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Tese revela mecanismos que fazem de
pré-adolescentes reféns do consumismo
A cada passo, a área de educação convive com situações que
desafiam até mesmo os seus profissionais. Não se trata apenas
de entender as tendências que surgem no cotidiano dos alunos
nos seus lares e na escola – essas mudanças exigem uma releitura
da realidade. Mais recentemente, os agentes dessas tendências
são os pré-adolescentes, chamados tweens, em alusão ao termo
inglês between, utilizado para designar o período entre a
infância e a adolescência. São crianças na faixa etária de
8 a 14 anos, clientes preferenciais do marketing e da mídia.
Uma pesquisa de doutorado defendida na Faculdade de Educação
(FE) se dedicou a compreender o perfil dessas crianças e a
especialista no assunto, a pedagoga e economista Maria Aparecida
Belintane Fermiano, destinou 500 páginas de sua tese a algumas
constatações. Ela revela: os tweens têm conquistado maior
autonomia e possuem o seu próprio dinheiro. Apesar disso,
o seu maior desejo ainda é estar mais tempo com suas famílias.
O trabalho, orientado pela
professora Orly Zucatto Mantovani de Assis, exigiu fôlego
de Fermiano. Nestes quatro anos, entrevistou 423 pré-adolescentes
de três escolas de municípios da Região Metropolitana de Campinas:
Sumaré, Nova Odessa e Americana, sendo duas de ensino privado
e uma pública. Os tweens, provindos das classes sociais A
a E, responderam a um questionário com 93 perguntas. A pesquisadora
averiguou nas respostas uma nítida relação do marketing com
o comportamento dos tweens e um investimento pesado em pesquisas
para procurar conhecer melhor os seus clientes, meras crianças,
mas com um poder de compra até então fora de suspeita.
No estudo, a pedagoga realiza
uma abordagem ampla, costurando revelações culturais, econômicas,
sociais, educacionais e familiares. Nele, traça um perfil
dos tweens amparado por um survey, metodologia que se aplica
mais à área de ciências sociais, de cunho qualitativo, a qual
caracteriza uma amostra e pode ser replicada em outras, verificando-se
se existe ou não correspondência de dados. “São raras as pesquisas
com esse tema e fins educacionais no Brasil. Todas as perguntas
foram consultadas em bases nacionais e internacionais. O intuito
era conhecer se as respostas coincidiam com as de outras crianças
na mesma faixa etária”, esclarece. O critério de seleção baseou-se
no consentimento da direção das três escolas e dos pais. Fermiano
aplicou pessoalmente o questionário em um dia combinado com
os professores.
A pedagoga conta algumas de
suas descobertas. Uma foi que a pesquisa confirmou seus pressupostos.
Um deles é que o fenômeno da globalização provoca transformações
radicais na economia, na sociedade e, por conseguinte, no
comportamento dos pré-adolescentes. Assim, explica ela, os
adultos têm razão ao falar que, “quando crianças, não agiam
da mesma maneira que os pré-adolescentes atuais”. “Isso é
verdade”, concorda.
Segundo ela, desde a Segunda
Guerra Mundial, o núcleo familiar tem se alterado muito culturalmente,
bem como a concepção de infância. Antigamente entendia-se
que “as crianças tinham que obedecer e acabou”. Hoje, observa-se
que, dentro de casa, os filhos são solicitados a participar
e a dar opiniões, isso com relação a compras, desde um simples
alimento até um móvel ou um equipamento eletrônico. “Essas
crianças gastam um tempo exagerado diante da televisão, levam
uma vida sedentária e comem mal. Este é um aspecto: a mídia
influenciando. Outro aspecto é o mundo econômico delas: gastam
e querem gastar cada vez mais. São crianças que estão num
universo cultural e tecnológico muito diferente que o dos
pais, e de grandes mudanças. Só que tais mudanças não podem
ser olhadas apenas como resultado dessas novas tecnologias”,
acentua Fermiano.
