Caso
o novo projeto de expansão do Aeroporto Internacional de
Viracopos, em Campinas, tivesse como base a metodologia
conhecida como de apoio multicritério à decisão, o encaminhamento
certamente seria diferente. A metodologia, embora pouco
difundida no meio empresarial brasileiro, cada vez mais
ganha novos adeptos por sua característica de levar em consideração
não apenas os resultados econômicos, mas também os impactos
ambientais e sociais quando da elaboração de um projeto
de implantação de indústria, estrada ou outro empreendimento,
e também por permitir que todos os stakeholders – ou atores
envolvidos – participem da decisão. Este foi o assunto abordado
na dissertação de mestrado de Antonio Carlos Ferreira Marques,
apresentada na Faculdade de Engenharia Civil. Arquitetura
e Urbanismo (FEC). O estudo foi orientado pela professora
Maria Lucia Galves.
Marques explica que a metodologia
de apoio multicritério à decisão, ao contrário do modelo
utilizado tradicionalmente batizado de monocritério econômico,
coloca na mesa de discussões todos os aspectos positivos
e negativos contemplados no projeto. Não busca uma “solução
ótima”, conforme explica o consultor, mas procura uma saída
atrativa para todos e, por isso, a importância de se oferecer
a oportunidade de manifestações. “A técnica permite pensar
do ponto de vista dos outros. As discussões são conduzidas
por um facilitador que busca as preferências e avalia as
alternativas mais atrativas”, explica.
Nas decisões tomadas com
base no método monocritério econômico, que são invariavelmente
definidas em gabinetes fechados, o cálculo contempla a taxa
de retorno dos investimentos comparada à taxa de atratividade;
se o resultado for igual ou maior, aceita-se o projeto.
Ou seja, não são levados em consideração os “efeitos colaterais”
em relação à comunidade, meio ambiente ou economia. Mesmo
porque não havia uma metodologia disponível que efetivamente
levasse em consideração esses impactos. “O interesse do
empresário sempre será o retorno econômico do seu investimento.
Por isso, este método é sempre o mais utilizado”, argumenta
Marques.
No caso de Viracopos, Antonio
Marques simulou o método e obteve alternativas diferentes
daquela já adotada. Ao realizar o estudo, seu objetivo não
foi interferir na questão política e sim demonstrar como
o método poderia contribuir para uma solução mais atrativa.
“Como resultado prático, tivemos duas outras soluções propostas.
A primeira diz respeito à criação de um quarto aeroporto
que comportasse a expansão pretendida em Viracopos. Já outra
centra-se na possibilidade de instalação de um distrito
industrial alfandegado fora dos limites do sítio aeroportuário”,
explica.
Marques ouviu várias pessoas,
representantes dos diversos interesses envolvidos e, através
de técnicas e ferramentas, considerou todos os impactos
que a expansão do aeroporto poderia causar em termos econômicos,
ambientais e sociais. Avaliou os aspectos objetivos e subjetivos
das pessoas afetadas direta ou indiretamente. Ao final,
constatou que a expansão de Viracopos é inevitável. “O aeroporto
tem que crescer, mas é oportuno se criar uma alternativa
atrativa e que favoreça a todos e também reduza os impactos
ambientais e sociais negativos”, explica.
Um exemplo: o Estudo e Relatório
de Impacto Ambiental (RIMA) constatou 37 impactos e, destes,
28 são categorizados como negativos. A expansão do Aeroporto
Internacional de Viracopos prevê saltar a movimentação anual
de carga de 270 mil toneladas atuais para 750 mil em 2015.
Com relação ao número de passageiros, a expectativa é passar
de um milhão por ano para 15 milhões,em 2015. “O projeto
é muito amplo e complexo, e seus impactos positivos e negativos
ultrapassam os limites geográficos da Região Metropolitana
de Campinas. Mas a ideia é estimular a discussão profunda
para uma maior eficiência nos resultados”, conclui.