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Humor e estadias de Rossellini no país
são temas para artistas-residentes
Área de cinema é contemplada
com dois projetos no âmbito do programa
Alunos e professores da Unicamp vão mergulhar na obra de
Roberto Rossellini durante os próximos meses, guiados pelo
cineasta e pesquisador Joel Pizzini, um dos contratados do
Programa Artista-Residente para este semestre. A área de
cinema está sendo contemplada, simultaneamente, com o projeto
“Oficina de roteiro de criação em humor para cinema e
televisão”, conduzido pelo artista-residente Newton Cannito,
que não pôde comparecer à cerimônia de assinatura no Gabinete
do Reitor. Joel Pizzini considera “Viaggio in Brasile”
um projeto audacioso, que será desenvolvido a partir de uma
pesquisa de fôlego sobre duas passagens confirmadas de Rosselini
pelo Brasil – provavelmente, outras ocorreram. “Ele filmou
‘Viaggio in Italia’. Agora, pretendemos descobrir o ponto
de vista de quem veio da Itália para o Brasil. Fiquei perplexo
ao perceber o interesse que Rossellini, pai do neo-realismo
e um dos criadores do cinema moderno, tinha por nosso país”.
Curador da restauração das
obras de Glauber Rocha, Pizzini pesquisou acerca de um encontro
entre os cineastas baiano e italiano em 1958, em Salvador.
“A ideia desse projeto na Unicamp surgiu justamente do diálogo
bastante profícuo de Glauber com Rossellini – ele veio a convite
de Josué de Castro, que propôs a adaptação para o cinema do
seu livro ‘Geografia da Fome’. Glauber reconhece em vários
textos o caráter transformador deste encontro, que foi o gérmen
do cinema de novo – da câmera na mão e equipamentos leves”.
Segundo o artista-residente,
Rosselini tentou viabilizar pelo menos cinco projetos no Brasil,
sem sucesso, e chegou a realizar filmagens em Salvador, como
conta Glauber em ‘Di Cavalcanti’. “Ainda não encontramos informações
sistematizadas, apenas registros em jornais e telegramas trocados,
por exemplo, com Gilberto Freyre e Jorge Amado, visando adaptar
livros desses autores. Interessado na experiência modernista,
Rossellini também planejou filmar Brasília. Vamos levantar
quais eram esses projetos e por que não foram realizados”.
Joel Pizzini adianta que,
mais à frente, será promovido um colóquio internacional em
Campinas com a presença de pesquisadores italianos ligados
à Fundação Roberto Rossellini. “O presidente da fundação,
Adriano Aprá, professor da Universidade de Roma III e maior
especialista em neo-realismo do mundo, tem todo o interesse
em estreitar a relação com a Unicamp. Teremos ainda ciclos
de cinema com obras de Rossellini que não circularam por aqui,
como documentários e filmes para a televisão”.Pizzini recorda,
a propósito, que o cineasta italiano desencantou-se com os
rumos tomados pelo cinema no final dos anos 1960 e passou
a adotar a televisão como instrumento pedagógico. “Rossellini
decretou a morte do cinema, que para ele tinha perdido seu
caráter civilizatório. Foi para TV com a proposta de criar
uma enciclopédia humanista, realizando filmes sobre filósofos.
É um aspecto fascinante da sua carreira e que pode render
um debate interessante a respeito da humanização da televisão”.
A pesquisa desenvolvida em
“Viaggio in Brasile” vai resultar, ainda, em roteiro para
um filme futuro, quem sabe até uma ficção, dependendo da riqueza
das informações colhidas no projeto. Outra possibilidade é
a tradução para publicação pela Editora da Unicamp de livros
não apenas sobre, mas escritos pelo próprio cineasta italiano.
“O único livro traduzido de Rossellini é uma autobiografia
de 30 páginas. A Universidade teria a oportunidade de suprir
essa lacuna em relação a um dos maiores autores do cinema
e cuja produção intelectual ainda não chegou ao país”.
Para realçar as afinidades
entre Brasil e Itália existentes também no cinema, o artista-residente
lembra que as primeiras imagens cinematográficas do Brasil,
na baía da Guanabara, foram feitas pelos irmãos italianos
Alfonso e Paschoal Segretto – elas datam de junho de 1989,
apenas seis meses após a invenção do cinema.
Atento à explanação, o
reitor Fernando Costa acrescentou uma curiosidade: que por
volta de 1954, fazendeiros do interior de São Paulo trouxeram
o fotógrafo italiano Maximo Sperandeo para produzir dois
“westerns espaguete” brasileiros, rodados em Santa Rita
do Passa Quatro. “Os filmes foram agora recuperados. ‘Da
terra nasce o ódio’ [dirigido por Antoninho Hossri e produzido
pelos irmãos Jaime e Júlio Nori], tinha artistas todos da
cidade e fez muito sucesso. Sperandeo abriu uma cantina, ficando
por aqui”.
Na opinião de Fernando Costa,
o Programa Artista-Residente da Unicamp já é igualmente um
sucesso. “Ele deve não apenas ser mantido, como ampliado,
sendo que a cada ano vem apresentando uma inovação interessante.
Essa abordagem de Rosselini é nova e formatos como os nossos
fóruns permanentes, por exemplo, podem servir ao intercâmbio
com os pesquisadores italianos”.
Humor
Newton Cannito, o segundo
artista-residente, não veio para a assinatura do contrato,
mas já havia concedido uma palestra aberta para apresentar
seu projeto, que está mais relacionado ao momento atual do
humor na televisão. “Quando surgiu o edital, pensamos em um
profissional que pensasse roteiros que pudessem migrar do
cinema e televisão para várias plataformas, atingindo esta
nova geração. Cannito possui um currículo favorável para isso
e nossa estratégia foi reunir alunos de vários cursos e não
somente de midialogia”, explica o professor Gilberto Alexandre
Sobrinho, coordenador do curso de Midialogia do Instituto
de Artes (IA).
De acordo com Sobrinho, a
palestra do artista-residente serviu para selecionar 30 alunos
e professores de midialogia, artes cênicas, música e artes
visuais, e ainda do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL),
envolvidos com estudos literários e interessados em roteiro.
“Teremos alunos roteiristas e intérpretes, sendo que o resultado
final dessa experiência serão quadros de humor para cinema
e televisão. Um acordo com a TV Unicamp, com a realização
de oficinas técnicas, vai contribuir para chegarmos a um produto
audiovisual”.
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