Outubro, final da manhã. Um grupo formado por cinco jovens trava animada conversa diante do Centro de Ensino de Línguas (CEL) da Unicamp. O diálogo é em português, mas é possível perceber, pela profusão de sotaques, que entre eles há representantes de diferentes países. O quinteto freqüenta, junto com dezenas de outras pessoas, o curso de português para estrangeiros oferecido pelo CEL. Graças ao aprendizado do idioma, estão tornando-se aptos não apenas a interagir com os demais membros da comunidade acadêmica, mas também a compreender melhor os variados aspectos que caracterizam a cultura brasileira. “Aqui, a impressão que temos é que estamos numa convenção internacional em Genebra e não na Unicamp”, afirma, em tom bem-humorado, a professora Maria Cecília Fraga, a diretora do Centro.
O curso de português para estrangeiros é apenas uma das inúmeras atividades desenvolvidas pelo CEL, que iniciou seu trabalho em 1988. Por intermédio do Centro, estudantes (graduação e pós-graduação) e professores vindos de outros países aprendem o idioma local, o que torna a permanência desses visitantes no Brasil bem mais profícua e agradável. Para facilitar as aulas, conforme a professora Maria Cecília, os alunos são divididos em dois grupos: os falantes de línguas espanholas e os falantes das demais línguas estrangeiras. Em pouco tempo, todos se tornam capazes de se comunicar em português.
Além disso, o CEL, que mantém vínculo acadêmico com o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), também oferece disciplinas obrigatórias e eletivas para a comunidade universitária. Atualmente, o Centro conta com cerca de 1.500 matriculados. Destes, perto de 90% são estudantes dos cursos de graduação da Universidade. “Ao reunir esse número expressivo de pessoas interessadas em aprender um segundo ou terceiro idioma, o CEL assume a condição de espaço privilegiado de vivência. Aqui, os alunos da música e da física interagem com os da biologia e da engenharia civil. Nesse ambiente, o aprendizado é ainda mais enriquecedor”, afirma a professora Terezinha de Jesus Machado Maher, coordenadora de disciplinas do órgão.
De acordo com Terezinha, além de adquirirem conhecimento lingüístico, os alunos do CEL têm a chance de ampliar o seu repertório cultural. “Isso ocorre porque os estudantes não tomam contato apenas com uma língua estrangeira, mas também com elementos relacionados a ela, tais como a religião, a música, a culinária, os costumes etc. No caso dos brasileiros, esse processo contribui inclusive para o surgimento de manifestações de brasilidade durante as aulas. Ou seja, muitas pessoas começam a se perceber a partir do confronto com o outro”, explica a professora Anabel Deuber, diretora-associada do Centro.
Segundo Anabel, esse aspecto ajuda a desmoronar o mito segundo o qual o aprendizado de outro idioma coloca em risco a identidade cultural do aluno. “A nossa experiência demonstra que o que ocorre é justamente o contrário. Quando uma pessoa passa a falar uma língua estrangeira, ela tem uma melhor percepção da cultura do outro. Do mesmo modo que o outro passa a compreender melhor a cultura dela. Esse exercício não subtrai, soma”, assegura a diretora-associada.
Um aspecto interessante do CEL é a sua capacidade de refletir os movimentos proporcionados pelo processo de globalização. Uma tendência bastante perceptível entre os alunos é a busca pelo plurilingüismo. Atualmente, em razão da abertura e/ou ampliação de novos mercados profissionais, os jovens procuram aprender um terceiro ou até mesmo um quarto idioma, como forma de se colocar no mundo. “Como a procura nesse sentido tem sido crescente, o atendimento à demanda tem se tornado cada vez mais difícil”, lembra a professora Maria Cecília.
Atualmente, o CEL oferece aulas de inglês, francês, alemão, japonês, italiano, espanhol, russo e hebraico, além de português para estrangeiros. A procura por esses idiomas, de acordo com as docentes, varia de ano para ano. A demanda pelo inglês, por exemplo, vem sofrendo certo declínio, ao contrário do que acontece em relação ao espanhol e italiano. Mas quais são os fatores que estimulam o interesse do estudante por esta ou aquela língua estrangeira? Segundo a professora Terezinha Maher, as razões são múltiplas. “Há desde as motivações religiosas até as que envolvem questões de consangüinidade, passando evidentemente pelas relacionadas à carreira. Um fato que chama a atenção são os acontecimentos geopolíticos relativos a determinada região ou país. Quando ocorre um conflito no Oriente Médio, por exemplo, o interesse pelo hebraico aumenta”, revela.
Extensão Subordinado administrativamente à Reitoria da Unicamp, o CEL também oferece cursos de extensão, que são pagos e podem ser freqüentados inclusive por integrantes da comunidade externa. Além disso, trabalha em parceria com a Agência de Formação Profissional da Unicamp (AFPU), proporcionando cursos de língua estrangeira para o corpo funcional da Universidade. O Centro executa, ainda, serviços como a aplicação de teses de proficiência e de tradução. O órgão conta com 12 funcionários e 35 professores, sendo que 16 deles atuam em regime de tempo integral.
Conforme a professora Maria Cecília, o CEL tem analisado a adoção de alternativas metodológicas para ampliar o alcance do seu trabalho. Uma experiência já em curso é o ensino semipresencial, nas disciplinas de alemão. “Como esse aprendizado é automonitorado, além de aprender a língua estrangeira, os alunos têm a oportunidade de refletir sobre as suas estratégias de aprendizagem”, explica a diretora do Centro. Outras informações sobre o CEL podem ser obtidas no endereço.