No ano de 1971, o curso de extensão universitária de Música, ministrado pelo professor e maestro Hans Joachim Koellreutter, e o primeiro concerto oficial do Coral Unicamp, realizado na Catedral Metropolitana de Campinas, sob regência do maestro Benito Juarez, se transformaram em marcos históricos do Instituto de Artes. O empenho e a ação de intelectuais e cientistas dotados de forte espírito humanista como Rogério de Cerqueira Leite, Friedrich Gustav Brieger, Marcelo Damy de Souza Santos e José Aristodemo Pinotti contribuíram de forma decisiva para a criação do Instituto. Artistas como Benito Juarez, Natan Schwartzman, Raul do Valle, Almeida Prado, Álvaro Bautista, Bernardo Caro, Celso Nunes, Paulo Bastos Martins estabeleceram as diretrizes para a definição dos departamentos e dos cursos oferecidos pela unidade. Todas essas ações eram coordenadas e estimuladas pelo então reitor da Unicamp, professor Zeferino Vaz, que tinha clareza de que uma instituição universitária, para fazer jus a essa denominação, para ser “universitas”, precisa contemplar todas as áreas do conhecimento, inclusive as artes.
O primeiro vestibular realizado em 1979, para o curso de Música, nas modalidades Composição e Regência, inaugurou as atividades de ensino. Porém, somente em 1985, o IA passou a funcionar oficialmente como unidade de ensino e pesquisa. Atualmente, possui seis departamentos: Música, Artes Plásticas, Artes Corporais, Artes Cênicas, Multimeios e Cinema. Os cinco cursos de graduação abrangem as áreas de Música (com as modalidades Instrumentos, Composição, Regência, Música Popular e Licenciatura), Educação Artística (bacharelado e licenciatura), Artes Cênicas, Dança (bacharelado e licenciatura) e Comunicação Social/Midialogia.
Os cursos oferecidos pelo IA são muito bem avaliados nacionalmente. Seus programas, montados de modo a integrar a reflexão apoiada em bases científica e filosófica com o fazer artístico, vêm se destacando na formação de profissionais em condições de atuar tanto como produtores/criadores como pesquisadores acadêmicos.
A preocupação em oferecer cursos que contemplem a prática artística produz resultados muito positivos. Os grupos que se formam durante a graduação em Artes Cênicas têm participado com destaque em eventos relevantes como o Festival de Teatro de Curitiba, por exemplo, obtendo premiações importantes. Muitos espetáculos montados por esses grupos se apresentam em espaços da própria Unicamp, da cidade de Campinas ou se integram nos circuitos em âmbitos estadual e regional. Alguns têm vida longa como o Matula Teatro, que desenvolve o projeto Arte/Exclusão Social, realizando oficinas de artes cênicas com moradores de rua e o Boa Companhia, formado por alunos da Pós-Graduação em Artes, que desenvolve, desde 1992, importante trabalho de pesquisa e de produção e espetáculos cênicos.
Os alunos de Dança também vêm atuando de maneira expressiva em diversos eventos como o Festival Internacional da Nova Dança, de Brasília. É crescente o número de ex-alunos que ingressaram com sucesso em companhias de dança nacionais, como a Companhia de Dança de Minas Gerais, da Fundação Clóvis Salgado, e a Companhia Quasa, de Goiânia. Em 2003, coube a uma aluna do curso de Dança o prêmio Moinho Santista de Dança na modalidade “Jovem Pesquisador”. Destaque-se ainda a iniciativa de uma ex-aluna que fundou em 1994 a Confraria da Dança, uma entidade que desenvolve, em parceria com prefeituras da região, cursos, projetos educativos e eventos de grande relevância cultural e artística.
Jovens egressos do curso de Música têm se destacado profissionalmente em diversas áreas. Regentes, instrumentistas, intérpretes, compositores formados pela Unicamp têm conquistado espaços importantes no meio artístico nacional. Vale destacar a atuação dos músicos do Quarteto Choro Elétrico (Daniel Müller, Eduardo Lobo, Danilo Penteado e Lucas da Rosa), o violonista Alessandro Penezzi e o instrumentista e compositor Chico Saraiva, ganhadores do Prêmio Visa.
Uma iniciativa ousada do Departamento de Multimeios foi a criação do curso de Comunicação Social, modalidade Midialogia, voltado para a atuação no campo dos meios audiovisuais (fotografia, rádio, som, cinema, televisão, vídeo, internet). Tendo como objetivo o estudo das mídias, dos meios audiovisuais, a partir dos seus contextos sócio-históricos, suas linguagens, seus códigos e suas condições técnicas, visando a formação de profissionais para atuar nesse campo, o curso está entre os três mais procurados ou disputados da Unicamp, ou seja, os que registram maior número de candidatos por vaga. Criado em 2003, alguns dos seus alunos conquistaram prêmios importantes. Em 2005, os estudantes André Nogueira e Diego Costa tiveram seus trabalhos entre os dez selecionados no concurso internacional Siemens Micromovies Award. No mesmo ano, o aluno Alexandre Kakahara foi indicado para participar do prêmio Goldman & Sachs Global Leaders e foi agraciado.
