A
professora Anete Pereira de Souza, do Instituto de Biologia
(IB) e do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética
(Cbmeg) da Unicamp, tornou-se a milésima inventora da Universidade
ao ter sua primeira patente depositada em abril deste ano.
A patente de Anete tem como cotitulares a Unicamp e a Embrapa,
pois foi realizada no âmbito do doutoramento de sua orientanda
Letícia Jungmann, coinventora e pesquisadora da Embrapa
Gado de Corte em Campo Grande (MS). A invenção consiste
de um método de identificação genética de forrageiras, as
plantas utilizadas para a cobertura de pastagens, utilizando
marcadores moleculares do tipo microssatélites, que acessam
a variação genética das espécies em nível de DNA. O grupo
de inventores da patente inclui, ainda, três outras pesquisadoras:
Bianca Bacili Vigna, Patrícia Mara Francisco e Cacilda Borges
do Valle.
O acompanhamento do número de inventores da Unicamp é realizado
pela Agência de Inovação Inova Unicamp, órgão responsável
pela gestão da propriedade intelectual da Universidade.
A contagem inclui docentes, pesquisadores e alunos envolvidos
em estudos que originaram as 575 patentes atualmente vigentes,
ou seja, requeridas ou concedidas para a Universidade junto
ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) ou
a órgãos internacionais.
Agrônoma e apaixonada pela área de genética, a milésima
inventora diz que a ideia inicial era fazer um estudo básico
de genética para facilitar o desenvolvimento mais rápido
de cultivares, conhecer sua variabilidade genética e dar
uma aplicação prática ao estudo, usando os melhores marcadores
em análise e identificação de variedades. “Esta área
da agronomia combina a pesquisa básica com sua aplicação
direta”, afirma.
Mesmo assim, Anete confessa que a princípio não considerava
que o objeto desta pesquisa fosse patenteável, mas que
Letícia foi incansável na busca por este depósito e no
preparo da documentação necessária para a patente. A
professora lembra que o pesquisador é reconhecido no meio
acadêmico por suas publicações, e que por isso às vezes
não prioriza, ou mesmo nem acredita ser possível, a proteção
dos resultados de sua pesquisa por meio de patentes. Mas,
segundo ela, a experiência neste caso mostrou que é possível
fazer os dois com sucesso.
Durante o processo de comunicação de invenção – etapa na
qual o pesquisador informa a Inova que tem uma pesquisa
que pode ser patenteável –, Letícia fez os cursos de propriedade
intelectual e busca em base e redação de patentes oferecidos
pela Inova Unicamp por meio do Projeto InovaNIT, de cooperação
e capacitação de Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT).
“O depósito da patente foi um processo de muito aprendizado”,
disse a pesquisadora. Segundo ela, o curso de propriedade
intelectual e de busca em bases de patentes foi muito enriquecedor.
“Abriu-se um novo horizonte de informações para mim”, afirma.
Para
Letícia, a motivação desde o princípio para a busca da patente
foi de mostrar que sua tecnologia além de representar ciência
de qualidade pudesse ter uma aplicação mais direta. “Para
marcarmos uma posição de produtividade no mercado, como
profissionais, só os artigos não bastam mais. As grandes
empresas levam muito em consideração se o pesquisador tem
uma patente no currículo”, avalia Letícia.
No caso do pedido de patente depositado, a aplicação e
relevância da pesquisa no cenário nacional são destacadas
pelas duas pesquisadoras. A professora, que trabalha com
marcadores moleculares para diversas culturas, diz que esta
área de pesquisa é muito ampla principalmente quando relacionada
a espécies de cana-de-açúcar, feijão e milho, sendo este
último sua temática de maior especialização. Por outro lado,
ela diz que a intensificação da pecuária bovina brasileira,
que abrange atualmente cerca de 170 milhões de cabeças de
gado, resulta em uma demanda por variedades melhoradas de
forrageiras e, neste contexto, de tecnologias que suportem
a melhoria genética destas espécies. “O mercado de forrageiras
é muito grande e há poucos competidores”, afirma Anete.
A observação da professora é comprovada por dados do Senso
Agropecuário do IBGE de 2006 que apontam que as pastagens
cobrem extensas áreas no Brasil, estimadas em cerca de 172
milhões de hectares. Letícia acrescenta que 85% dos pastos
cultivados são formados por capins do gênero Brachiaria,
que foi motivo do estudo que levou à patente. “O mercado
de sementes para forrageiras no Brasil tem se profissionalizado,
mas ainda há muito espaço para novas tecnologias”, conclui
Letícia.