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Projeto de qualificação acadêmica
do corpo docente completa 20 anos
Dados revelam que 98%
dos professores da
Universidade têm o título mínimo de doutor
A
Unicamp goza atualmente de uma condição singular entre as
universidades brasileiras no que toca à qualidade do seu quadro
docente. Dados do Anuário Estatístico 2010, lançado recentemente,
revelam que 98% dos professores da instituição têm o título
mínimo de doutor, fator que impacta positivamente as atividades
de ensino, pesquisa e extensão. Uma iniciativa que contribuiu
de forma decisiva para que a Universidade alcançasse este
patamar foi a implantação do Projeto Qualidade, que completa
20 anos no próximo mês de setembro. Elaborado para promover
a qualificação acadêmica do corpo docente, a medida constituiu
um divisor de águas neste aspecto. “À época da criação do
Projeto Qualidade, a Unicamp tinha perto de um terço de seus
professores sem doutoramento, situação que merecia uma ação
efetiva por parte da Universidade para ser melhorada”, recorda
o ex-reitor Carlos Vogt, em cuja gestão o projeto foi elaborado,
debatido e colocado em prática.
Conforme Vogt, atual secretário
de Ensino Superior do Estado de São Paulo, o Projeto Qualidade
nasceu na sequência do processo de institucionalização da
Unicamp, iniciado durante da gestão do reitor José Aristodemo
Pinotti. “Naquele contexto, um dos temas urgentes a tratar
era o processo de qualificação acadêmica dos nossos docentes.
Era preciso criar mecanismos quer motivassem os professores
a dar sequência à suas formações”, acrescenta o ex-reitor.
A proposta começou a tomar forma a partir de discussões promovidas
por integrantes da equipe de Vogt, mais especificamente no
âmbito da Pró-Reitoria de Pesquisa. O então titular do órgão,
Armando Turtelli, lembra que havia um contexto específico
a ser considerado naquele instante.
De
um lado, crescia a exigência por parte do setor produtivo
por profissionais com curso de pós-graduação. De outro, a
Unicamp carecia de mais docentes titulados para ministrarem
os programas que qualificariam essas pessoas. “A elaboração
do Projeto Qualidade foi feita analisando a conjuntura da
época. Lançamos um olhar para fora da Universidade, mesmo
que as decisões a serem tomadas parecessem afetar apenas o
dia a dia da instituição. Pretendia-se que a Unicamp atingisse
a meta final de 100% de docentes doutores no mais curto espaço
de tempo, mas sem atropelos e respeitando o contexto de cada
unidade de ensino e pesquisa. Acreditávamos que apenas dessa
maneira a Universidade poderia cumprir sua missão de oferecer
ensino, pesquisa e extensão com a excelência que a nova realidade
do país exigia”, explica Turtelli.
Ainda segundo o ex-pró-reitor
de Pesquisa, a proposta gerou certa polêmica e motivou debates
exaustivos em todas as unidades de ensino e pesquisa. Ao final,
diz, houve o engajamento de todos os atores envolvidos. “O
Projeto Qualidade mostrou-se importante não somente por causa
do efeito imediato que provocou, mas principalmente por ter
criado uma tendência dentro da Universidade, que adotou a
meritocracia como uma de suas insígnias”, completa Vogt. Na
avaliação do ex-reitor Carlos Henrique de Brito Cruz, atual
diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (Fapesp), o Projeto Qualidade nasceu em um momento
oportuno no qual a pós-graduação na Unicamp se desenvolvia
aceleradamente, no início do regime de autonomia com vinculação
orçamentária ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS). “Estes dois fatores contribuíram para a adesão
natural da comunidade acadêmica, após debates que melhoraram
a proposta”, considera.
Hoje,
acrescenta Brito Cruz, a Unicamp é uma instituição na qual
o Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP)
é tratado com rigor e de forma a contribuir para o desenvolvimento
acadêmico da Universidade. “Este desenvolvimento foi notável
em todas as áreas, tanto do ponto de vista da titulação dos
docentes como do acompanhamento e avaliação de seu desempenho
periodicamente. Com isso, os resultados acadêmicos cresceram
em quantidade, qualidade e impacto, seja em relação a artigos
científicos, livros, teses, dissertações, seja nas colaborações
com órgãos de governo, organizações sociais e empresas”, afirma
o ex-reitor. De fato, os indicadores de qualidade apresentados
pela Unicamp não deixam dúvidas sobre os avanços obtidos nas
últimas duas décadas. Nos dias que correm, a Universidade
detém o melhor programa de pós-graduação do país, com 70%
de seus cursos situados nos níveis de “alto desempenho” e
“padrão internacional”, segundo avaliação da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão
vinculado ao Ministério da Educação.
Ademais, a Unicamp concentra
cerca de 8% de toda a produção científica brasileira indexada.
É a instituição de pesquisa brasileira com a maior produção
científica per capita em revistas indexadas, registrando 1,6
publicação/docente no ano de 2009. Os dados consolidados do
ano passado revelam, ainda, que a instituição encerrou o período
com a publicação de 245 livros, 3.974 artigos, 980 capítulos
de livros, 1.724 trabalhos em congressos e 3.063 resumos.
