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Projeto turbina capacidade
computacional do Cenapad
Melhorias e novos equipamentos vão beneficiar
pesquisadores de todo o país
LUIZ
SUGIMOTO
Pesquisadores
de todo o país que utilizam o sistema do Centro Nacional de
Processamento de Alto Desempenho (Cenapad) de São Paulo, sediado
na Unicamp, vão contar com uma capacidade computacional até
20 vezes maior a partir do segundo semestre deste ano. “É
um projeto de 1,35 milhão de dólares, financiado pela Fapesp,
visando melhorias na infraestrutura e aquisição de um equipamento
com desempenho teórico mínimo de 20 teraflops, contra 1.5
teraflop de capacidade atual”, afirma Edison Zacarias da Silva,
professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) e coordenador
do Cenapad-SP.
A medida de 1 Tflop equivale
a um trilhão de operações por segundo. A computação de alto
desempenho vem permeando quase todas as áreas da ciência no
enfrentamento de desafios como a hidrodinâmica aplicada, projetos
de aviões, modelagem global do ambiente, simulações de ecossistemas,
previsões meteorológicas, processamento de imagens médicas
digitais, biologia molecular, projetos de novas moléculas
e medicamentos, otimização de processos em larga escala e
nanociência.
Criado em 1994, o Cenapad-SP
funciona no âmbito da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Unicamp
e está aberto a todas as instituições brasileiras, possuindo
pesquisadores associados do Amapá ao Rio Grande do Sul. É
um dos oito centros que compõem o denominado Sistema Nacional
de Processamento de Alto Desempenho (Sinapad), implantado
pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) por meio da
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
O sistema cooperativo, concebido
com o propósito de elevar a competitividade científica do
país, foi geograficamente distribuído para assegurar uma cobertura
nacional. No período de 1998 a 2004, o Cenapad-SP viabilizou
farta produção com 325 trabalhos publicados em revistas internacionais;
participação em 272 congressos no Brasil e em 143 no exterior;
e a defesa de 51 teses de mestrado e 50 de doutorado. Estudos
foram destacados na capa da conceituada Physical Review Letters
em duas ocasiões e também pela revista Pesquisa Fapesp.
Zacarias da Silva assumiu
a coordenação do Cenapad da Unicamp quando os recursos do
governo federal diminuíam e o sistema ficava desatualizado,
obrigando à busca de uma solução para atender aos usuários.
“Em 2005, através do Programa Multiusuário da Fapesp, adquirimos
um novo equipamento que possibilitou quintuplicar nosso poder
computacional, enquanto os outros centros só conseguiram atualizar
seus equipamentos no ano passado”.
Segundo o coordenador, esta
injeção de recursos pela agência de fomento paulista representou
a revitalização do Cenapad-SP, permitindo que os pesquisadores
passassem a trabalhar mais e melhor. Dados fechados em 2009
indicam que, desde a criação do centro, a produção científica
alcançou 689 publicações em revistas internacionais e 539
participações em congressos brasileiros e 244 em eventos internacionais;
foram defendidas 90 teses de mestrado e 79 de doutorado.
O docente da Unicamp informa
que o Cenapad-SP contribuiu na execução de aproximadamente
400 projetos, sendo que no momento 132 estão ativos, com 323
usuários acessando o sistema. “Em 2008, o governo concedeu
a todos os centros do Sinapad o primeiro financiamento expressivo
nesta década. Recebemos 400 mil dólares e adquirimos outra
máquina, que elevou a capacidade de processamento para 1.5
teraflop. Ainda assim, temos fila de pesquisadores à espera
de cálculos, o que prejudica o ritmo de trabalho”.
Foi esta demanda e a alta
produção que justificaram a apresentação à Fapesp do novo
projeto – o primeiro foi um dos bem sucedidos do Programa
Multiusuário – aprovado no final de 2009. “Esperamos comprar
um equipamento com capacidade pelo menos quinze vezes maior,
mas ainda não definimos todas as características do sistema,
que pode ser ainda mais poderoso. Com a chamada dos fornecedores,
vamos avaliar o que há de melhor no mercado. Fato é que, com
esse sistema que pretendemos disponibilizar até julho ou agosto,
os pesquisadores poderão sonhar mais alto em seus projetos”.
Aplicações
De acordo com Edison Zacarias da Silva, o acesso ao sistema
do Cenapad é feito remotamente, havendo uma grande maioria
de usuários das áreas de física e química, embora existam
aqueles das engenharias, biologia e medicina que dependem
igualmente de simulações computacionais. “Vemos estudos
muito intensos em nanociência, como das novas estruturas
de carbono descobertas a partir de 1985 e que se tornaram
vedetes nas pesquisas. Há trabalhos importantes também com
nanofios metálicos de ouro e cobre”.
