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Dissertação de mestrado analisa
estratégias narrativas de telenovelas
O
que faz com que a dona-de-casa se emocione ou até mesmo sinta
raiva diante de uma cena de telenovela? Por que este tipo
de dramatização suscita sentimentos e reflexões sobre a
própria condição do telespectador? Para responder a estas
e outras questões sobre a telenovela brasileira, a psicóloga
Cristiane Valéria da Silva mergulhou em estudos teóricos
sobre o tema, com foco na psicologia social. Ela quis entender
as estratégias narrativas que prendem o telespectador em
uma trama que perdura, em média, de seis a sete meses.
“Trata-se de um fenômeno que
atinge todas as idades e gêneros e chama a atenção em qualquer
lugar que se vá. Mesmo quem não acompanha uma determinada
novela, sabe do que trata o enredo, muitas vezes em detalhes.
Por outro lado, o assunto é permeado pelo preconceito, principalmente
na academia”, destaca Cristiane.
Suas considerações acerca
do tema resultaram em dissertação de mestrado apresentada
no Instituto de Artes (IA), sob orientação da professora Cláudia
Maria Braga. Cristiane partiu do princípio de que o processo
de identificação com o personagem e com a situação da dramatização
em questão indica necessidades de se emprestar experiências
que não podem ser vividas. “Existe a necessidade de que fagulhas
de uma vida não vivida se apresentem como possibilidades de
experiência, mesmo que emprestada”, destaca.
Segundo Cristiane, um conceito
de Humberto Eco, a consolação, ajuda a pensar a telenovela
como uma fuga ilusória do cotidiano. Muitas vezes o telespectador
funde o cotidiano concreto e o ficcional e isto leva ao envolvimento
na trama de tal forma que o faz refletir sobre suas próprias
situações. “São configurações psíquicas que são acionadas
diante da necessidade de consolação que a sociedade possui.
Um sofrimento ou impedimento de superação engendra uma fuga
ilusória do cotidiano como mecanismo de defesa”, explica.
O fenômeno está cada vez
mais presente no cotidiano da população. Se há alguns anos
uma única emissora apresentava as novelas em dois horários,
hoje se observa um número espantoso de diferentes histórias
em horários e emissores diferentes. Este fato desperta críticas
e questões em torno da alienação. No entanto, em sua pesquisa,
a psicóloga defende que a telenovela não é a vilã da história.
“A questão da alienação passa por uma organização social
que promove o embotamento dos sentidos. Há que se pensar
ainda que as possibilidades de formação cultural são praticamente
nulas e, por isso, a telenovela parece substituir a experiência”,
esclarece.
Artigo
SILVA, Cristiane Valéria. Identificação e Crise dos
Sentidos: Apontamentos acerca da telenovela na sociedade
contemporânea. In: Claudia Mayorga; Maristela S. Pereira;
Emerson F. Rasera. (Org.). Psicologia Social: sobre
desigualdades e enfrentamentos. 1 ed. Curitiba: Juruá,
2009, v. , p. 125-142.
Publicação:
Dissertação “Telenovela e sociedade contemporânea: apontamentos
acerca das possibilidades de identificação”
Autor: Cristiane Valéria da Silva
Orientadora: Cláudia Maria Braga
Unidade: Instituto de Artes (IA)
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