Ao mesmo tempo, há estudantes que manifestam o interesse pela pesquisa acadêmica já na graduação. O Instituto vem oferecendo a esses alunos oportunidades cada vez maiores para que desenvolvam pesquisas de iniciação científica o número de inscrições de jovens pesquisadores do IA, nos três últimos Congressos Internos de Iniciação Científica, cresceu de 32 para 51. Muitos deles ingressam em programas de Pós-Graduação e se integram à carreira acadêmica. Já é bastante significativo o número de ex-estudantes atuando como docentes tanto na própria Unicamp como em outras instituições de ensino superior do país.
Com relação à Pós-Graduação, o Departamento de Multimeios foi responsável pelo primeiro curso de mestrado da unidade, criado em 1985. Trata-se de um programa pioneiro na área pelo fato de se apoiar na utilização de diversos meios audiovisuais a partir de uma base teórica multidisciplinar resultante da interface entre os campos das Ciências Humanas, Exatas e Biológicas. Conhecimentos oriundos dessas diferentes áreas acadêmicas dão sustentação às pesquisas sobre distintos meios audiovisuais como o cinema, a fotografia o vídeo e o suporte digital como formas de expressão artística. Em 1997, o Conselho Universitário aprovou a criação do curso de doutorado nessa mesma área.
Os demais departamentos do IA implantaram em 1989 o mestrado em Artes, contemplando as áreas de Artes Cênicas, Musicais e Visuais. O programa tinha como perspectiva a integração, a partir da interdisciplinaridade, da reflexão teórica com a prática artística. Seu objetivo era formar pessoal habilitado para o exercício da docência em nível superior e da pesquisa. Porém, foi nos últimos anos que a produção dos programas de Pós-Graduação do IA se expandiram de forma mais significativa. Em 2001 foram criados o mestrado e doutorado em Música, e em 2005 o doutorado em Artes. Mas o desenvolvimento da pós não se deu apenas em termos quantitativos. De acordo com a avaliação da área de Artes/Música da Capes para o triênio 2001-2003, os programas do IA ficaram entre os dez melhores do país, sendo que o de Música obteve o conceito mais alto dentre os cursos equivalentes do Estado de São Paulo, com nota 5.
As linhas de pesquisa dos programas de Pós-Graduação estão sintonizadas com as atividades de pesquisa de ponta do país, tanto com relação a questões teóricas como aos processos criativos. O IA já produziu 511 dissertações de mestrado e 41 teses de doutorado. Porém, o desenvolvimento das atividades de pesquisa exige um esforço cada vez maior dos docentes para intensificar a busca de financiamento dos projetos junto aos órgãos de fomento. Para atender a essa necessidade, a direção criou em 2003 a Assessoria a Projetos de Pesquisa para auxiliar na captação de recursos para essas atividades.
Além do ensino e da pesquisa, são relevantes para a unidade as produções artísticas e culturais. Dentre elas, destaca-se o Festival do Instituto de Artes (FEIA), organizado pelos estudantes anualmente desde 2000 e que tem ampliado sua repercussão nos últimos anos. São oficinas de arte, cursos, mostras, palestras e debates que ocupam não apenas as dependências e equipamentos do Instituto, mas espaços como a Casa do Lago, no interior do campus, a Moradia Estudantil da Unicamp, o Sesc de Campinas, a Estação Cultura ligada à Prefeitura da cidade etc. O evento envolve centenas de estudantes e atinge um público numeroso. É um momento especial de forte integração entre as diversas áreas do IA, entre o IA e a Unicamp e entre a Universidade e a comunidade externa. Além do aprendizado proporcionado pelas atividades artísticas e acadêmicas que compõem o FEIA, os alunos têm a oportunidade de acumular experiência de produção de eventos artísticos e culturais, atividade estratégica para a inserção dos novos artistas no mercado de bens culturais.
Pode-se afirmar que ao longo dos seus 35 anos de existência, o Instituto de Artes se firmou como unidade acadêmica respeitável tanto pelas suas atividades de ensino e pesquisa, como pela sua produção artística. O seu crescimento em termos quantitativos, associado à criação de novos cursos e à expansão do número de vagas, bem como o reconhecimento público da qualidade das atividades acadêmicas se deve fundamentalmente ao empenho e ao esforço de seus docentes, funcionários e estudantes. Mesmo convivendo com a insuficiência de instalações, equipamentos e espaço físico decorrente até certo ponto da situação orçamentária desfavorável por que passa a Universidade, o IA registrou, nos últimos anos, índices expressivos de crescimento dos seus indicadores de produtividade. Desse modo, vem se firmando no interior da comunidade da Unicamp como unidade produtora de conhecimento. Porém, não de um conhecimento nos moldes do das ciências naturais, voltado para a explicação dos fenômenos a partir da “causa funcional” entre eles; nem do conhecimento de correntes das ciências humanas que buscam a explicação dos eventos pela compreensão da “conexão de sentido” entre as ações sociais. Trata-se de um conhecimento de outra natureza. Como dizia o saudoso professor Octavio Ianni, o conhecimento artístico está ligado à revelação. Trata-se de uma “terceira e também fundamental forma de criação cultural (...) que leva consigo esclarecimentos. São linguagens artísticas nas quais as elaborações estéticas clarificam ângulos insuspeitos da realidade (...) e realizam uma singular forma de esclarecimento com a qual se propicia o encantamento”.