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Programa desperta talentos de escolas públicas
Segunda turma do PICJr
reuniu 143 estudantes do ensino médio
Tarde de quarta-feira, 14h30. Jéssica Cristina da Fonseca,
18 anos, movimenta-se com desenvoltura pelo laboratório do
Núcleo de Cirurgia Experimental, espaço vinculado à Faculdade
de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Manipula equipamentos,
prepara amostras de DNA e registra resultados em relatório.
Apesar da familiaridade com as práticas científicas, ela não
é aluna de graduação da Universidade. A garota de personalidade
tímida, mas de fala segura, é uma das participantes da segunda
turma do Programa de Iniciação Científica Júnior (PICJr),
cujas atividades se encerraram na última sexta-feira. Durante
um ano, Jéssica e outros 143 estudantes do ensino médio de
escolas públicas da região de Campinas e das cidades de Limeira
e Piracicaba tiveram a oportunidade de adquirir novos conhecimentos
em suas áreas de interesse, por meio do contato direto com
alguns dos mais modernos métodos científicos. “Gostei muito
da experiência. O que aprendi aqui será muito útil na minha
futura carreira”, considera a jovem, recém-admitida no curso
de Educação Física da Pontifícia Universidade Católica de
Campinas (PUC-Campinas).
A cerimônia de encerramento
da segunda edição do PICJr ocorreu no auditório da FCM. Na
oportunidade, os participantes do programa apresentaram painéis
sobre os projetos que desenvolveram no último ano. Em comum,
eles demonstraram grande interesse em dar sequência às investigações
científicas. Esta característica, conforme o pró-reitor de
Pesquisa da Unicamp, professor Ronaldo Aloise Pilli, é um
dos aspectos mais marcantes do programa. Ele lembra que a
Universidade foi a primeira entre as instituições públicas
de ensino superior paulistas a aderir ao PICJr, que tem como
principal objetivo despertar talentos e vocações entre os
estudantes do ensino médio. “A primeira grande consequência
dessa experiência é, sem dúvida, fazer com que os jovens entendam
que o saber científico é uma construção humana que pode resultar
em benefícios para a sociedade”, afirma.
Ademais,
prossegue o pró-reitor, a participação no PICJr faz com que
os adolescentes enxerguem a Unicamp como um espaço aberto
à sociedade. “Essa abertura não se refere apenas àqueles que
ingressam na instituição por intermédio do vestibular ou pelos
processos seletivos da pós-graduação. Qualquer pessoa pode
desfrutar do universo de conhecimentos e das atividades realizadas
pela Universidade. Os fóruns, seminários e debates que promovemos
estão abertos a todos os interessados”, assinala. Segundo
Pilli, o desempenho dos estudantes que têm participado do
programa de iniciação científica é frequentemente muito bom.
“Eles demonstram muito engajamento e dedicação às atividades
propostas. O índice de desistência ou de remanejamento de
áreas é muito baixo”, informa. A avaliação é compartilhada
pelos docentes que atuam na orientação dos jovens.
A médica Eliana Cotta de Faria,
professora da FCM, aderiu pela primeira vez ao PICJr em 2009,
cuja edição acaba de ser concluída. Ela orientou a estudante
Jéssica Fonseca, a personagem inicial deste texto. Em sua
avaliação, a jovem saiu-se muito bem nas tarefas propostas.
“A Jéssica sempre demonstrou muito interesse e compromisso.
Ela participou de um projeto em torno do estudo dos polimorfismos
do gene da lípase hepática, que podem aumentar o risco do
desenvolvimento da arteriosclerose. A função dela foi preparar
o DNA para as análises, o que exige muita atenção. Inicialmente,
combinados que ela viria duas vezes por semana. Mas seu envolvimento
com a pesquisa foi tão grande que, depois de um tempo, ela
decidiu por conta própria vir um dia a mais ao laboratório”,
relata a orientadora.
Na opinião da docente, programas
como o PICJr oferecem aos estudantes do ensino médio uma oportunidade
que eles dificilmente teriam no contexto da escola pública
ou mesmo privada. “Através dessa experiência, eles desenvolvem
conhecimentos e habilidades que serão fundamentais tanto para
o seu desenvolvimento profissional quanto pessoal. Para nós
orientadores, o contato é igualmente importante, pois temos
a chance de despertar talentos e vocações. Além disso, também
temos a grata satisfação de conviver com o entusiasmo e a
curiosidade da juventude”. Para a estudante Jéssica, que cumpriu
o ensino médio na Escola Estadual Adoniram Barbosa, em Valinhos,
a participação no programa trouxe e trará consequências positivas
para a sua vida. “Vou sentir saudade, pois fiz muitas amizades
na Unicamp. Penso que o que aprendi aqui será muito útil no
meu curso de Educação Física. A experiência vai me ajudar
a compreender melhor, por exemplo, porque a atividade física
pode trazer benefícios ao organismo humano”, prevê.