É que atualmente os tweens
fazem parte de uma família com perfil completamente diferente.
O casal sai para trabalhar e os filhos permanecem muito tempo
sozinhos. Logo, têm que providenciar sua alimentação e ganham
dinheiro para isso, pois os pais sempre deixam uma reserva
em seu poder. Estas crianças, observa a pesquisadora, já estão
inseridas num mundo econômico e constroem conhecimentos e
estratégias em suas compras. Também são tratadas como clientes
pelo marketing, sendo constantemente solicitadas a gastar
mais. E os pais, por outro lado, acabam reforçando a importância
do dinheiro para que elas possam se virar sozinhas, entre
outros aspectos.
Nos Estados Unidos, esses
pré-adolescentes gastaram na década de 60 cerca de US$ 2 bilhões
e, na década de 80, US$ 6 bilhões. “E o mercado continua crescendo.
É muito dinheiro”, opina Fermiano. Eles necessitam ser alfabetizados
economicamente para construírem estratégias de resistência
a esse bombardeio midiático para o consumo, valores e modelos
impostos. Ficou claro que “os tweens ainda se sentem sozinhos
e querem passar mais tempo em companhia da família”.
Em relação à mídia, a investigação
mostrou que essas crianças têm acesso à tecnologia, independentemente
do nível socioeconômico. Se pertencem a um nível mais baixo
e não possuem computador em casa, acessam-no na escola, na
casa de colegas ou em alguma lan house, ainda que não com
a mesma frequência dos que têm. Desta forma, não há como ignorar
que acabam tendo as mesmas influências que outras crianças.
Este é outro pressuposto confirmado: há características homogêneas
entre os comportamentos dos tweens de todos os níveis socioeconômicos
que são notadas nas relações interpessoais e de identidade,
na maneira de lidar com o cotidiano econômico e a mídia, observando-se
todo um sistema de significações que aí está sendo construído.
Eles gostam esmagadoramente
dos mesmos programas: Bob Sponja, seriados como Drake &
Josh, Hanna Montana e Jonas Brothers, refletindo a sua época,
relata a pesquisadora. “Em todos esses programas existe
um forte apelo em termos de comportamento, em relação às
vestimentas e aos gastos. E as crianças estão numa fase
em que, o que admiram, querem para elas, já que lidam com
muitas fantasias”, observa Fermiano. “Mesmo os pais as
considerando adultas e o marketing as tratando como clientes,
elas ainda são crianças. Não são pequenos adultos. Então
a fantasia ainda está presente, assim como outras necessidades
emocionais, afetivas e cognitivas que a tecnologia não é
capaz de substituir.”
A pedagoga pontua que, como
o meio ambiente em que eles vivem é muito solicitador, acabam
apresentando uma performance tecnológica muito exacerbada.
“São nativos digitais. Para eles, um mundo sem computador
inexiste. É um modo de vida. E as pesquisas têm corroborado
isso, indicando, por exemplo, que o computador e o celular
são até compreendidos como uma extensão do corpo das crianças.
Desta maneira, fica muito difícil para os adultos entenderem
quem são estas crianças.”
Lacuna
Somado a isso, os livros de
psicologia atuais não caracterizam essa faixa etária nativa
de um mundo globalizado. A teoria que ainda auxilia esta compreensão
está sustentada nos pilares da psicologia piagetiana e da
psicologia econômica. A teoria piagetiana, expõe a pedagoga,
dá conta de esmiuçar não somente as estruturas da criança
, mas também o sistema de significações que estabelece. É
a partir daí que constroi suas regras, seus valores, juntamente
com a família, com a sociedade e com os amigos neste contexto
social. “A estrutura cognitiva se desenvolve dentro de um
ambiente no qual os indivíduos precisam se adaptar e desenvolver
estratégias para agir conforme solicitados”, ensina.
