Com 
                      mestrado em computação gráfica pelo Instituto Tecnológico 
                      de Aeronáutica (ITA) e trabalhando no Instituto de Aeronáutica 
                      e Espaço (IAE), duas organizações do Comando-Geral de Tecnologia 
                      Aeroespacial (CTA), Silvana Aparecida Barbosa uniu sua especialidade 
                      às condições oferecidas pelo trabalho para desenvolver seu 
                      projeto de doutorado: um sistema de visão artificial para 
                      detectar mudanças de cenários em plataformas nas quais são 
                      montados, testados e lançados os veículos espaciais. 
                    Silvana Barbosa defendeu sua tese de doutoramento na Faculdade 
                      de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, com a orientação 
                      do professor João Maurício Rosário. “Quem propôs o tema 
                      foi meu co-orientador, o professor Francisco Carlos Parquet 
                      Bizarria, do IAE. Dentre as várias aplicações possíveis 
                      deste sistema, que reúne técnicas de visão computacional 
                      associada a automação, uma está relacionada à inspeção de 
                      plataformas da Torre Móvel de Integração do Centro de Lançamentos 
                      de Alcântara”. 
                    A autora explica que a torre possui plataformas móveis 
                      e fixas em níveis estratégicos, onde ficam os técnicos e 
                      os equipamentos para a montagem (integração) dos subsistemas 
                      do Veículo Lançador de Satélites (VLS). “Durante a execução 
                      das tarefas é necessário acionar várias vezes as plataformas 
                      móveis. Como o acionamento é feito de forma remota, o operador 
                      da torre deve ter conhecimento prévio da presença de pessoal 
                      ou de equipamentos nas imediações ou sobre as plataformas”. 
                    
                    Atualmente, segundo Silvana Barbosa, o operador é obrigado 
                      a deslocar inspetores até os níveis das plataformas a fim 
                      de verificar se o ambiente está adequado para o acionamento. 
                      Muitas vezes, o foguete já se encontra em condições de lançamento, 
                      o que exige cuidados específicos para minimizar riscos à 
                      integridade física dos inspetores e de perdas materiais. 
                      “Nossa proposta é auxiliar essa inspeção por meio de visão 
                      artificial”. 
                    
Para isso, a pesquisadora desenvolveu o que foi denominado 
                      tecnicamente como um sistema para detectar mudanças de cenários 
                      por meio da comparação sucessiva de imagens. “É um sistema 
                      remoto baseado em arquitetura aberta que utiliza recursos 
                      de informática e visão artificial associados a automação. 
                      Por meio da implementação de um algoritmo dedicado, com 
                      recursos matemáticos específicos para a aplicação desejada, 
                      o sistema detecta e registra as imagens de mudanças no cenário”. 
                    
                    
A 
                      validação do sistema se deu por meio de simulações em um 
                      protótipo que retrata a Torre Móvel de Integração (TMI) 
                      de Alcântara, em escala reduzida, construído no IAE. Uma 
                      câmera capta as imagens no interior do protótipo, onde estão 
                      representados modelos das plataformas, do veículo espacial 
                      e do técnico. “As simulações indicam que o sistema funciona 
                      dentro da rotina proposta. Em situação real, seriam várias 
                      câmeras interligadas com um centro de controle computacional, 
                      para inspecionar todas as áreas definidas pelas plataformas”. 
                    
                    O processo 
                      Silvana Barbosa esclarece que o sistema de visão artificial 
                      faz a comparação das imagens que a câmera capta sucessivamente 
                      com uma imagem padrão pré-estabelecida, produzida em cenário 
                      normal (sem pessoas ou equipamentos na plataforma). “A comparação 
                      entre essas imagens é feita utilizando técnicas de processamento 
                      de imagens baseada em filtros espaciais, especialmente por 
                      convolução por filtro da média. Na prática, trata-se de 
                      subtrair o fundo das imagens, destacando apenas o que está 
                      diferente do padrão”. 
                    O emprego de tolerâncias e filtros no tratamento das imagens, 
                      acrescenta a pesquisadora, evita a detecção de diferenças 
                      mínimas que não interessam neste tipo de aplicação, como 
                      por exemplo, uma leve alteração da iluminação. “Como a visão 
                      computacional é capaz de acusar mudanças de cenários desprezíveis 
                      ao olho humano, o resultado poderia confundir o operador 
                      do sistema, oferecendo um falso-positivo, quando o que interessa 
                      é a detecção da presença de um elemento estranho: no caso, 
                      uma pessoa não autorizada representada no protótipo por 
                      um boneco. O processamento de imagens é caracterizado por 
                      soluções específicas. Técnicas que funcionam bem em uma 
                      aplicação podem não ser adequadas para outras”.
                    A autora da tese lembra que o crescente desenvolvimento 
                      tecnológico vem transformando o uso da força de trabalho, 
                      que vai deixando aos poucos de ser manual e repetitiva, 
                      caminhando para uma maior especialização. “Há uma grande 
                      demanda por sistemas de automação, principalmente para a 
                      exploração em ambientes hostis e inacessíveis. Esse sistema 
                      que foi desenvolvido permite que a tarefa do operador seja 
                      executada com maior rapidez e precisão, sem eliminar o fator 
                      humano”. 
                    O registro
                      As imagens identificando mudanças de cenário ficam registradas 
                      em arquivo eletrônico no computador, com alarme visual indicando 
                      local, dia e horário. Como ressalta Silvana Barbosa, essa 
                      identificação automática e os recursos existentes no algoritmo 
                      implementado diferencia o sistema de visão artificial do 
                      mero monitoramento por câmeras, que exigiria a atenção constante 
                      do operador. 
                    Na literatura internacional, a pesquisadora não observou 
                      referência à utilização dessa técnica de algoritmo em bases 
                      de lançamento de foguetes. Entretanto, observa, o sistema 
                      pode ser aplicado em inúmeros ambientes, como bancos e condomínios, 
                      que precisam ficar sob vigilância durante a noite. “Escolhemos 
                      a área espacial principalmente para validar o estudo, visto 
                      que o programa para construção do VLS brasileiro continua 
                      em andamento, enquanto se aguarda a instalação de uma nova 
                      torre. Com algumas adaptações, é possível utilizar o sistema 
                      em inúmeros cenários, implementando, por exemplo, um módulo 
                      de alarme sonoro. A arquitetura aberta possibilita inserir 
                      e modificar funcionalidades”.