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Aberto para balanço
Exposição de 12 alunos marca atuação
de José Spaniol no âmbito do Programa Artista Residente
MARIA
ALICE DA CRUZ
Alunos
do curso de artes de plásticas do Instituto de Artes (IA)
da Unicamp expõem seus trabalhos realizados ao longo do Programa
Artista-Residente, a partir do dia 11 de março, às 12h30,
na Galeria de Arte da Unicamp. Na última fase, o programa
teve como convidado o artista plástico José Spaniol, professor
do Instituto de Artes da Unesp. Todas as atividades na área
de artes plásticas aconteceram no período de setembro de
2009 a fevereiro deste ano no IA, mas os encontros de 13 e
19 de janeiro ocorreram no Mosteiro São Bento, em São Paulo,
onde Spaniol participou da exposição “Arte e Espiritualidade”.
A ideia, segundo o artista, foi aproximar os alunos de seu
processo de criação e acompanharem a montagem da mostra.
A série “Balanças e lousas”, apresentada na exposição
de São Paulo, faz parte de um projeto ao qual Spaniol deu
continuidade no Programa Artista Residente.
Com a exposição dos alunos,
Spaniol conclui a residência na Unicamp, mas não sem antes
manifestar o desejo de voltar a desenvolver projetos em conjunto
com o Departamento de Artes Plásticas da Universidade. Na
mostra de encerramento, ele antecipa que estarão expostos
trabalhos desenvolvidos pelos alunos durante o período de
residência. “Em momentos como este, o aluno se sente pressionado,
quer fazer algo impressionante, mas o que eu sugeri é que
cada um mostre o processo verdadeiro. Então não fiz exigências
de tema, técnica ou período. A proposta do programa foi justamente
deixá-los à vontade”, explica.
Para Spaniol, a disposição
do grupo de alunos em participar do encontro em pleno mês
de férias e em outra cidade lembrou suas viagens de estudos
realizadas quando era estudante de graduação na Faculdade
de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).
“Assim como esta vivência no Programa Artista-Residente, as
viagens realizadas com o professor Evandro Jardim, na Faap,
acrescentavam muito na nossa formação e na nossa produção”,
explica. Aspectos de Teresópolis (Rio de Janeiro) e até mesmo
das cidades históricas de Minas Gerais estão eternizados em
seu caderno de desenho. Além de poder desenvolver os trabalhos
num momento mais tranquilo, em que não tinham as atividades
acadêmicas, os alunos da Unicamp puderam realizar uma visita
guiada pelo Mosteiro.
Ao contrário de outras fases
do programa, em que foi necessária a seleção de estudantes,
a participação nos encontros com Spaniol foi aberta a todos
os alunos interessados. A proposta foi deixar os alunos livres,
deixando a sugestão de temas a partir do que eles apresentassem
ao longo do contato. Segundo Spaniol, o que seria uma série
de palestras tornou-se um grupo de trabalho, em que todos
participaram das discussões.
“Balanças e lousas” foi
exposta também no Centro Carpe Diem Arte e Pesquisa, no Palácio
do Marquês, em Lisboa, Portugal, no segundo semestre de 2009.
A série consiste em instalação de balanças de pedra, na
qual ele coloca vários objetos e pêndulo. A lousa é onde
ele apresenta seus desenhos.
Um dos expoentes da arte brasileira contemporânea, Spaniol
trabalha com material pouco usual como argila, areia e cera,
conjugadas com madeira, metal e pedra. Na série, ele produziu
uma balança de pedra, na qual colocou objetos diversos e
um pêndulo.
A
produção inicial do artista parte de referências a objetos
cotidianos, como portões, balões ou cartazes de rua, e estabelece
uma troca entre a função utilitária e a poética. A relação
que suas obras estabelecem com a arquitetura e os locais expositivos
é um marco da sua produção a partir dos anos 1990.
Spaniol ressalta a importância
que um programa como o da Unicamp tem tanto para os alunos
quanto para o artista acolhido. O programa, na sua opinião,
proporciona o contato do artista com a Universidade e de ambos
com a sociedade, a partir do momento em que os resultados
das residências são apresentados ao público. “Não conheço
outro programa como este no Brasil. Espero que a residência
seja também motivo de aproximação entre os institutos de artes
das universidades públicas”, declara.
O artista destacou a indicação
feita pelo professor do Departamento de Artes Plásticas Haroldo
Gallo e a atenção recebida da Reitoria da Universidade, da
diretoria do Instituto de Artes, especialmente a chefia do
departamento de artes plásticas, desde a concessão de uma
sala para a montagem do ateliê onde aconteceram os encontros
até os preparativos para a exposição que será aberta dia 11.
“Tive a acolhida necessária para realizar um bom trabalho,
além da colaboração da chefe do Departamento de Artes Plásticas
do IA da Unesp, Geralda Mendes Ferreira Silva Dalglish.”
Para
a professora Lúcia Eustáquio Ribeiro Fonseca, chefe do Departamento
de Artes Plásticas da Unicamp, a residência é um momento
raro de vivência para os alunos, pois eles podem acompanhar
o que o artista faz para desenvolver sua proposta. “Foi
altamente produtivo”, acrescenta Lúcia. Ela enfatiza que
os trabalhos de conclusão são uma forma de levar o programa
à sociedade, lembrando que em outras áreas o programa foi
concluído com espetáculos abertos à comunidade. “Spaniol
é professor universitário, mas alguns artistas não têm
este contato direto com a academia”, acrescentou Lúcia.
Para Pedro Campanha, aluno
do quinto ano de artes plásticas e um dos expositores, a experiência
no programa foi importante pela oportunidade de receber a
visão de um artista de fora da Universidade. “O programa é
muito importante. Aqui temos pesquisadores muito bons, mas
faz falta este contato com outros profissionais”, diz Campanha.
A iniciativa de convidar um artista atuante como Spaniol e
que estava expondo no momento do curso foi muito importante
para a formação, observa o estudante. “O que aconteceu depois
da arte moderna tem de ser incluído num repertório de conhecimento
e experimentado para ver como se agrega aos dias de hoje”.
Spaniol
saiu de São Luiz Gonzaga (Rio Grande do Sul) aos 4 anos de
idade, mas criou-se em São Paulo, onde formou-se em 1983
em Artes Plásticas, na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação
Armando Álvares Penteado (Faap) e onde orientou oficinas
de pintura e gravura na Pinacoteca do Estado de São Paulo,
onde antes freqüentou cursos de modelo-vivo e pintura de
paisagem, e em 1989 apresentou a exposição individual “Pinturas
e Objetos”.
O artista viveu em Colônia,
Alemanha, como bolsista do Deutscher Akademischer Austauch
Dienst - DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico) entre
1990 e 1993. Entre suas exposições mais recentes, realizadas
em 2009, estão as individuais na Capela do Morumbi, unidade
do Museu da Cidade de São Paulo (São Paulo), no Centro Carpe
Diem Arte e Pesquisa do Palácio do Marquês e na Galeria 3+1
Arte Contemporânea, em Lisboa. As coletivas que marcaram sua
carreira são “Coletiva 6x6 - Novas Aquisições” Prêmio Funarte
Marcantonio Vilaça, no Espaço Cultural Contemporâneo e Ecco
(Brasília - DF) e Experimentando Espaços, no Museu da Casa
Brasileira (São Paulo).
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