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Graduada na Incamp desenvolve equipamento médico
Uma válvula reguladora de pressão, desenvolvida pela empresa
BCS Tecnologia na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica
da Unicamp (Incamp), acaba de obter da Agência de Vigilância
Sanitária (Anvisa) o registro para fabricação. Trata-se
da primeira vez que a Agência concede esta autorização
a uma empresa oriunda da Incubadora. O produto, que é um
equipamento médico, poderá ser utilizado tanto em hospitais
como em clínicas. Com o registro em mãos, a empresa poderá
distribuí-lo no mercado nacional. A expectativa é que até
o final do ano o produto seja comercializado. A válvula resultou
de algumas pesquisas realizadas pelos seus sócios. “Somos
os pioneiros neste know-how”, comemora a pós-doutoranda
da Faculdade deEngenharia Mecânica (FEM) Cristiane Ulbrich,
que é engenheira mecânica e sócia da BCS, que gerou o projeto
para a Biocam. “Ambas as empresas desenvolvem o mesmo negócio”,
explica. Apesar de a Biocam ser a desbravadora na fabricação
do produto, o know-how da BCS foi alcançado na Incamp e hoje
já está completamente incorporado à Biocam.”
Essas empresas atuam na pesquisa
e desenvolvimento de produtos de alta tecnologia para equipamento
médico-hospitalar, além dos serviços de prototipagem rápida
para planejamento cirúrgico. O principal produto das empresas
hoje é a válvula reguladora de pressão, o qual controla a
pressão de gases medicinais para alimentação de respiradores
e máquinas de anestesia. As empresas também são especializadas
em projetos de equipamentos médicos sob encomenda e desenvolvem
pesquisas em biomateriais.
O processo até chegar ao registro
iniciou em 2005, relata a engenheira, quando a BCS surgiu
como uma spin-off (empresa que nasce a partir de um grupo
de pesquisa, com o objetivo de explorar um novo produto ou
serviço de alta tecnologia) da Biocam. A empresa, como tal,
desenvolvia equipamentos médico-hospitalares e foi por essa
época que ela criou a válvula.
A spin-off foi concebida a
partir de uma proposta que já vinha sendo idealizada com os
primeiros passos da Biocam, uma empresa criada em Campinas
em 2000. A intenção era amadurecer a ideia para saber como
uma empresa inovadora teria que se comportar no desenvolvimento
de um produto para depois levá-lo à escala industrial. Para
isso contou com o apoio da Incamp, Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp), Fundação de Desenvolvimento
da Unicamp (Funcamp), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas de São Paulo (Sebrae), Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai) e Fundo Estadual de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (Funcet).
Os três sócios – Cristiane,
Flávio e Rogério Ulbrich – concordavam que aquele era o momento
de pôr em execução o projeto. E, de tanto ver válvulas reguladoras
de pressão de má qualidade no mercado, resolveram criar um
novo produto com outras funcionalidades para evitar os mesmos
problemas, as quais já estão patenteadas no Instituto Nacional
da Propriedade Industrial (INPI) e que tomam por base inovações
no seu funcionamento e no seu design. “A cada visita que fazíamos
aos hospitais, as pessoas nos mostravam uma caixa com diversas
válvulas quebradas e solicitavam conserto”, relata a engenheira.
Pronto. Eles já sabiam o que precisava ser feito para que
a válvula chegasse ao seu funcionamento ideal. E fizeram.
Funcionalidades
Segundo
Cristiane Ulbrich, a nova válvula reguladora de pressão
fica estrategicamente colocada próxima às máquinas de anestesia
em procedimentos cirúrgicos, sendo também utilizadas para
alimentar o gás de ventiladores mecânicos. “Quando alguém
está sob ventilação mecânica, em procedimento anestésico
ou ainda sob tratamento de oxigenoterapia, e precisa receber
o oxigênio de uma forma artificial, a válvula age controlando
o recebimento desses gases”, diz. Em cada leito de UTI,
o paciente pode ter consigo três válvulas: uma para o ar
comprimido, outra para fornecer-lhe o oxigênio e outra ainda
para receber o óxido nitroso, no caso das máquinas de anestesia.
“Para cada leito, podem ser comercializadas três válvulas.”
No mercado, relata a engenheira,
há algumas válvulas nacionais disponíveis com baixo preço.
Elas normalmente têm um custo final para empresas e hospitais
de R$100,00 a unidade. O inconveniente é que elas quebram
muito facilmente e as importadas, a despeito da sua boa qualidade,
são excessivamente caras, custando para hospitais de primeiro
nível algo em torno de R$500,00. Cristiane Ulbrich estima
que o novo produto sairá com um custo intermediário entre
R$150,00 e R$200,00. “A sua qualidade é um grande diferencial
em relação aos produtos similares”, pontua.
Quanto ao que é ofertado no
mercado, a engenheira sustenta que nenhuma outra válvula nacional
possui funcionalidades como as propostas pela ex-incubada
da Unicamp. Uma delas é uma proteção de borracha (antiqueda),
para evitar que, ao se manusear o produto, algumas pessoas
deixem-no cair. “Tiram a válvula da parede e, quando percebem,
seguram-na erroneamente pela mangueira, podendo batê-la na
parede ou no chão.” Uma patente refere-se exatamente a essa
proteção antiquedas.
