|
Pesquisadora do IB descobre
três novas espécies de Zornia
Pesquisas sobre leguminosas rendem
publicação de artigos em duas revistas
MARIA
ALICE DA CRUZ
Três
novas espécies do gênero Zornia J.F. Gmel – planta
da família das leguminosas – foram descobertas pela pesquisadora
Ana Paula Fortuna Perez, do Departamento de Biologia Vegetal
do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, durante revisão
taxonômica do gênero para sua tese de doutorado, orientada
pela professora Ana Maria Goulart de Azevedo Tozzi. As novas
espécies já renderam publicação de artigo nas revistas
internacionais Brittonia e Novon. De acordo com a pesquisadora,
a espécie Zornia subsessilis Fortuna-Perez & A.M.G.Azevedo
foi descoberta na Serra do Cabral, Minas Gerais (região
da Cadeia do Espinhaço). A segunda recebeu o nome de Zornia
grandiflora Fortuna-Perez & A.M.G.Azevedo e foi encontrada
em Buíque, Pernambuco. A espécie Zornia decussata Fortuna-Perez,
G.P. Lewis & A.M.G. Azevedo, terceira descoberta de
Ana Paula, pertence à região Amazônica e foi coletada
na parte da Venezuela.
Além
das novas espécies, na tese intitulada “O gênero Zornia
J.F. Gmel. (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): revisão
taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia”,
Ana Paula sugere que o gênero tenha surgido há cerca de
10 milhões de anos nas caatingas e nos campos rupestres
do nordeste brasileiro. A partir de técnicas moleculares
e utilização de fósseis encontrados para a família Leguminosae,
Ana Paula conseguiu realizar o primeiro estudo de datação
em plantas da Unicamp. Esta parte da pesquisa contou com
a colaboração do professor Luciano Paganucci de Queiroz,
da Universidade Estadual de Feira de Santana, que está utilizando
a mesma técnica nas teses de seus alunos, segundo a pesquisadora.
A nova técnica, disponível
na plataforma Beast da Universidade de Oxford, Estados Unidos,
onde Ana Paula realizou parte da pesquisa, permite estimar
a idade e traçar a rota migratória de gêneros. “Não só de
Zornia, mas de qualquer gênero que se tenha registro fóssil
de grupos relacionados”. Os dados foram obtidos após o cruzamento
da idade de fósseis de gêneros próximos de Zornia, disponíveis
na literatura de Leguminosae, com o DNA extraído das amostras
coletadas por Ana Paula no Brasil, utilizando-se do programa
Beast. Em breves palavras, ela explica que pegou a idade
de alguns fósseis na literatura, amarrou com sua matriz
de DNA e chegou à idade estimada. O gênero mais próximo
tinha 8,5 milhões de anos, segundo a pesquisadora.
Os
estudos moleculares para extração do DNA foram realizados
com a colaboração da professora Anete Pereira de Souza,
no Laboratório de Análise e Genética Molecular do Centro
de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Unicamp.
Enquanto esteve em Oxford, Ana Paula trabalhou em colaboração
com Tiina Sarkinen, e no Brasil com os professores Luciano,
da Universidade Estadual de Feira de Santana, e André O.
Simões, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
“Eles, com a professora Ana Tozzi, assinam o artigo sobre
a datação molecular do gênero que já está sendo submetido
a uma revista especializada”, informa Ana Paula.
Um estudo do gênero Zornia
foi realizado há muitos anos, segundo a pesquisadora, mas,
na época, não existiam as ferramentas com dados moleculares,
DNA, anatomia e outras que foram possíveis aplicar na taxonomia,
segundo a cientista.
Gênero pode conter compostos químicos
Um estudo realizado em 2005 na dissertação
de mestrado “Estudos anatômicos e fenéticos subsidiando
a taxonomia no complexo Zornia diphylla (L.) pers. (Leguminosae,
Papilionoideae, Aeschynomeneae)”, de Ana Paula, com a
colaboração da professora de Anatomia Vegetal da Unicamp,
Marília de Moraes Castro, apontou uma quantidade significativa
de secreção em folhas de espécies do gênero Zornia, sugerindo
a presença de compostos fenólicos e mucilagens que merecem
ser revistos por profissionais das áreas de química e
farmácia, segundo Ana Paula. “Agora que foi realizado
um estudo taxonômico no gênero com os nomes das espécies
atualizados, o trabalho está aberto para profissionais
desta área que desejarem dar continuidade”, diz Ana Paula.
Atualmente, existem cerca de 80 espécies do gênero no
mundo, mas no Brasil ocorrem 36, das quais 15 são exclusivas
da biodiversidade brasileira. Na Unicamp, sob orientação
da professora Ana Tozzi, já foi estudado um número significativo
de gêneros de Leguminosae.
A pesquisadora enfatiza que estudos sistemáticos (taxonômicos)
são relevantes no sentido de possibilitar o armazenamento
de todas as informações das diversas áreas do conhecimento
sob o nome de cada espécie, bem como a pronta recuperação
de dados dos “táxons” e de seus parentes. “Esta característica
da classificação biológica tem sido fundamental na evolução
de diversas áreas pelo seu valor de predição, que auxilia
na busca de informações sobre um tópico desejado”, acrescenta.
Estudo
biogeográfico traça rota no mundo
O estudo
da rota migratória mostra que o gênero foi levado
do Brasil para a África há 4,6 milhões de anos,
possivelmente pela corrente marítima. “Para o gênero,
a migração transoceânica era um dos prováveis eventos
de migração da época, já que os continentes já eram
separados”, informa Ana Paula. Ela acrescenta que,
apesar da separação, os continentes naquela época
eram mais próximos, o que tornaria viável a chegada
do gênero ao continente africano em poucos dias.
Hoje, o gênero é encontrado também na África, na
Ásia e na Austrália. Uma segunda hipótese, porém
menos viável, seria a dispersão via pássaros, pois
os frutos de Zornia não são ingeridos por eles,
mas por terem estruturas aderentes em algumas espécies
é provável que ficassem grudados nas aves por certo
tempo. A migração pelo vento foi descartada pelos
pesquisadores, pois os frutos das espécies não possuem
estruturas aladas.
Por meio de
estudos taxonômicos e levantamentos florísticos,
é possível conhecer a biodiversidade brasileira
e protegê-la. Ao percorrer o Brasil para coleta
de espécies do gênero, a bióloga observou que muitas
delas não puderam ser encontradas, devido a degradações
nas vegetações. De acordo com Ana Paula, existem
várias pesquisas orientadas pela professora Ana
Tozzi, na Unicamp, com revisão taxonômica e filogenia
de gêneros de leguminosas (família do feijão, soja,
ervilha, pau-brasil entre outras). “Essas plantas
compõem a terceira maior família de Angiospermas,
e a segunda maior em importância econômica. Este
é o motivo de grande interesse por parte de botânicos.
“Mas ainda falta gente para estudar, pois há muitos
gêneros passíveis de estudos”, acrescenta.
|
|
|