Uma criança que está na frente
do computador é porque foi solicitada intelectualmente para
isso, diferentemente dos pais na sua infância. Tanto que com
dois, três anos ela está brincando com esta ferramenta. Fermiano
questiona como são hoje as estruturas dessas crianças diante
de tantas novas solicitações que o meio apresenta. “Não estou
dizendo que as estruturas cognitivas não existam, posto que
elas existem. Mas estamos perante um contexto cultural novo.
Quem são essas crianças? Como elas se adaptam? É neste sentido
que novas investigações devem ser feitas, reinterpretando
os tweens a partir das características da infância atual.”
A pesquisadora justifica, portanto, que por esta razão seu
trabalho precisou seguir uma divisão com três eixos: identidade
e relações interpessoais (informações sobre si, família, amigos,
escola), mídia (os comerciais e os programas que ela assiste)
e cotidiano econômico (se ela recebe dinheiro, com o que gasta,
se poupa).
Além da psicologia piagetiana,
a pedagoga recorreu à psicologia econômica, que estuda o comportamento
do consumidor frente às necessidades e à sua organização pessoal.
Esta vertente, exemplifica, busca estudar o nível micro: o
comportamento das pessoas e como que elas desenvolvem estratégias
para lidar com as situações vividas na economia. “Aí reside
o valor dos métodos das ciências sociais, como o survey, para
conduzir um levantamento a fim de entender o que esse público-alvo
pensa.”
A psicologia econômica, ressalta
Fermiano, estuda os mecanismos psicológicos que estão por
trás de determinados comportamentos, as variáveis que incidem
em tomadas de decisão individual e coletiva, os processos
de aprendizagem e socialização econômica e as diferentes maneiras
como as pessoas compreendem o mundo da economia e suas variações.
A psicologia econômica é uma disciplina nova, que teve a sua
primeira definição em 1881. As pesquisas na área intensificaram-se
a partir da Segunda Guerra Mundial, tendo cerca de 50 anos
de investimento.
Descobertas
A pesquisadora preferiu chamar
as conclusões de sua tese de descobertas, porque levantou
pressupostos na pesquisa em que o mundo globalizado estava
realmente interferindo no modus vivendi das crianças, independentemente
do nível socioeconômico. O que ela descobriu? Que os pressupostos
estão se confirmando. E mais: as semelhanças na identidade
e homogeneidade dos comportamentos provocam uma desigualdade
cruel porque os envolvidos não possuem as mesmas chances para
se adaptarem ao mundo globalizado. “Os de nível socioeconômico
mais alto possuem oportunidades de desenvolver estratégias
mais adequadas do que os de outros níveis.”
Como todas as crianças têm
acesso à mídia, afirma ela, a qualidade desses acessos provoca
profundas mudanças no seu comportamento. “Uma criança tem
um tênis caro. Eu não tenho. Só que todo o contexto daquilo
que assisto na televisão, do que meus colegas vivenciam na
escola, do que eu vejo na rua sugerem que eu deveria ter uma
identidade tal como aquela. Então preciso ser como outras
pessoas para ser aceito. Se eu não tenho isso, então não sou
ninguém. Vivo à margem”, descreve a pesquisadora, ressalvando
que isso não foi estudo e sim fruto de uma observação empírica,
o que não deve ser ignorado, por ter o seu valor prático.
Mas o pior para Fermiano é
o fato de a própria criança se sentir à margem porque não
tem x, nem y. “E é esse o sentimento que percebemos, posto
que toda a estrutura da socialização econômica está relacionada
com os aspectos afetivos, sociais, econômicos e o estabelecimento
de significações pela criança. Existem vários problemas
neste sentido”.
