Está marcado para o próximo dia 31, no Centro de Convenções, mais um seminário do Fórum Permanente de Desafios do Magistério, desta vez abordando um tema em ebulição dentro da Unicamp e de outras instituições de ensino que oferecem as chamadas licenciaturas: os estágios e práticas na formação de professores. A Unicamp, em particular, vem promovendo intensa discussão interna que se ampliou desde 2003, quando o Conselho Universitário (Consu) aprovou uma mudança no regimento, transferindo para as faculdades e institutos a responsabilidade pela formação de professores, o que há 30 anos era atribuição exclusiva da Faculdade de Educação. Com isso, as unidades, que até então se encarregavam somente dos bacharelados em nível de graduação, vêm repensando seus currículos, inclusive em relação à carga horária e formas de trabalho dos estágios e atividades práticas.
“Em seguida à decisão do Consu, a Reitoria criou a Subcomissão Permanente de Formação de Professores, que reúne os coordenadores das unidades que mantêm cursos de licenciatura, com a expectativa de que esta instância levasse adiante o processo de reorganização dos currículos, tendo em vista as novas diretrizes do Ministério da Educação para esses cursos”, explica a professora Lílian Lopes Martin da Silva. Ela e o professor Antonio Carlos Rodrigues de Amorim, ambos da Faculdade de Educação, dividem a presidência da Subcomissão desde janeiro de 2004.
“O primeiro desafio da Subcomissão foi criar seus próprios parâmetros de trabalho uma espécie de regimento interno e então passar a discutir a reformulação dos currículos, já que todos os cursos tinham até o final de 2005 para se adequar às novas diretrizes, submetendo-se a novo processo de credenciamento junto ao MEC”, lembra Lílian. Ela observa que, apesar do amadurecimento notado nesses quase três anos de trabalho, não se trata de discussão fácil, pois a responsabilidade de pensar a formação do professor na universidade sempre foi delegada à Faculdade de Educação. “São inúmeros os conflitos em cada unidade, como por exemplo, aqueles relativos as dimensões da pesquisa e da formação profissional no âmbito de cada curso”, afirma.
Segundo o professor Antonio Carlos Amorim, a polêmica em torno da formação persiste no interior da Universidade, mas não mais por causa de uma disputa entre a FE e as outras unidades em torno da responsabilidade pelos cursos de licenciatura. “O problema é a inexistência de propostas articuladas quanto ao campo profissional do professor, o que tem a ver com a história e a finalidade de cada unidade. Há uma afinidade muito grande com a licenciatura em algumas áreas; em outras, quase nenhuma. Isso pode trazer impactos ao bacharelado, já que a formação de professores está atrelada a estágios, práticas e discussões de temas delicados como a ética”, afirma.
Amorim ressalta a peculiaridade da Unicamp na reformulação de não adotar, como norte exclusivo, o conjunto das diretrizes curriculares nacionais para os cursos de licenciatura, devido a matrizes de pensamento muito distintas dentro das unidades. “Havia aquelas que tinham acabado de reformular seus cursos e outras onde ainda era grande a discussão quanto ao perfil do bacharel. Nas ciências humanas, por exemplo, os métodos de pensar e produzir conhecimento estão muito próximos da atuação de um professor”, compara.
No entanto, se até o final de 2003 o aluno da Unicamp fazia o bacharelado e depois uma outra habilitação para se tornar professor, as novas diretrizes do MEC rompem com esta concepção de complementaridade na formação, propondo uma maior identidade da profissão, ou seja: o aluno entra na universidade para se tornar bacharel ou para se tornar professor. Ainda assim, a Subcomissão da Unicamp não viu necessidade desta separação. “Nossa análise foi de que há concomitância possível, apesar da grande mudança nos conteúdos e nas práticas, de formação entre o bacharel e o licenciado. Os percursos precisam se distinguir, mas interagem entre si.. Pretendemos confirmar essas impressões iniciais com o acompanhamento e avaliação dos cursos a partir do próximo ano”, adianta Amorim.
A prática As novas diretrizes básicas também enfatizam as atividades práticas, talvez a questão mais polêmica no campo da educação, atualmente. Na visão do MEC, para a formação do professor não bastam o conhecimento (incluindo os pedagógicos), mas também uma grande quantidade de horas (aproximadamente 1.000 em 2.800 do curso) em estágio e atividades práticas de ensino e culturais. “Associações nacionais de formação de professores lutam contra esta resolução, temendo uma praticidade excessiva em detrimento da reflexão. Por outro lado, há muitas pesquisas indicando que o conhecimento e a experiência advêm da interação prática. Temos aí uma discussão acalorada na educação”, diz Antonio Carlos Amorim.
Por isso mesmo, observa a professora Lílian Martin da Silva, os estágios e as atividades práticas para a formação de professores centralizarão os debates durante o 15º Seminário do Fórum Permanente de Desafios do Magistério. “O encontro é uma oportunidade de trazer esse debate à comunidade interna e aos parceiros da região, e também para pensar soluções conjuntamente com as universidades e demais convidados”, afirma a professora. O Fórum é uma parceria entre a Faculdade de Educação, a Acorde Cooperativa Educacional e a Rede Anhangüera de Comunicação (RAC). A programação, o formulário para inscrições e outras informações estão no endereço.