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Até o último raio de sol
FEEC desenvolve primeiro conversor
para conexão de paineis solares
JEVERSON
BARBIERI
O
desenvolvimento do primeiro conversor eletrônico de potência
trifásico para a conexão de painéis solares à rede elétrica
brasileira inaugura uma nova etapa no aproveitamento da energia
solar no país. Com grau de eficiência de 85%, o protótipo
de laboratório teve um custo da ordem de R$ 15 mil, financiado
com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp). Os testes foram realizados entre dezembro
e janeiro, nas instalações do Laboratório de Hidrogênio (LH2),
do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW), onde já funciona
uma planta piloto de geradores alternativos conectada à rede
da CPFL Paulista. A pesquisa foi conduzida pelo doutorando
Marcelo Gradella Villalva e orientada pelo professor Ernesto
Ruppert Filho, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação
(FEEC).
De acordo com Ruppert, não
se tem notícia até o momento de nenhum outro conversor eletrônico
similar que tenha sido desenvolvido por empresa ou instituto
de pesquisa brasileiro e que tenha sido colocado em operação
e testado com êxito numa instalação de paineis solares com
capacidade de 7,5 kW. “Este conversor substituiu plenamente,
durante o período de testes, os três conversores eletrônicos
monofásicos adquiridos da empresa alemã SMA, que estão atualmente
ligados a esses paineis solares”, afirmou o orientador. Diante
dos resultados, o próximo passo é buscar parceiros interessados
na industrialização do conversor.
Vantagens
Ainda que o protótipo tenha consumido R$ 15 mil, Ruppert lembrou
que a Fapesp destinou R$ 70 mil ao projeto todo, uma vez que
foi necessário montar uma bancada com todos os equipamentos
de medição e de testes. Especificamente com relação ao protótipo,
o orientador da pesquisa calcula que em escala de produção
o conversor tenha um custo final aproximado de R$ 10 mil.
“Existem alguns componentes que poderiam custar muito menos,
caso já estivesse em escala industrial. Se compararmos o custo
final de R$ 10 mil com o custo do conversor importado, isso
significa uma redução de um terço. É realmente muito vantajoso
nacionalizar essa tecnologia”, assegurou.
Villalva explicou que todas
as fontes renováveis necessitam de algum tipo de conversor
eletrônico de potência para poder fazer o aproveitamento adequado
da energia elétrica produzida. Os paineis fotovoltaicos geram
energia elétrica em tensão e corrente contínuas, que não podem
ser utilizadas na rede elétrica. Portanto, o papel do conversor
é transformar a tensão e a corrente da forma contínua para
a alternada. Ainda segundo o doutorando, existe uma dificuldade
muito grande em obter equipamentos para paineis fotovoltaicos,
o que causa uma dependência de tecnologia importada, como
o caso dos conversores alemães instalados no LH2. “Por este
motivo resolvemos desenvolver um equipamento nacional. Atingimos
a eficiência de 85%, no entanto o objetivo agora é chegar
aos 90% para alcançar a tecnologia alemã”, assegurou.
Gargalo
Para o doutorando, a tecnologia de energia solar ainda não
avançou no Brasil porque os paineis são muito caros. Ademais,
existem outras formas de energia mais baratas. Outro ponto
fundamental lembrado por Villalva é que, no Brasil, ainda
não foi criada a cultura de geração distribuída de energia.
“Isso não foi ainda devidamente regulamentado para pequenos
produtores”, afirmou. Nos países mais avançados é possível
ter em casa um painel solar e um conversor eletrônico gerando
energia junto com a rede elétrica.
Porém,
isso deve surgir em breve por aqui, prevê o pesquisador. E
quando isso acontecer seguramente gerará uma demanda de mercado.
“Se não tivermos um produto próprio com tecnologia nacional,
vamos continuar importando dos Estados Unidos e da Alemanha.
Portanto, o gargalo está na tecnologia cara dos paineis, na
inexistência de um mercado que force o barateamento dessa
tecnologia no país e, por último, a ausência de tecnologia
nacional de conversores eletrônicos.”, garantiu Villalva.
Além disso, ele mencionou
a necessidade de uma política de incentivo para essas energias.
Segundo o pesquisador, em Brasília já tramitam diversos projetos
de lei nesse sentido e se forem realmente aprovados, o Brasil
passará a ser um país de energia limpa. “No estado atual,
isso não existe. Existem pequenos projetos, porém isolados.
Não há uma massificação da energia alternativa limpa e isso
é uma coisa desejável porque dispomos de muito sol e vento”,
disse. Atualmente, a líder em tecnologia na área de energia
solar é a Alemanha, onde já estão instalados 6500 MW de geração
fotovoltaica, o que significa metade da energia produzida
pela hidrelétrica de Itaipu. Com níveis de irradiação solar
superiores aos da Alemanha, o Brasil ainda tem uma geração
de energia solar praticamente desprezível em sua matriz energética.
O fato de ter energia hidráulica
em abundância também tem contribuído muito na falta de investimento
em usinas de geração solar. Em termos de meio ambiente a energia
solar é muito melhor. A hidráulica, mesmo considerada limpa,
requer mudanças na geografia e no clima da região.
Ruppert afirmou que na Europa
e nos Estados Unidos a utilização de geradores de energia
elétrica conectados à rede secundária de distribuição por
pequenos consumidores individuais já é uma realidade. A tecnologia
de pequenos conversores para painéis solares fotovoltaicos
é amplamente empregada e divulgada nesses países. Consumidores
são incentivados e subsidiados por agências governamentais
para a instalação de sistemas de geração residenciais conectados
à rede elétrica. Painéis solares e conversores eletrônicos
para a conexão com a rede são produtos facilmente encontrados
no mercado e acessíveis ao grande público nos países desenvolvidos.
Além das vantagens para o
usuário, módulos fotovoltaicos com pequenos conversores eletrônicos
de potência descentralizam o processamento da energia e diminuem
custos e necessidade de espaço físico em um mesmo local. Dessa
forma, um conjunto de geradores fotovoltaicos pode ser instalado
em qualquer ambiente em que haja incidência de raios solares,
sem demandar áreas específicas, podendo ocupar telhados ou
paredes. “A integração de paineis solares com a arquitetura
predial é hoje uma prática comum e que rende bons resultados
estéticos, ambientais e econômicos, pela energia elétrica
gerada e pela redução dos custos de construção. Os módulos
fotovoltaicos podem ser utilizados como elementos de acabamento
arquitetônico, tornando seu uso ainda mais interessante”,
disse Ruppert. Esses módulos podem ser instalados em quaisquer
tipos de construções como residências, condomínios, escolas,
creches, hospitais e outros locais públicos, uma vez que não
há grandes restrições de espaço para instalação e não há emissão
de ruídos, resíduos, ou qualquer tipo de poluição, ressalta
o orientador da pesquisa.
No caso brasileiro, o professor
aponta que os grandes aproveitamentos decorrentes desse tipo
de tecnologia dependem basicamente de dois fatores. O primeiro,
da regulamentação e da atitude do governo de ter geração fotovoltaica
e o segundo, do interesse da iniciativa privada, uma vez que
empresários interessados na área deverão surgir. É um investimento
que se paga a médio prazo. “Já existe um certo consenso de
que toda a energia alternativa existente não ultrapassará
30% do que o mundo necessitará. Um dia teremos que caminhar
para a energia nuclear, porém antes precisamos aproveitar
o que existe disponível de energia limpa”, alertou Ruppert.
Uma
luz contra apagões
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