O que fazer com este tween
que está na escola, se a escola não está alfabetizada economicamente
para orientá-lo? Até então, nunca foi tema de disciplina,
isso porque o contexto que se vivia não solicitava destrezas
econômicas. Hoje, ao contrário, o contexto de globalização
solicita novas alfabetizações: a digital, a política e
a econômica. Esta necessidade, conforme a pedagoga, se reveste
de atualidade e envolve a família que dá dinheiro para a
criança e outros agentes de socialização. “Ela dá um
pouquinho hoje. Amanhã dá outro tantinho. Além disso, nem
sabe o quanto dá para o filho e nem tem limite. Isso é uma
estratégia de alfabetização econômica muito ruim”, critica
Fermiano.
Os estudos do grupo de pesquisa
Educação Econômica, do Laboratório de Psicologia Genética
(LPG) da FE, demonstram que uma família financeiramente desorganizada,
que não consegue se controlar, gasta mais do que pode comprar.
Como educar economicamente um filho se nem os pais receberam
esta educação? Esta é outra descoberta, aliás: “que essas
crianças vivenciam um ambiente em que as novas alfabetizações
digitais, econômicas e midiáticas não fazem parte do contexto
familiar”. Inevitavelmente esta responsabilidade pode recair
sobre a escola.
Fermiano lança a proposta
de uma educação econômica para que o professor conheça melhor
esta faixa etária, as suas características e quais são os
conceitos e conteúdos da economia e análise midiática que
poderiam conhecer para trabalhar com a criança. “Podemos,
por exemplo, incentivá-la a trabalhar com a prática da solidariedade”,
frisa. Em seu estudo, os alunos entrevistados não deram mostras
de conhecer o conceito do que é doação. Para eles, doar é
somente dar dinheiro. “Não sabem o que é serem generosos,
solidários e cooperativos com uma situação que assim o requeira.
A doação deve ser incentivada dentro de um propósito de entender
a necessidade do outro.”
Um problema identificado pela
pesquisadora: “os tweens gostam muito de ter bens e acumulam
muito ‘lixo’ em casa”. Na escola, a questão do meio ambiente
é elaborada. Às vezes estas informações atingem um nível macro:
“preciso economizar energia, reciclar papel e dar destino
ao óleo já usado para preservar o meio ambiente”. A escola
não trabalha com ações individuais e ecológica e economicamente
corretas, verifica a pedagoga. Uma saída, propõe, é fazer
uma feira com as crianças em que elas possam trocar ou vender,
ou mesmo doar as coisas que não usam mais. Trata-se de criar
ressignificações e tomada de consciência de ações que podem
fazer a diferença para si, para os outros e para o mundo.
A pesquisadora declara ainda
que esta tese a confrontou em muitos sentidos, como mãe de
dois filhos na faixa etária estudada, como mulher casada e
o fato de estar diante de um novo contexto que exige conhecimento
e atitudes que necessitam serem construídas no dia a dia.
A seu ver, os tweens têm tudo para se tornarem adultos sem
noção dos seus atos, até em termos de violência. Alguns estudos,
reporta ela, têm demonstrado que a violência entre estes jovens
aumentou muito por conta das diversas identidades assumidas
e por serem intolerantes com outros grupos que não o seu próprio.
Enfatiza que eles começam a demarcar terreno na sexta, sétima
e oitava séries: “eles querem se autoafirmar”. E acabam formando
pequenos grupos, seus guetos, com manifestação de intolerância.
“Percebemos que as nossas
crianças precisam de um período de adaptação. Com um quadro
agravado pela época em que vivemos, com muitas solicitações,
elas não têm tempo para a reflexão e para um crescimento saudável”,
avalia a pedagoga. No questionário, perguntou o que mais essas
crianças queriam mudar nas suas famílias. Disseram que queriam
passar mais tempo com elas. Isso denota, no entendimento de
Fermiano, uma necessidade de destinar um tempo para conversar
e discutir perspectivas, interesses e opiniões. “E esse tempo
lamentavelmente não existe dentro dos lares”, lamenta.