Outra funcionalidade, prossegue
a engenheira, se presta à abertura e ao fechamento rápido
da alimentação de gases. Existe um registro na válvula que
regulariza a quantidade de oxigênio que deve passar. “Realiza-se
um ajuste fino até chegar ao valor desejado. Nenhuma válvula
nacional de mercado tinha uma forma de fechar rapidamente
tal válvula”, afirma. O que acontece se é preciso trocar com
urgência um paciente de leito? O operador da válvula tem,
em geral, que girar a manopla até conseguir fechá-la. “Encontramos
uma fórmula para fechar esta válvula com maior agilidade e
ela pode ser usada exclusivamente para situações de emergência.”
Este é o teor da segunda patente da empresa junto ao INPI.
Novidades
Por conta de vários projetos
da Incamp, a BCS recebeu desde incentivos até consultorias
para implantação das Boas Práticas de Fabricação (BPF), primeiro
quesito requerido pela Anvisa para ser uma fábrica de equipamentos
médicos. Estes projetos também tiveram apoio do Banco do Brasil,
para fazer a construção de dois prédios em Campinas, um que
sediará a fábrica e outro para dar continuidade à comercialização
dos equipamentos médicos da Biocam. Eles estão em fase final
de construção em Campinas, devendo ser entregues neste mês
de maio.
A empresa ainda recebeu apoio
do projeto PAM (Plano de Acesso ao Mercado), em conjunto entre
o Sebrae e o Senai, para fazer com que o lote-piloto pudesse
ser fabricado. De concreto, com o incentivo do projeto, feito
em colaboração com o Senai “Roberto Mange” – Campinas e Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ),
serão produzidos os moldes de fabricação. Anteriormente, também
em 2005, os sócios já tinham conseguido financiamento de um
projeto da Fapesp, o Pipe 2 (Programa Inovação Tecnológica
em Pequenas Empresas) – para desenvolver uma pesquisa referente
ao uso da válvula. “Foi este projeto que permitiu que se colocasse
em prática a ideia do produto”, informa Cristiane Ulbrich.
O primeiro lote desenvolvido
totalizou 150 unidades. A estimativa agora é produzir cerca
de mil peças por mês, quando a fábrica já estiver em pleno
funcionamento. “Já temos os potenciais compradores. Procuramos
neste momento colocar a válvula como um dos produtos que pode
ser vendido com os equipamentos que a Biocam já comercializa”,
esclarece a engenheira. A BCS Tecnologia é uma empresa de
desenvolvimento de produtos e, a Biocam, a fabricante, que
passa a incorporar o conhecimento em P&D, que tem no momento
15 funcionários trabalhando na produção, comercialização e
administração.
Durante a incubação, a spin-off
recebeu, além desses apoios, a ajuda de vários projetos a
fim de participar de eventos internacionais, divulgando o
seu produto e os seus empreendimentos. Os sócios marcaram
presença em missões na Alemanha, onde estiveram três vezes,
com empresas locais, e também no Brasil – para fazer transferência
de tecnologia. A empresa ainda tomou parte de diversas feiras
da área, inclusive em Miami, Estados Unidos, e da feira MEDICA
na Alemanha, país no qual captou algumas novidades para o
negócio em ascensão.
A Biocam, recorda a engenheira,
tem hoje um faturamento de cerca de R$2,5 milhões “O desenvolvimento
de produtos é algo que leva tempo. Desde 2005 tentávamos lançar
o primeiro”, expõe a engenheira. Com cerca de dez produtos
pré-desenvolvidos, a empresa procura outras fontes de financiamento
e ainda de investidores externos para desenvolver cada um
deles. “Já conseguimos um contato com investidores de outra
instituição e esperamos amadurecer este negócio para testar
como funciona trazer um investidor para dentro da empresa.”
Falando sobre a importância
da Unicamp nos projetos da Biocam e da BCS, Cristiane Ulbrich
realça que essa base institucional foi fundamental para fazer
alavancar as duas empresas. Por se tratar de uma incubada
da Universidade, a BCS teve acesso a uma grande quantidade
de investimentos, informações, dicas e consultorias. E foram
identificados “quatro passos” para atingir o estado de fabricante:
apoio à pesquisa (Incamp e Fapesp), acesso a conhecimento
administrativo empresarial (Sebrae), conhecimento técnico
e científico (CNPq – Senai), e acesso a investimento (Funcet
e Programa Proger).
“De outra forma não teríamos
passado por esse processo de incubação e não teríamos atingido
o atual status”, comenta a engenheira. “O conhecimento adquirido
foi inestimável, sobretudo nas etapas de pesquisa do produto,
de amadurecimento do negócio e de sua divulgação internacionalmente.
Sem a assessoria da Unicamp, talvez o nosso projeto não seria
conduzido sozinho”, realça Cristiane Ulbrich, que desenvolve
o seu pós-doutorado na área de prototipagem rápida aplicada
ao planejamento cirúrgico.
Artigos
ULBRICH, C.B.L.; ULBRICH, F.; ULBRICH, R. Inovação e
cultura empreendedora em uma empresa de equipamento
médico-hospitalar. XVII Seminário Nacional de Parques
Tecnológicos e Incubadoras de Empresas/Belo Horizonte-MG,
2007.
ULBRICH, F.; ULBRICH, C.B.L.; ZAVAGLIA, A.C. A design
increase to hospital regulator pressure, VRAP2009, Leiria,
Portugal, 2009, sendo este publicado no livro Innovative
developments in design and manufacturing – Advanced
Research in Virtual and Rapid Prototyping, 2009, P.J.
BÁRTOLO, P.J. et al., published by Taylor & Francis. |
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