O primeiro Plano Metropolitano de Saúde elaborado no país,
baseado em um diagnóstico feito pela Unicamp a partir da
identificação dos pontos fortes e frágeis do Sistema Único
de Saúde, acaba de ser aprovado pelas prefeituras dos 19
municípios que compõem a Região Metropolitana de Campinas
(RMC). O Plano é composto por 47 projetos, entre os quais
22 foram definidos como prioritários. Neste dia 16, o Conselho
de Desenvolvimento Metropolitano estará validando o detalhamento
desses projetos.
“Com o SUS descentralizado, prevaleceu a visão de que o
sistema é baseado fundamentalmente na gestão municipal,
enquanto os governos estadual e federal foram gradativamente
diminuindo sua participação na oferta dos serviços de saúde
e concentrando as funções de financiamento e regulação do
sistema. Este plano é uma novidade porque visa articular
os municípios para construir um sistema integrado e qualificar
a atenção à saúde em toda a região metropolitana”, afirma
o professor Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva, pró-reitor
de Desenvolvimento Universitário da Unicamp.
O pró-reitor coordena o Programa de Estudos em Sistemas
Regionais de Saúde (PESS), do Núcleo de Estudos de Políticas
Públicas (NEPP), que realizou o “Diagnóstico do Setor Saúde
da Região Metropolitana de Campinas”. O estudo, que foi
solicitado pelo Conselho de Desenvolvimento da RMC, via
Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp), durou de dezembro
de 2006 a abril de 2007 e, de lá para cá, o PESS deu o apoio
técnico para a elaboração do Plano Metropolitano de Saúde.
Segundo
o coordenador, o diagnóstico implicou levantar informações
nos bancos de dados oficiais existentes no país e junto
a 48 instituições da RMC que de alguma forma vinculam-se
ao SUS. “Entrevistamos e apresentamos questionários aos
secretários municipais de saúde, aos gestores de 28 hospitais,
à Diretoria Regional de Saúde [DRS VII] e ao Sindicato dos
Médicos de Campinas e Região. Além disso, utilizando a técnica
de grupo focal, procuramos saber as percepções e expectativas
de médicos que se formaram recentemente sobre o trabalho
na rede pública de saúde na região”.
A professora e sanitarista Carmen Lavras, uma das responsáveis
pela execução do estudo da Unicamp, explica que depois da
apresentação do diagnóstico, coube à Câmara Temática de
Saúde da RMC – composta pelos 19 secretários municipais
e coordenada pelo diretor da DRS – a elaboração do Plano.
“Não temos conhecimento de um plano regional tão bem estruturado.
Ele foi totalmente endossado pelos prefeitos, que o enviaram
ao governador José Serra e ao presidente Lula”.
Os problemas
Apesar dos grandes avanços do SUS na Região Metropolitana
de Campinas, que apresenta um conjunto significativo de
serviços de saúde em todos os níveis de atenção, ainda se
detectam inúmeras fragilidades de natureza organizacional.
Entre as principais estão a baixa resolutividade na atenção
básica; a sobre oferta de consultadas especializadas, que
coexiste com estrangulamento de outras como cardiologia,
ortopedia e neurologia; o déficit de leitos hospitalares;
a fragmentação do apoio diagnóstico e terapêutico; e a falta
de estratégias para gestão do trabalho.
“Apesar de a região possuir os recursos necessários e profissionais
qualificados, por vezes as consultas especializadas não
são oferecidas pelo SUS; em outras ocasiões, são oferecidas
de maneira desorganizada, pouco resolutiva, sem o suporte
laboratorial e o diagnóstico. Com uma abordagem incompleta
do paciente, ele retorna ao sistema em outro lugar ou com
outro profissional, o que multiplica o número de consultas
e o custo”, exemplifica Paulo Rodrigues da Silva.
De acordo com o pró-reitor, uma preocupação de todos os
prefeitos é a dificuldade para a fixação de médicos nas
unidades básicas de saúde, ainda que na RMC exista 1 profissional
para cada 250 habitantes (índice bem acima do preconizado
OMS) e se pague salários acima da média. “Nos grupos focais,
vimos que o motivo principal é a ambiência na unidade básica,
com más condições de trabalho, baixa oferta de exames para
diagnóstico e o isolamento em relação aos ambulatórios de
especialidades e hospitais de referência, em prejuízo da
qualificação profissional”.
Os projetos
A elaboração de planos de cargos e salários que respeitem
a mesma lógica em todos os municípios e a oferta de programas
de qualificação para médicos, gestores, gerentes e outros
profissionais da saúde, são apenas algumas das medidas previstas
no Plano Metropolitano de Saúde. “Os 47 projetos envolvem
desde esta qualificação da atenção básica até a reorganização
do atendimento de alta complexidade, o que exige toda uma
articulação por meio de sistemas logísticos e de informação”,
observa o coordenador do PESS.
O Plano Metropolitano prevê a construção de 39 unidades
básicas e a reforma e ampliação de outras 42, com a adoção
de um padrão arquitetônico de referência; a adequação tecnológica
a partir das necessidades de cada município; planos municipais
de melhoria da ambiência; uma agenda regional de promoção
à saúde; planos diretores de atenção especializada e de
reorganização da rede hospitalar; diagnóstico e propostas
para superação dos estrangulamentos assistenciais; e um
plano diretor de urgência e emergência.
A lista de projetos prossegue com a capacitação em gestão
da assistência farmacêutica, a definição de uma lista padronizada
e de processos integrados de aquisição de medicamentos;
um plano de reorganização da rede de serviços de patologia
e análises clínicas; um plano diretor de reorganização dos
serviços diagnósticos de imagem e métodos gráficos; a criação
de sistemas regionais de transporte de usuários do SUS e
de resíduos; um plano diretor de desenvolvimento de tecnologia
de informação e comunicação; e um sistema metropolitano
de identificação de usuários.
Além de planos de cargos, carreiras e salários, está prevista
a implantação do “banco de médicos” para atender aos municípios
da RMC, e ainda a formulação e implantação, em conjunto
com instituições de ensino superior, de um programa de apoio
técnico permanente aos profissionais do SUS. Também será
criado um comitê para definir o plano de implementação de
protocolos clínicos e técnicos das linhas de cuidado.
Monitoramento
Paulo Rodrigues da Silva adianta que os especialistas da
Unicamp não participarão da execução dos projetos, necessariamente,
mas estarão colaborando no monitoramento, inclusive envolvendo
outras áreas da Universidade para resolver problemas mais
técnicos, como no caso de sistemas de informação. “O importante
é que construímos um importante instrumento de articulação
e gestão para consolidar o SUS em nossa região”.
Na opinião do pró-reitor, a região de Campinas talvez reúna
as melhores condições para viabilizar um plano metropolitano.
Ele justifica a sua expectativa com a dimensão do parque
de serviços de saúde, a presença de instituições públicas
de reconhecida competência, a disponibilidade de profissionais
altamente qualificados e a força política dos municípios,
que dedicam boa parcela de seus significativos orçamentos
à saúde. “Se não fizermos aqui, dificilmente se fará em
outro lugar do país”.