Para a pedagoga, a escola
“não deve salvar a pátria”. Porém é inegável o seu importante
papel. “Essa escola que estamos falando, que procura contextualizar
o outro a partir das características da criança, ainda prossegue
em lenta construção. É um processo de formação do professor
e do pai diante dessa nova criança. É notório que essa criança
é muito diferente daquela que nós fomos”, reconhece.
Descompassos vêm
à tona
O perfil dos tweens resultante
da tese aponta que essas crianças são muito ativas, gostam
de novidades, sabem muito bem o que desejam comprar, apreciam
estar com os amigos, permanecem pouco tempo com a família
e entendem completamente a programação da televisão, distinguindo
o que é comercial daquilo que é programa. Porém, eles não
conseguem distinguir as intenções das mensagens.
Em contrapartida, lidam
sempre com dinheiro, mas não têm noção de valores, não conhecem
como funciona o comércio, o que é lucro. Querem o produto
na loja, porque lá podem pegá-lo e olhá-lo concretamente,
ao passo que não sabem comparar preços, qualidade e as ofertas
das diferentes lojas.
A estrutura cognitiva dos
tweens, comenta a pesquisadora, não é capaz de dar conta
das variáveis que fazem parte da economia. Eles preferem
então se ater ao que os amigos falam e não são levados a
pesquisar preço pela família, mesmo porque nem sempre a
família faz isso. Verificou-se ainda no trabalho que os
tweens se adaptam rapidamente às solicitações do meio (mudanças
inclusive).
É de se esperar que os tweens,
como caminham à frente em muito pontos, também exibam uma
melhor performance na escola. Não é o caso, de acordo com
Fermiano. Apesar de a escola ministrar conteúdo, essas crianças
lidam com muitas informações ao mesmo tempo. Elas assistem
ao Discovery Channel e a uma série de programas, no entanto
não conseguem fazer relações adequadas desse conteúdo com
o que é aprendido na escola. Os dados da sua pesquisa indicaram
que o “mais legal” na escola é o recreio, além dos amigos.
Parece haver um descompasso na relação, sustenta Fermiano.
A pesquisadora define que
essa dificuldade reside no distanciamento de realidades.
“Estamos em mundos muito distantes do nosso tween, da escola,
da família, da sociedade, o que é muito grave. Quando observei
pesquisas de marketing, percebi que elas adentram as casas
das crianças para verem o que fazem no seu cotidiano. Organizam
até grupos focais para discutir com elas as suas preferências
antes de lançarem produtos”, informa.
Uma das estratégias adotadas
por essas empresas, prossegue a pedagoga, é selecionar
líderes de uma dada escola para saber o que os outros amiguinhos
veem de interessante nele. Está em voga a questão da identidade.
“Não existe a compreensão do processo. Vejo que isso
é muito prejudicial para a formação das crianças e para
um consumo consciente, já que os recursos naturais são
finitos.”
Ao abordar as diferenças
entre os tweens e os tenager, Fermiano notou que o tenager
(adolescente) é mais amadurecido, sexualmente e fisicamente
falando. Ele tem estados de humor mais tendentes a oscilações.
Possuem uma visão mais crítica de mundo e conseguem fazer
relações maiores. O tween ainda está na vigência da
infância, embora não admitindo. Em casa, o menino tween
joga bolinha, faz coleção de carrinhos e tem muitos brinquedos.
“Quando vai para a escola, não conta para ninguém que
faz isso. Vive uma vida dupla, ao mesmo tempo que na escola
procura seguir um comportamento adolescente, porque está
se mirando em algum tenager. Em casa, continuará brincando
como uma criança, pois é isso que ele é: uma criança”,
revela.
Com a menina é a mesma coisa,
confirma ela. Na escola, passa batom, quer ficar bonita
e se projetar naquela garota mais velha que conhece. Já
em casa, brinca de boneca. E não é somente isso. Pelos questionários
respondidos, percebeu-se que a atitude que mais irrita a
criança que tem oito, nove anos, em relação ao adulto, é
ser tratada como criança.
