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Uma mortadela ‘dessalgada’ e sem gordura
Para quem não abre mão de um suculento sanduíche de mortadela,
mesmo sabendo dos altos teores de sal que possui um dos embutidos
mais populares do Brasil, eis uma boa notícia: a engenheira
de alimentos Cláudia Nakamura Horita conseguiu reduzir em
50% a quantidade de cloreto de sódio, além de deixar o produto
com apenas 10% de gordura. A novidade, desenvolvida na Faculdade
de Engenharia de Alimentos (FEA), passou no teste de avaliação
sensorial de 112 provadores. Embora a formulação necessite
de alguns ajustes, a engenheira e sua orientadora, professora
Marise Aparecida Rodrigues Pollonio, já comemoram o fato
de conseguir uma combinação que reduza os efeitos negativos
à saúde e atenda aos limites diários de ingestão de sal
recomendados pelos órgãos competentes.
Muitos trabalhos amplamente
divulgados já revelaram que, em média, cinco fatias ou 80
gramas do embutido constituem 48% do valor máximo que a pessoa
pode ingerir de sal no dia. No entanto, a redução do sódio
em produtos à base de carnes não é uma tarefa tão simples
como diminuir a quantidade na colher para o preparo de alimentos.
O cloreto de sódio, explica a engenheira, tem funções importantes
na conservação, textura e sabor da mortadela e, por isso,
não basta simplesmente reduzir os teores, sendo preciso encontrar
aditivos e ingredientes substitutos que funcionem da mesma
maneira e mantenham o embutido seguro e saboroso.
Cláudia lembra que, na produção
da mortadela, o sal tem um importante papel na vida útil do
produto por meio da redução da atividade de água e consequente
inibição no desenvolvimento da maioria dos microorganismos.
Além disso, uma concentração adequada é necessária para extrair
algumas proteínas da matéria-prima cárnea que funcionam como
emulsificantes no sistema antes da mortadela ser cozida, pois
elas serão as responsáveis pelas propriedades de textura.
Apenas reduzir o teor de sal, portanto, pode resultar em um
produto muito perecível com liberação de água e gordura. A
opção da pesquisadora, neste sentido, foi combinar outros
três tipos de sais de cloreto – o de potássio, o de cálcio
e o de magnésio em várias formulações, obtendo porcentagens
diferentes na composição final para fins de comparação.
A formulação com maior aceitação
sensorial foi aquela que reduziu o sódio em 50%, substituindo-o
por cloreto de potássio e de cálcio. No entanto, esta formulação
ainda demanda estudos, pois se obteve um produto com menor
estabilidade de emulsão que resulta em uma mortadela com propriedades
de textura diferentes da original e com menor rendimento no
processo. Os resultados mostraram uma diminuição de 15 dias
no prazo de validade com redução de 50% de sal, o que pode
resultar numa perda econômica grande, pois o tempo de validade
será menor e, de certa forma, isso implica numa reposição
mais frequente nas prateleiras.
No caso da redução de 75%
do cloreto de sódio, o produto não passou na análise sensorial
deixando um gosto amargo para os provadores. Como existem
vários compostos que podem ser usados para mascarar este tipo
de sabor, combinados com o uso de ervas e especiarias, Claudia
acredita que esta formulação também tem potencial de ser explorada.
Outro achado importante nessa pesquisa foi o fato de que não
houve influência das combinações dos sais substitutos sobre
o desenvolvimento de sabor de ranço.
Na próxima etapa do trabalho,
que será desenvolvido no projeto de doutorado de Cláudia Horita,
o desafio será aprimorar a composição de ingredientes e aditivos
para a redução do sal. Segundo a autora, o desenvolvimento
de novas formulações com apelos mais saudáveis terá grande
impacto sobre a qualidade da dieta dos consumidores fiéis
aos produtos cárneos. Esta é uma das razões pelas quais a
professora Marise Pollonio tem na redução de sódio de uma
variedade de embutidos uma de suas principais linhas de pesquisa.
FICHA
TÉCNICA
Pesquisa:
“Redução de cloreto de sódio em produto emulsionado
tipo mortadela: influência sobre a qualidade global”
Autora: Cláudia
Nakamura Horita
Orientadora:
Marise Aparecida Rodrigues Pollonio
Modalidade:
Dissertação de mestrado
Unidade:
Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
Financiamento: CNPq
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