Além disso, também requereu 57 registros de patentes. Na opinião
do pró-reitor de Pós-Graduação, Euclides de Mesquita Neto,
o Projeto Qualidade está na base desses indicadores, pois
exerceu influência em dois sentidos.
Primeiramente,
elevou o contingente de docentes envolvidos nas atividades
de pós-graduação, o que provocou consequentemente o crescimento
do número e da qualidade dos programas oferecidos neste nível
de ensino. “A segunda influência, consequência da ampliação
do contingente de docentes titulados e atuantes nos programas,
foi o vertiginoso aumento do número de alunos matriculados
e das teses e dissertações produzidas. Seguramente, o Projeto
Qualidade foi essencial para conduzir a pós-graduação da Unicamp
à condição de liderança acadêmica que ela exerce hoje no cenário
nacional e mesmo internacional”, analisa Mesquita Neto. Em
2009, foram defendidas na Universidade 1.221 dissertações
de mestrado e 871 teses de doutorado.
Impactos
O pró-reitor de Pesquisa,
Ronaldo Aloise Pilli, também faz destaques aos impactos positivos
que o Projeto Qualidade trouxe para a produção acadêmica.
De acordo com ele, a Unicamp saiu de uma produção de 0,1 tese
por docente ao ano no início da década de 90, para 0,5 nos
dias atuais. “Trata-se de um índice significativo, compatível
com o apresentado pelas boas instituições estrangeiras de
mesmo porte”, pontua. Pilli entende que uma das consequências
mais importantes do Projeto Qualidade foi a criação da Comissão
de Avaliação e Desenvolvimento Institucional (CADI), órgão
diretamente subordinado ao Gabinete do Reitor e cuja presidência
é exercida pelo pró-reitor de Pesquisa.
A CADI é responsável por analisar,
com critério e responsabilidade, os relatórios de atividades
produzidos pelos docentes. O órgão tem a missão de avaliar
e acompanhar o desempenho dos professores, recomendando ações
ou fazendo eventuais advertências acerca dessa performance.
Tal procedimento, afirma o pró-reitor de Pesquisa, tem proporcionado
excelentes resultados, como demonstram os números apurados
ao longo dos últimos dez anos. No período, foram analisados
4.677 relatórios de atividades. Destes, 4.216 foram considerados
satisfatórios, 393 mereceram algum tipo de restrição e somente
68 foram tidos como insatisfatórios. “São indicadores que
demonstram de forma muito clara o grau de excelência e de
comprometimento dos nossos professores com suas atividades”,
diz Pilli.
O
pró-reitor de Pesquisa salienta que, a despeito de a Unicamp
estar muito próxima de atingir o índice de 100% de professores
com o título mínimo de doutor, a instituição continua
investindo na qualificação e atualização do seu corpo
docente. Pilli adianta que está em formatação um programa
de incentivo para que os professores mais jovens façam o
pós-doutorado no exterior. Atualmente, 64% do corpo docente
como um todo têm uma experiência mínima de seis meses em
atividades de pesquisa junto a instituições estrangeiras.
Já entre os contratados ao longo dos últimos cinco anos,
apenas 30% tem esse tipo de vivência. “A experiência internacional
é muito importante, pois fortalece a linha de pesquisa e
dá maior maturidade ao profissional”, diz Pilli.
Na
mesma linha de fomento à qualificação das atividades docentes,
o pró-reitor de Pesquisa lembra que o Fundo de Apoio ao Ensino,
à Pesquisa e à Extensão (Faepex) passou a operar recentemente
com novas regras para financiamento de projetos. O Programa
Auxílio à Pesquisa para Docente em Início de Carreira (Papdic),
por exemplo, agora propicia aos professores, durante seu primeiro
ano de vínculo com a Universidade, recursos para o custeio
de um aluno de mestrado por um período de até 24 meses nos
valores das bolsas de mestrado praticados pelo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Para isso,
eles precisam ter projeto de pesquisa aprovado por agências
de fomento e estarem credenciados em programa de pós-graduação
da Unicamp.
Além disso, foi mantido na
linha Papdic o auxílio de até R$ 8 mil para docentes que submeterem
solicitação de auxilio à pesquisa às agências de financiamento
durante seu primeiro ano de vínculo com a Unicamp, de modo
a proporcionar condições iniciais de trabalho aos docentes
recém-contratados. Após aprovado, esse recurso pode ser destinado
para a aquisição de material permanente e de consumo, contratação
de serviços de terceiros e reparo de equipamentos. “Como esse
jovem docente também pode pleitear bolsas de iniciação científica,
ele encontra na Universidade condições muito favoráveis para
a implantação de seu grupo de pesquisa”, assegura Pilli.
Ainda no âmbito do Faepex,
foi instituída uma modalidade para apoiar a vinda de professores
estrangeiros para atuarem junto aos programas de pós-graduação
da Unicamp. A iniciativa foi tomada em conjunto pela PRP e
PRPG. Em um primeiro momento, explica o pró-reitor de Pós-Graduação,
os visitantes poderão permanecer na Universidade por até 60
dias, com financiamento completo: viagem, hospedagem, seguro-saúde
e pró-labore. “Nossa intenção com essa ação é qualificar os
nossos cursos de pós-graduação, principalmente aqueles que
ainda não alcançaram um grau de internacionalização”, finaliza
Mesquita Neto.
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