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Tabus da incontinência urinária
são abordados em tese na FCM
A vergonha e o medo de se expor podem impedir muitas mulheres
de buscar tratamento para a perda involuntária de urina.
A questão é séria, pois se estima que o problema possa
comprometer até 50% da população feminina em alguma fase
da vida e, mesmo assim, a procura por ajuda médica ainda
é considerada um tabu. Muitas preferem sofrer caladas ao
invés de compartilhar a situação com um profissional de
saúde. São angústias e conflitos pelos quais passam essas
mulheres e não são poucas as consequências físicas, emocionais
e sociais. “Enfim, tinha conhecimento de que se tratava
de um problema de saúde, mas não imaginava tantos conflitos
desta forma”, atesta a enfermeira Rosângela Higa, que investigou
o universo de mulheres com perda urinária recorrente para
a sua tese de doutorado defendida no Departamento de Tocoginecologia
da Faculdade de Ciências Médicas (FCM).
Os resultados da pesquisa
demonstram claramente a importância do profissional de saúde
proceder a uma investigação profunda junto às mulheres que
frequentam os serviços de saúde no sentido de diagnosticar
a incontinência urinária. Para a enfermeira, que há mais de
20 anos trabalha no Hospital da Mulher-Caism, se o médico
não perguntar, a mulher dificilmente vai mencionar que está
perdendo urina. Neste sentido, a principal contribuição do
estudo, segundo a própria autora, é chamar a atenção de médicos
e enfermeiros para o problema e despertar o interesse entre
os demais profissionais da saúde. “No meu dia a dia, percebo
que raramente os profissionais fazem este tipo de questionamento
para as pacientes e, por conseguinte, elas não tocam no assunto.
É o silêncio como forma de proteção”, esclarece.
Outro fato que levou a enfermeira
a investigar o assunto foi constatar em sua pesquisa de mestrado,
realizada em 2004 também na FCM, que 27,5% da equipe feminina
de enfermagem de um hospital de Campinas tinha incontinência
urinária. E, desta porcentagem, 79% nunca haviam feito nenhum
tipo de tratamento. O índice fez com que Rosângela quisesse
entender o porquê das mulheres não procurarem ajuda médica
para um problema que causa enorme desconforto emocional e
social, ainda mais considerando que na pesquisa de mestrado
o foco eram mulheres diretamente ligadas a um serviço de saúde
e, portanto, com acesso fácil à informação e aos mais diversos
tratamentos.
O estudo de doutorado conduzido
por Rosângela Higa, orientado pelo professor Egberto Ribeiro
Turato e co-orientado por Maria Helena Baena de Moraes Lopes,
envolveu oito mulheres, com idades entre 30 e 45 anos, que
tinham queixas de perda urinária, mas nunca haviam realizado
tratamento. Todas as voluntárias possuíam condições socioeconômicas
menos favorecidas e estudaram, em média, cinco anos. Isto
porque a enfermeira queria saber se a situação financeira
ou o nível de escolaridade poderiam interferir na busca pelo
tratamento. Também foram selecionadas mulheres cujo trabalho
demandava grande esforço físico, uma vez que este aspecto
poderia intensificar o problema. A partir das respostas das
mulheres, foram analisados os significados da perda urinária,
assim como os fatores que impediam a procura por ajuda médica.
A maioria das mulheres demonstrou
subestimação do problema ao relatarem que a incontinência
urinária faz parte do processo de envelhecimento feminino
e, mais cedo ou mais tarde, todas passarão por isso. Rosângela,
no entanto, enfatiza que a afirmação não está correta e lembra
que são vários os procedimentos disponíveis para minimizar
ou até mesmo eliminar a doença. “Há tratamentos cirúrgicos
e conservadores, como por exemplo, os exercícios para a musculatura
do assoalho pélvico que podem restabelecer as funções”, destaca.
Para essas mulheres, a perda
de urina significou a perda de controle físico e emocional
do seu corpo, assim como de sua vida. Elas relataram medo
da rejeição, uma vez que a vida sexual também foi extremamente
prejudicada e, ainda assim, elas não compartilhavam sequer
com o marido os conflitos vividos. Sem contar as marcas na
roupa e o odor forte que levam ao constrangimento e, consequentemente,
ao isolamento social. Deixam de frequentar determinados lugares
e não usam qualquer tipo de roupa por conta da incontinência.
Quando a perda é intensa, precisam fazer uso de absorventes
ou optam pela restrição de líquidos como tentativa de esconder
o seu problema. “Uma das entrevistadas chegou a relatar que
sofre do problema há 23 anos. Ao mesmo tempo em que elas sofrem,
tentam esconder da sociedade. É um dilema”, conclui. (R.C.S.)
FICHA
TÉCNICA
Pesquisa:
“Significados psicossociais da perda urinária para mulheres
de condições socioeconômicas menos favorecidas: Um estudo
Clínico-Qualitativo”
Autora:
Rosângela Higa
Orientador:
Egberto Ribeiro Turato
Modalidade:
Tese de doutorado
Unidade:
Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
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