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Neurocirurgião desenvolve técnica que
proporciona mais segurança a pacientes
Portadores de epilepsia
e aneurisma cerebral
podem ser beneficiados com procedimento
Uma nova técnica desenvolvida pelo neurocirurgião Feres
Eduardo Aparecido Chaddad Neto, do Hospital de Clínicas (HC)
da Unicamp, certamente mudará a maneira como são executados
os procedimentos cirúrgicos realizados na cabeça de pacientes
portadores de aneurisma cerebral e epilepsia. Um estudo detalhado,
calculado com medidas matemáticas baseado em pontos fixos
do crânio, é responsável por determinar qual é o melhor
posicionamento do órgão, principalmente para aneurismas
da circulação anterior e para amígdalo-hipocampectomia,
que é um dos tipos de cirurgia para epilepsia. Trata-se,
de acordo com Chaddad, de uma pesquisa inédita em termos
mundiais. “O que havia antes disso eram apenas relatos informais
sobre rotação e deflexão – que significa a alteração
ou desvio da posição natural para um dos lados – da cabeça.
Partimos desses estudos e, baseados em nossa experiência
diária, chegamos a esse importante resultado”, disse. Desde
2006, 130 pacientes foram testados nos mais diversos ângulos
e o nível de acerto chegou muito próximo a 100%, segundo
o neurocirurgião.
O trabalho resultou na tese
de doutorado defendida por Chaddad em fevereiro último, orientada
pelo doutor Evandro Pinto da Luz de Oliveira, do departamento
de Neurologia, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Além
disso, um artigo contendo todos os resultados da pesquisa
foi submetido e aceito para publicação na revista Neurosurgery,
veículo de comunicação oficial do Congresso Internacional
de Neurocirurgiões, cuja circulação é de âmbito internacional.
Chaddad, que juntamente com
seu orientador também realiza cirurgias no Hospital Beneficência
Portuguesa na cidade de São Paulo, explicou que os primeiros
testes foram realizados com cadáver formolizado no Laboratório
de Microcirurgia da Beneficência, objetivando buscar o melhor
posicionamento. Numa segunda etapa, o trabalho foi executado
em cadáver fresco no Serviço de Identificação de Óbitos, também
na capital paulistana. Os resultados observados com relação
ao posicionamento no cadáver formolizado foram comparados
com os obtidos no cadáver fresco. Somente após essas etapas
é que o estudo foi dirigido a pacientes vivos. “É, portanto,
um estudo único no mundo”, ressaltou.
O médico observou que a posição
da cabeça depende muito da estrutura a ser operada. No caso
dos aneurismas cerebrais, por exemplo, depende fundamentalmente
do segmento da artéria onde estes estão localizados. Essa
informação é obtida através de uma angiografia cerebral. Já
para a amígdalo-hipocampectomia, uma ressonância magnética
é que determinará qual o melhor posicionamento da cabeça para
a cirurgia.
Chaddad acrescenta ainda que
a técnica proporciona ao paciente uma segurança maior, porque
melhora substancialmente a exposição da patologia e também
das estruturas relacionadas a ela, seja neuronal ou vascular.
No que diz respeito ao trabalho do cirurgião, melhora o ângulo
de visão do microscópio nas diferentes posições, dando assim
um maior conforto durante o procedimento. “Dessa maneira,
diminui sensivelmente o risco na cirurgia, causando uma queda
da taxa de morbidade e de mortalidade. Sem dúvida alguma,
é mais seguro para o paciente”, garantiu o neurocirurgião.
Movimentos
O posicionamento apresenta
quatro movimentos: a elevação, a extensão, a deflexão e a
deflexão lateral. De posse dos dados de como se faz para movimentar
a cabeça do paciente, para colocá-la no espaço de tal forma
que se tenha a melhor exposição à patologia, Chaddad contou
que deixa o médico residente fazer o primeiro posicionamento
para, logo após, corrigir e mostrar onde está errado. Esse
procedimento, para o neurocirurgião, é bastante importante
porque dá a oportunidade aos novos especialistas de estar
em permanente contato com uma técnica de ponta. “Isso é capacitação,
formação de recursos humanos”, diz.
Como forma de ilustrar uma
situação real, o docente tomou como exemplo um aneurisma do
segmento oftálmico. “Se eu fizer uma grande deflexão da cabeça,
seguramente vou aprofundar o aneurisma e, no momento de drilar
um pequeno osso, terei dificuldades para visualizar o problema.
Muitas vezes isso ocasiona o rompimento do aneurisma, podendo
resultar em morte. O posicionamento é praticamente 50% da
cirurgia. A outra metade fica por conta da técnica do cirurgião
combinada com as condições gerais do paciente”, afirmou Chaddad.
O neurocirurgião anunciou para breve a edição de um handbook
contendo o passo-a-passo do procedimento.
Fruto de sua pesquisa de doutorado,
Chaddad foi convidado a dar três aulas em congressos nacionais.
“Quando estive em Natal (RN) fui contatado por outros experientes
neurocirurgiões que me convidaram para dar essa mesma aula
em outras localidades, o que prova que a técnica foi amplamente
aprovada”, disse. A comunidade científica internacional também
já se manifestou positivamente e convites para falar fora
do Brasil já estão surgindo. “Fazemos cirurgias todos os dias
da semana e, em algumas oportunidades, também aos finais de
semana. Os dados informados na tese foram obtidos até o final
de 2009, mas o trabalho de medição dos ângulos prossegue de
maneira rotineira”, concluiu.
Artigo aceito
para publicação na revista Neurosurgery
Tese de doutorado “Estudo do posicionamento nas craniotomias
pterionais, pré-temporais e orbitozigomáticas e suas
variações nas cirurgias vasculares e de epilepsia”
Autor: Feres Eduardo Aparecido Chaddad Neto
Orientador: Evandro Pinto da Luz de Oliveira
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
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