Jorge
Luiz Trabanco, professor da Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo (FEC) orientou três alunos participantes
da segunda edição do PICJr. Segundo ele, o aproveitamento
do trio foi muito bom. “Foi uma experiência gratificante.
A partir do conhecimento deles sobre geometria e trigonometria,
promovemos a observação de dados de satélite, visando à aplicação
em levantamentos topográficos. Um efeito positivo desse trabalho
é que esses jovens voltarão para as suas escolas e servirão
de referência aos colegas, que eventualmente também procurarão
participar de atividades semelhantes”.
Watson Loh, docente do Instituto
de Química (IQ), orientou duas integrantes do PICJr. As adolescentes
atuaram em um projeto desenvolvido em colaboração com a Petrobras,
voltado à avaliação das possibilidades de controle da viscosidade
do petróleo classificado como pesado. Por ser muito viscoso,
o produto é difícil de ser transportado desde o poço, o que
dificulta a sua exploração. As estudantes analisaram a solubilidade
de uma série de compostos químicos, para que pudessem ser
posteriormente testados como aditivos no petróleo. Conforme
Watson Loh, as estudantes demonstraram muito interesse e dedicação.
“Além de aprenderem coisas novas relacionados ao projeto,
elas também puderam conversar com outros alunos para conhecer
aspectos de outras pesquisas realizadas em nosso laboratório,
o que certamente ampliou o horizonte de ambas”. O docente
considerou a primeira experiência com o PICJr tão positiva
que adiantou que pretende participar do programa outras vezes.
Procura aumenta
O interesse dos estudantes
do ensino médio das escolas públicas da região de Campinas
e das cidades de Limeira e Piracicaba pelo Programa de Iniciação
Científica Júnior (PICJr) tem crescido ao longo dos anos.
A primeira edição contou com 490 inscrições. A segunda, com
750. “A terceira, cujas atividades serão iniciadas no próximo
dia 17 de maio, deverá somar perto de mil inscritos. Justamente
por conta dessa demanda é que estamos trabalhando para consolidar
o programa no âmbito interno da Universidade. Atualmente,
conseguimos abrigar somente a quinta parte dos interessados.
Nosso objetivo é acolher pelo menos um terço dos inscritos
brevemente”, adianta o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp,
Ronaldo Aloise Pilli.
A maior restrição à ampliação,
detalha o pró-reitor, é o número de projetos disponibilizados
pelos docentes e pesquisadores da Universidade. “Por isso
estamos empenhados em ampliar a oferta. Trata-se de uma iniciativa
em que todos ganham. Os adolescentes, por tomarem contato
precocemente com as práticas científicas. A Universidade,
por aproximar-se cada vez mais da sociedade, colaborando para
a melhoria da escola pública. E os nossos alunos de graduação
e pós-graduação, por terem a oportunidade de exercitar a sua
capacidade de transmissão do conhecimento junto a esses jovens”.
Pilli informa que a Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) estará
aceitando inscrições de projetos de pesquisas para a terceira
edição do PICJr até o dia 23 de abril. “A PRP está à disposição
dos docentes e pesquisadores para quaisquer esclarecimentos
a esse respeito”.
A
partir da próxima edição, como forma de estímulo, a Unicamp
destinará um auxílio no valor de R$ 3 mil para cada projeto
que receber participantes do programa. O dinheiro, de acordo
com o pró-reitor, deverá ser aplicado para cobrir as despesas
de custeio relacionadas a esses estudantes. Os participantes
do PICJr recebem uma bolsa mensal no valor de R$ 100,00, financiada
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). Além disso, também têm direito a auxílio transporte
e alimentação. Pilli destaca que a Unicamp tem atuado em colaboração
com as diretorias regionais de ensino de Campinas, com o intuito
de selecionar sempre os melhores alunos para integrar o programa.
O processo funciona da seguinte
forma. Os interessados escrevem uma redação e apresentam uma
cópia do histórico escolar. O tema da redação da terceira
edição do PICJr foi “Os impactos da ciência e da tecnologia
na sociedade contemporânea”. Depois de uma primeira análise,
cada escola indica até seis alunos para concorrer a uma vaga.
A seleção final é feita por um Comitê Assessor, constituído
por nove docentes da Universidade, que também se encarrega
de alocar os aprovados conforme a disponibilidade dos projetos
de pesquisas. “O PICJr tem se revelado uma iniciativa de sucesso,
graças ao envolvimento de nossos docentes, pesquisadores e
alunos. Em razão dos resultados alcançados e das possibilidades
que se apresentam, penso que o programa tem tudo para se consolidar
como uma das ações mais relevantes da Universidade, visto
que apresenta um forte potencial de transformação de seus
participantes, tanto no plano pessoal quanto profissional”,
considera Pilli.
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