
e abuso”.
O inquérito multicêntrico
com amostragem internacional envolveu a aplicação de questionário
entre 1.012 crianças, na faixa etária de 10 a 12 anos, da
Espanha e do Brasil, frequentadoras de escolas públicas
e privadas de ensino fundamental. No Brasil, a pesquisa
foi feita em 2008 em 16 escolas de Campinas, mas com uma
amostra inferior ao levantamento realizado na Espanha, em
razão de problemas burocráticos. Enquanto a amostragem espanhola
foi de 720 crianças, as brasileiras somaram 292. “Estava
prevista a participação de 750 crianças brasileiras, mas
devido à diferença dos calendários letivos dos países e
o atraso nas autorizações legais para a aplicação dos questionários,
não foi possível completar a amostra”, explica Kátia.
Denominado “Fatores de risco
e fatores de proteção relacionados com o âmbito escolar:
sua incidência no consumo de álcool e tabaco em alunos de
11 anos de idade, brasileiros e espanhóis”, o estudo foi
realizado sob a coordenação da professora María Pérez Solís,
da Universidade Complutense, a partir do programa de cátedras
mantido pelas duas universidades.
No primeiro semestre de
2007, María Pérez Solís esteve na Unicamp, enquanto Kátia
Stancato passou quatro meses em Madri, no segundo semestre
do mesmo ano. A professora María Pérez Solís desenvolveu
parte da pesquisa com a colaboração do psicólogo espanhol
Isaac Garrido Gutiérrez. No Brasil, Kátia contou com a participação
das psicólogas Caroline Conceição Bispo e Alexandra Luciana
Licco, da aluna do terceiro ano de Enfermagem Ana Carolina
Gaban, e da funcionária da Reitoria Eliene Barros.
Influência dos pais
Uma porcentagem elevada de pais e de mães consome bebidas
alcoólicas, o que poderia indicar um modelo de conduta por
parte dos filhos. Entre os espanhóis, 78,5% dos pais e 58,8%
das mães fazem uso do álcool, enquanto no público brasileiro,
as mães é que consomem mais bebidas alcoólicas. Elas somam
58,8% e os pais, 49%.
Nos resultados brasileiros
existe ainda um fator a ser destacado: 36,6% dos entrevistados
declararam já ter presenciado a mãe embriagada e, em 11,6%,
o pai é quem foi visto alcoolizado, diferentemente dos dados
espanhóis, cujo índice foi insignificante neste aspecto.
Já a maioria dos participantes espanhóis e brasileiros obteve
a bebida em bares, lugares de diversão e em supermercados.
Os participantes de ambos os países assinalam como principais
motivos para a ingestão de álcool “uma forma de celebração”
e “esquecer problemas”.
As circunstâncias em que
se dá o consumo das drogas legais também foi alvo de investigação
das pesquisadoras. Segundo o relatório, as festas de Natal
e Ano Novo, casamentos e batizados são as principais datas
em que o consumo das drogas é mais ostensivo. “O estudo
descritivo evidenciou que as circunstâncias em que se produz
o consumo de bebidas alcoólicas e de tabaco, fundamentalmente,
são as festas de Natal e Ano Novo, como se as datas fossem
um ritual de iniciação”, destaca trecho das conclusões do
relatório.