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Tabus da incontinência urinária
são abordados em tese na FCM

A enfermeira Rosângela Higa: “O silêncio é usado como forma de proteção” (Foto: Antoninho Perri) A vergonha e o medo de se expor podem impedir muitas mulheres de buscar tratamento para a perda involuntária de urina. A questão é séria, pois se estima que o problema possa comprometer até 50% da população feminina em alguma fase da vida e, mesmo assim, a procura por ajuda médica ainda é considerada um tabu. Muitas preferem sofrer caladas ao invés de compartilhar a situação com um profissional de saúde. São angústias e conflitos pelos quais passam essas mulheres e não são poucas as consequências físicas, emocionais e sociais. “Enfim, tinha conhecimento de que se tratava de um problema de saúde, mas não imaginava tantos conflitos desta forma”, atesta a enfermeira Rosângela Higa, que investigou o universo de mulheres com perda urinária recorrente para a sua tese de doutorado defendida no Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM).

Os resultados da pesquisa demonstram claramente a importância do profissional de saúde proceder a uma investigação profunda junto às mulheres que frequentam os serviços de saúde no sentido de diagnosticar a incontinência urinária. Para a enfermeira, que há mais de 20 anos trabalha no Hospital da Mulher-Caism, se o médico não perguntar, a mulher dificilmente vai mencionar que está perdendo urina. Neste sentido, a principal contribuição do estudo, segundo a própria autora, é chamar a atenção de médicos e enfermeiros para o problema e despertar o interesse entre os demais profissionais da saúde. “No meu dia a dia, percebo que raramente os profissionais fazem este tipo de questionamento para as pacientes e, por conseguinte, elas não tocam no assunto. É o silêncio como forma de proteção”, esclarece.

Outro fato que levou a enfermeira a investigar o assunto foi constatar em sua pesquisa de mestrado, realizada em 2004 também na FCM, que 27,5% da equipe feminina de enfermagem de um hospital de Campinas tinha incontinência urinária. E, desta porcentagem, 79% nunca haviam feito nenhum tipo de tratamento. O índice fez com que Rosângela quisesse entender o porquê das mulheres não procurarem ajuda médica para um problema que causa enorme desconforto emocional e social, ainda mais considerando que na pesquisa de mestrado o foco eram mulheres diretamente ligadas a um serviço de saúde e, portanto, com acesso fácil à informação e aos mais diversos tratamentos.

O estudo de doutorado conduzido por Rosângela Higa, orientado pelo professor Egberto Ribeiro Turato e co-orientado por Maria Helena Baena de Moraes Lopes, envolveu oito mulheres, com idades entre 30 e 45 anos, que tinham queixas de perda urinária, mas nunca haviam realizado tratamento. Todas as voluntárias possuíam condições socioeconômicas menos favorecidas e estudaram, em média, cinco anos. Isto porque a enfermeira queria saber se a situação financeira ou o nível de escolaridade poderiam interferir na busca pelo tratamento. Também foram selecionadas mulheres cujo trabalho demandava grande esforço físico, uma vez que este aspecto poderia intensificar o problema. A partir das respostas das mulheres, foram analisados os significados da perda urinária, assim como os fatores que impediam a procura por ajuda médica.

A maioria das mulheres demonstrou subestimação do problema ao relatarem que a incontinência urinária faz parte do processo de envelhecimento feminino e, mais cedo ou mais tarde, todas passarão por isso. Rosângela, no entanto, enfatiza que a afirmação não está correta e lembra que são vários os procedimentos disponíveis para minimizar ou até mesmo eliminar a doença. “Há tratamentos cirúrgicos e conservadores, como por exemplo, os exercícios para a musculatura do assoalho pélvico que podem restabelecer as funções”, destaca.

Para essas mulheres, a perda de urina significou a perda de controle físico e emocional do seu corpo, assim como de sua vida. Elas relataram medo da rejeição, uma vez que a vida sexual também foi extremamente prejudicada e, ainda assim, elas não compartilhavam sequer com o marido os conflitos vividos. Sem contar as marcas na roupa e o odor forte que levam ao constrangimento e, consequentemente, ao isolamento social. Deixam de frequentar determinados lugares e não usam qualquer tipo de roupa por conta da incontinência. Quando a perda é intensa, precisam fazer uso de absorventes ou optam pela restrição de líquidos como tentativa de esconder o seu problema. “Uma das entrevistadas chegou a relatar que sofre do problema há 23 anos. Ao mesmo tempo em que elas sofrem, tentam esconder da sociedade. É um dilema”, conclui. (R.C.S.)

 

FICHA TÉCNICA

Pesquisa: “Significados psicossociais da perda urinária para mulheres de condições socioeconômicas menos favorecidas: Um estudo Clínico-Qualitativo”

Autora: Rosângela Higa

Orientador: Egberto Ribeiro Turato

Modalidade: Tese de doutorado

Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

 

 

 

 
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