Essas mudanças de comportamento
colaboraram para que Fermiano percebesse a necessidade de
trabalhar esses valores com a criança e com as suas questões
de identidade: “posso ser eu sem me preocupar com o que
o outro é”. Ademais, a pedagoga estimula um planejamento
econômico (seja de poupar ou conhecer minimamente o mercado).
Mesada ou semanada têm se mostrado boas opções para ministrar
o “abecê” aos filhos e, sendo regulares, ajudam muito a
criança a se organizar e a ter noção do dinheiro. A pesquisadora
também incentiva a discussão dos programas e dos comerciais
com as crianças.
Quem
são os tweens
- Pré-adolescentes na
faixa etária entre 8 e 14 anos
- Clientes preferenciais do marketing e da mídia
- Gastam tempo exagerado diante da televisão
- Levam vida sedentária
- Constroem novas significações para o mundo globalizado
- Têm dinheiro e gastam cada vez mais para suprir
necessidades desnecessárias
- Permanecem muito tempo sozinhos em casa
- Têm acesso à tecnologia, independentemente da classe
social
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Autora
da pesquisa sugere organização e planejamento
Foi
através desses aspectos que Fermiano fez uma proposta
de intervenção, baseada em uma educação econômica, considerando
a identidade, a mídia e o cotidiano econômico. Como
economista e pedagoga, ela via muitos desses desdobramentos
mais sob um ponto de vista macro. Com a tese, ela constatou
que é preciso se deter mais no nível micro, desde a
concepção de organização e planejamento familiar e da
própria criança. Para a educadora, é importante encorajar
as crianças a registrarem suas economias num livro-caixa,
para depois tomarem consciência de quanto gastaram.
Para entender o universo
infantil, ela aprofundou-se mais e verificou o que as
crianças normalmente compram com o seu dinheiro. O resultado
surpreendeu: doces, refrigerantes, balas, chicletes
e iogurte, além de miudezas como adesivos, bijuterias,
figurinhas. A pedagoga diz que não consegue compreender
estes gastos, visto que os pais já fazem compras periódicas,
suprindo a casa com esses itens, fato que vem reforçar
que os tweens não têm noção dos seus gastos.
Um último conselho dado
pela economista é que os pais precisam instruir os seus
filhos a controlarem o dinheiro que recebem e entender
as diferenças entre suas necessidades e desejos. Isso
em relação à economia. Em relação à mídia, é preciso
acompanhar e discutir com eles o que estão vendo na
televisão. Uma forma de ação é questioná-los se acharam
correta determinada atitude, procurando evitar com isso
que se projetem na identidade de uma criança mais velha.
“Muitos pais ficam encantados porque a criança está
pegando o jeito de adulto. Alguns incentivam mais ainda.
É um erro que se comete psicologicamente”, acredita.
A importância deste
longo trabalho, expõe Fermiano, é que ele está ampliando
campo para uma nova linha de pesquisa, que é a educação
econômica, que desde 2006 sinaliza na FE esta necessidade.
Esta linha iniciou na Unicamp com a sua tese de doutorado
e de mais outras cinco integrantes, todas defendidas
no LPG. “Insisto que a educação econômica é uma proposta
que vem alinhavando estes desafios da globalização na
educação. Precisa ser mais estudada e mais investigada,
contudo hoje já existe um panorama mais favorável a
ela.” |
FICHA TÉCNICA
Pesquisa:Pré-adolescentes
(tweens) - desde a perspectiva da teoria piagetiana
à da psicologia econômica
Autora: Maria
Aparecida Belintane Fermiano
Orientadora:
Orly Zucatto Mantovani de Assis
Modalidade:
Tese de doutorado
Unidade:
Faculdade de Educação
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