O professor do IFGW explica que, antes, conhecia-se o carbono
apenas nas formas do diamante, com sua estrutura dura e transparente,
e do grafite, com suas folhas que vão sendo arrancadas conforme
riscamos o lápis. “O nanotubo de carbono, por exemplo,
é uma folha de grafite que se dobra em forma de tubo, como
uma folha de papel que se fecha unindo seus lados. Por causa
da sua resistência, os nanotubos trazem muita expectativa
em relação a aplicações tecnológicas e já foram incorporados
em materiais como de raquetes de tênis e esquis”.
Em 2004, ainda conforme o
coordenador do Cenapad-SP, pesquisadores demonstraram ser
possível manter a folha de grafite estável, denominada grafeno,
chegando às fitas e nanofitas de grafeno. “Sumio Iijima, o
mesmo pesquisador japonês que descobriu os nanotubos, observou
que ao irradiarmos essas fitas é possível obter fios de carbono
que correspondem a cadeias formadas por uma linha de átomos
de carbono. Nanotubos de carbono já estão compondo telas de
computadores”.
O Sistema Nacional de Processamento
de Alto Desempenho (Sinapad) é formado pelos centros da Unicamp
e das federais do Rio de Janeiro (UFRJ), Minas Gerais (UFMG),
Rio Grande do Sul (UFRGS), Ceará (UFC) e Pernambuco (UFPE),
e também do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos
(CPTEC) do INPE e do Laboratório Nacional de Computação Científica
(LNCC) em Petrópolis. Parte deles, entretanto, começará a
funcionar apenas dentro de alguns meses, com o financiamento
concedido pelo MCT para atualização de equipamentos.
Foi por conta da modernização
sucessiva do seu sistema computacional desde a criação em
1994, graças principalmente a aportes da Fapesp, que o Cenapad-SP
pôde continuar atraindo usuários de todas as regiões do país.
O número de horas de CPU usadas em processamento, que foi
de pouco mais de 80 mil em 1995, chegou a quase 1,5 milhão
em 2008.
Cerca de 47% dos usuários
são do Estado de São Paulo, com destaque para Unicamp (17,7%)
e USP (15,6%). No entanto, os 53% restantes vêm de todos os
estados. Por área de conhecimento, prevalecem os pesquisadores
de física (71,1%) e química (23,2%), vindo depois os das engenharias
(2,5%), computação (0,6%) e biologia (0,4%), enquanto os demais
representam 2,2%.
O professor Edison Zacarias
da Silva, coordenador do Cenapad-SP, atenta para o alto índice
de usuários gaúchos (17,3%), o que atribui à falta de atualização
do equipamento da UFRGS, antes o mais moderno do país. “Em
computação, a defasagem ocorre muito rapidamente e somente
o nosso centro manteve máquinas de ponta. Agora que todos
os centros receberam recursos para modernizar seus sistemas,
haverá uma capacidade nacional instalada muito maior e a concentração
em São Paulo tende a diminuir”.
Entre os computadores de alto
desempenho de maior capacidade no Brasil, Zacarias da Silva
destaca o da UFRJ, de 80 teraflops, e outros da USP e UFAL,
de 20 teraflops. A expectativa é que a potência do sistema
do Cenapad da Unicamp salte de 1.5 para 22 teraflops, a maior
entre os centros que formam o Sinapad. “Entretanto, mais importante
que o número de teraflops é atender ao perfil dos usuários.
Por vezes, sistemas superiores apresentam memória pequena
por nó, o que nem sempre é útil aos trabalhos aqui desenvolvidos”.
Nesse sentido, ao menos parte
do novo sistema computacional do Cenapad-SP terá que ser de
memória compartilhada, a exemplo do atual. “É um diferencial
que os outros centros não possuem e que permite ao usuário
rodar programas com uma grande quantidade de memória”.
Zacarias da Silva acrescenta
que a implantação desse tipo de projeto não é algo trivial,
já que exigiu também a ampliação do espaço físico para as
máquinas (de 80m2 para 100m2), além de sistema de refrigeração,
gerador de eletricidade e nobreak novos. “Como dividimos o
prédio com o Centro de Computação [CCUEC], todas as melhorias
para receber novas máquinas são pensadas e realizadas conjuntamente
pelas duas unidades da Unicamp”.
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