Em busca do apoio da sociedade e do governo para seu projeto, pesquisadores da Unicamp, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e da Embrapa Meio Ambiente divulgaram documento extraído do fórum “Monitoramento da Rota Sul: apoio técnico e científico na prevenção e no combate à influenza aviária”, listando as principais ações que seriam colocadas em prática a partir do aval das autoridades. O fórum realizado em 16 de outubro na Unicamp ganhou ampla repercussão na mídia e contou com a participação de técnicos e especialistas do Ministério do Meio Ambiente, de Centros Nacionais da Embrapa (de Suínos e Aves e de Informática e Agropecuária), da Coordenadoria de Defesa Agropecuária de São Paulo, do Centro de Vigilância Epidemiológico, do Instituto Biológico, do Instituto Zoológico, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, do Hospital das Clínicas da Unicamp, da Associação Paulista de Avicultores, do Conselho Regional de Medicina Veterinária e do Programa Antártico Brasileiro da Marinha do Brasil.
Fórum na
Unicamp
atrai técnicos
e repercute
na mídia
Segundo o documento assinado pelo Grupo de Influenza Aviária, as instituições envolvidas no projeto estão disponibilizando seus conhecimentos técnicos e a experiência científica para inserir o Brasil na luta mundial contra os avanços geográficos da doença. Os pesquisadores ressaltam que o país é o maior exportador mundial de frango e que um embargo comercial por causa da doença traria conseqüências graves para a economia e a sociedade, visto que essa indústria responde por 1,5% do PIB e por aproximadamente 800 mil empregos diretos.
“Após um período em que a influenza aviária esteve fora dos noticiários, espera-se um recrudescimento dos surtos com a chegada de baixas temperaturas no Hemisfério Norte e o início da temporada de migração de aves. O surgimento de novos surtos na China e a confirmação de mais quatro pessoas (Indonésia e Egito) contaminadas pelo vírus apontam nessa direção”, adverte o documento.
Os técnicos explicam que há duas rotas principais de chegada de aves migratórias ao Brasil: a do norte e outra do sul. A primeira, cujo ponto de entrada no continente americano é o Alasca, vem sendo cuidadosamente monitorada pelos Estados Unidos, Canadá e países da América Central, o que significa que os brasileiros receberão aviso prévio da presença do vírus H5N1 no continente, permitindo ações de preparação e implementação de programas de contingenciamento.
No entanto, diz o documento, cerca de 40% das aves migratórias vêm ao Brasil pela rota sul, onde praticamente não há monitoramento. Se o vírus chegar através de aves migratórias do sul, saberíamos de sua chegada apenas após encontrá-lo em território nacional, o que acarretaria sanções imediatas e pesados prejuízos para o país. No quadro, as ações principais propostas no documento.
AS CINCO AÇÕES |
1. Coleta de material em aves migratórias em ilhas sub-antárticas antes da chegada dessas aves ao Brasil. O material coletado passará por um processo de inativação, evitando assim qualquer risco de contaminação;
2. Diagnóstico molecular rápido do material e seqüenciamento genético viral. Este é o método mais rápido e moderno aceito pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). O laboratório de referência nacional e único autorizado a emitir diagnóstico definitivo para influenza aviária no país é a rede Lanagro;
3. Identificação de comportamento, ecologia, caracterização de rotas e descrição de calendário das espécies migratórias para que, uma vez identificado o vírus em alguma espécie, estejam disponíveis informações acerca dos locais e épocas em que essas espécies chegam ao país. Dessa forma será possível determinar zonas e períodos de maior risco de chegada do vírus, otimizando o trabalho das autoridades competentes na prevenção e combate ao vírus.
4. Desenvolvimento de um modelo matemático que simule cenários de alastramento da doença para subsidiar a escolha de estratégias e a adoção de políticas e medidas adequadas, auxiliando os processos de tomada de decisão;
5. O desenvolvimento de um banco de dados – destinado a autoridades federais e estaduais com responsabilidade na área – compreendendo não apenas as características das aves migratórias (ecologia, comportamento, locais e datas de migração), mas também informações de diagnóstico e das características virais úteis à prevenção e combate à doença. Esse banco de dados poderá, ainda, ser integrado ao banco de dados que vem sendo desenvolvido pela Embrapa Informática e Agropecuária, permitindo unir informações de aves migratórias às de localização de granjas. |