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Neurocirurgião desenvolve técnica que
proporciona mais segurança a pacientes

Portadores de epilepsia e aneurisma cerebral
podem ser beneficiados com procedimento

O neurocirurgião  Feres Eduardo Aparecido Chaddad Neto: testes em 130 pacientes e nível de acerto próximo a 100%  (Foto: Antoninho Perri) Uma nova técnica desenvolvida pelo neurocirurgião Feres Eduardo Aparecido Chaddad Neto, do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, certamente mudará a maneira como são executados os procedimentos cirúrgicos realizados na cabeça de pacientes portadores de aneurisma cerebral e epilepsia. Um estudo detalhado, calculado com medidas matemáticas baseado em pontos fixos do crânio, é responsável por determinar qual é o melhor posicionamento do órgão, principalmente para aneurismas da circulação anterior e para amígdalo-hipocampectomia, que é um dos tipos de cirurgia para epilepsia. Trata-se, de acordo com Chaddad, de uma pesquisa inédita em termos mundiais. “O que havia antes disso eram apenas relatos informais sobre rotação e deflexão – que significa a alteração ou desvio da posição natural para um dos lados – da cabeça. Partimos desses estudos e, baseados em nossa experiência diária, chegamos a esse importante resultado”, disse. Desde 2006, 130 pacientes foram testados nos mais diversos ângulos e o nível de acerto chegou muito próximo a 100%, segundo o neurocirurgião. 

O trabalho resultou na tese de doutorado defendida por Chaddad em fevereiro último, orientada pelo doutor Evandro Pinto da Luz de Oliveira, do departamento de Neurologia, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Além disso, um artigo contendo todos os resultados da pesquisa foi submetido e aceito para publicação na revista Neurosurgery, veículo de comunicação oficial do Congresso Internacional de Neurocirurgiões, cuja circulação é de âmbito internacional.

Chaddad, que juntamente com seu orientador também realiza cirurgias no Hospital Beneficência Portuguesa na cidade de São Paulo, explicou que os primeiros testes foram realizados com cadáver formolizado no Laboratório de Microcirurgia da Beneficência, objetivando buscar o melhor posicionamento. Numa segunda etapa, o trabalho foi executado em cadáver fresco no Serviço de Identificação de Óbitos, também na capital paulistana. Os resultados observados com relação ao posicionamento no cadáver formolizado foram comparados com os obtidos no cadáver fresco. Somente após essas etapas é que o estudo foi dirigido a pacientes vivos. “É, portanto, um estudo único no mundo”, ressaltou. 

O médico observou que a posição da cabeça depende muito da estrutura a ser operada. No caso dos aneurismas cerebrais, por exemplo, depende fundamentalmente do segmento da artéria onde estes estão localizados. Essa informação é obtida através de uma angiografia cerebral. Já para a amígdalo-hipocampectomia, uma ressonância magnética é que determinará qual o melhor posicionamento da cabeça para a cirurgia. 

Chaddad acrescenta ainda que a técnica proporciona ao paciente uma segurança maior, porque melhora substancialmente a exposição da patologia e também das estruturas relacionadas a ela, seja neuronal ou vascular. No que diz respeito ao trabalho do cirurgião, melhora o ângulo de visão do microscópio nas diferentes posições, dando assim um maior conforto durante o procedimento. “Dessa maneira, diminui sensivelmente o risco na cirurgia, causando uma queda da taxa de morbidade e de mortalidade. Sem dúvida alguma, é mais seguro para o paciente”, garantiu o neurocirurgião. 

Movimentos

O posicionamento apresenta quatro movimentos: a elevação, a extensão, a deflexão e a deflexão lateral. De posse dos dados de como se faz para movimentar a cabeça do paciente, para colocá-la no espaço de tal forma que se tenha a melhor exposição à patologia, Chaddad contou que deixa o médico residente fazer o primeiro posicionamento para, logo após, corrigir e mostrar onde está errado. Esse procedimento, para o neurocirurgião, é bastante importante porque dá a oportunidade aos novos especialistas de estar em permanente contato com uma técnica de ponta. “Isso é capacitação, formação de recursos humanos”, diz.

Como forma de ilustrar uma situação real, o docente tomou como exemplo um aneurisma do segmento oftálmico. “Se eu fizer uma grande deflexão da cabeça, seguramente vou aprofundar o aneurisma e, no momento de drilar um pequeno osso, terei dificuldades para visualizar o problema. Muitas vezes isso ocasiona o rompimento do aneurisma, podendo resultar em morte. O posicionamento é praticamente 50% da cirurgia. A outra metade fica por conta da técnica do cirurgião combinada com as condições gerais do paciente”, afirmou Chaddad. O neurocirurgião anunciou para breve a edição de um handbook contendo o passo-a-passo do procedimento. 

Fruto de sua pesquisa de doutorado, Chaddad foi convidado a dar três aulas em congressos nacionais. “Quando estive em Natal (RN) fui contatado por outros experientes neurocirurgiões que me convidaram para dar essa mesma aula em outras localidades, o que prova que a técnica foi amplamente aprovada”, disse. A comunidade científica internacional também já se manifestou positivamente e convites para falar fora do Brasil já estão surgindo. “Fazemos cirurgias todos os dias da semana e, em algumas oportunidades, também aos finais de semana. Os dados informados na tese foram obtidos até o final de 2009, mas o trabalho de medição dos ângulos prossegue de maneira rotineira”, concluiu. 

 

Artigo aceito para publicação na revista Neurosurgery

Tese de doutorado “Estudo do posicionamento nas craniotomias pterionais, pré-temporais e orbitozigomáticas e suas variações nas cirurgias vasculares e de epilepsia”

Autor:
Feres Eduardo Aparecido Chaddad Neto

Orientador:
Evandro Pinto da Luz de Oliveira

Unidade:
Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

 

 

 
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