Coliformes
e enterococos fecais de origem humana ou animal na água
podem indicar a presença de patógenos de veiculação hídrica
como, por exemplo, Salmonella e Giardia. A identificação
da fonte de contaminação fecal (lançamento de esgoto doméstico,
escoamento de fezes animais de criação no solo, de animais
silvestres, aves e outros) é importante para a implantação
de medidas efetivas de gerenciamento e remediação de águas
superficiais, segundo a pesquisadora Camila Carlos, autora
da dissertação “Identificação de marcadores moleculares
hospedeiro-específicos de Escherichia coli de águas superficiais
do Estado de São Paulo”, apresentada no Instituto de Biologia
(IB). No estudo, orientado pela professora Laura Maria Mariscal
Ottoboni, ela conseguiu obter marcadores moleculares que
permitem a identificação de fontes de contaminação fecal
por possibilitarem a diferenciação total dos coliformes.
Os marcadores, obtidos a partir da avaliação de caracteres
fenotípicos (FT-IR), permitem saber se a contaminação é
por fezes de humanos, gados, porcos, aves, entre outras
espécies. Na pesquisa, a espectroscopia FT-IR foi considerada
a técnica mais promissora para futuros estudos de rastreamento
de fonte microbiana.
Após descobrir os biomarcadores, Camila passa o bastão
para outros pesquisadores colocá-los em prática. Os resultados
da pesquisa devem auxiliar daqui por diante a Cetesb, parceira
da Unicamp em vários projetos, a implantar técnicas que
auxiliem no rastreamento dessas fontes em águas superficiais
do Estado de São Paulo. Em um workshop para transferência
de tecnologia, a pesquisadora irá capacitar profissionais
da Cetesb a utilizarem a técnica.
Camila explica que é difícil encontrar marcadores específicos
de cada animal, porém, não é impossível se a avaliação for
feita a partir de caracteres fenotípicos. “Eles se mostraram
mais eficientes que os genotípicos neste caso. Isso pode
ser porque as características genotípicas podem variar mais
que as fenotípicas”, explica. A partir da avaliação fenotípica,
Camila pode observar as diferentes características geradas
pelo sistema digestivo dos animais, o que está associado
aos diferentes hábitos alimentares. Pelo FT-IR, ela analisou
amostras de E. coli isoladas de galinhas, de humanos e de
bois. “Conseguimos diferenciar em 100%. Teve discriminação
perfeita”, acrescenta.
A distribuição dos grupos filogenéticos principais, segundo
ela, foi diferente entre os hospedeiros analisados, o que
permitiu predizer a fonte de contaminação fecal da maioria
dos pontos de amostragem. “Esse método é importante para
estudos futuros, nos quais se pretende conhecer a fonte
contaminadora. Por exemplo, em amostras coletadas perto
de área rural, encontramos mais coliformes de animais”,
acrescenta.
Ela explica que o desenvolvimento de métodos para identificação
da fonte de contaminação fecal é de fundamental importância
para as ações de controle, para preservar a integridade
dos corpos d’água e para proteger a saúde da população,
mas até o momento não existe um método único e universal
para este tipo de análise e, no Brasil, as pesquisas nessa
área são praticamente inexistentes, segundo a pesquisadora.
Segundo Camila, a identificação da fonte fecal em determinado
corpo hídrico permite realizar a avaliação de risco de contaminação
daquele corpo, pois cada animal tem patógenos associados.
“Por exemplo, se um determinado corpo hídrico está contaminado
com fezes de porcos, pode não oferecer riscos ao ser usado
para esportes aquáticos e navegação, mas a água não serve
para consumo. Com isso, é possível direcionar a aplicação
daquele corpo hídrico”, explica.
Os resultados da pesquisa são importantes para a responsabilização
de despejos clandestinos. “Quando se tem um reservatório
de água muito grande e rodeado por muitos empreendimentos
e é observada uma contaminação fecal maior que a permitida,
essa abordagem permite a identificação da fonte, possivelmente
clandestina, de contaminação fecal.”
Na pesquisa, Camila utilizou 174 linhagens de origem humana,
50 de origem bovina, 39 de origem suína, 16 de origem aviária,
29 de origem ovina, 16 de origem caprina, 44 de esgoto,
36 de reservatórios com contaminação esperada de origem
humana e 30 de rios e reservatórios com contaminação esperada
de origem animal.
As identificações foram feitas a partir de três técnicas
diferentes. A classificação de linhagens nos grupos filogenéticos
de E. coli, o perfil genotípico por técnicas de rep-PCR
e a espectroscopia no infravermelho com transformada de
Fourier (FT-IR). Segundo a pesquisadora, o BOX-PCR apresentou
uma taxa global de classificação correta de 63,70%, o (GTG)5-PCR
de 49,10%. Quando os dois métodos foram utilizados juntos,
a taxa foi de 57,61%. Camila também analisou 28 linhagens
de esgoto também por BOX-PCR, Na análise, 85,2% das linhagens
de esgoto foram classificadas como de humanos.
Ao analisar 20 linhagens de humanos, 15 de bois e 16 de
galinhas pelo FT-IR, Camila conseguiu separar completamente
as linhagens segundo sua origem animal. É a primeira vez
que o método é usado no Brasil para análise de contaminação
fecal. A pesquisa já está servindo de base para outros estudos.
Publicação
Dissertação: “Identificação de marcadores
moleculares hospedeiro-específicos de Escherichia
coli de águas superficiais do Estado de São Paulo”
Autora: Camila Carlos
Orientadora: Laura Maria Mariscal
Ottoboni
Unidade: Instituto de Biologia (IB)
Financiamento: Fapesp e Cetesb
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