Cepetro, polo de tecnologia
para exploração do pré-sal
20/10/2009
– É de interesse da Petrobras que o Centro de Estudos
de Petróleo (Cepetro) da Unicamp se torne polo inovador
em tecnologias visando à produção na camada pré-sal, que
apresenta características bastante peculiares. “Teremos
que produzir óleo em carbonatos, a grandes profundidades
e em reservatórios bastante heterogêneos. A Petrobras não
encontraria tecnologias para essas condições mesmo no exterior.
Ao invés de esperar que outros países o façam para depois
nos vender, vamos desenvolver a tecnologia em nosso país.
A pesquisa nessa área vive um momento muito interessante”,
afirma o professor Osvair Vidal Trevisan, diretor do Cepetro.
A Petrobras apoiou a criação
do Cepetro em 1987, elegendo-o parceiro preferencial no
âmbito acadêmico. “Trata-se de um centro multidisciplinar
cuja missão é promover a interface da Universidade com a
indústria da área do petróleo. Atualmente, temos cerca de
70 contratos em vigência com a indústria, envolvendo recursos
da ordem de R$ 37 milhões. Participam dos projetos perto
de 50 professores de diversas faculdades e institutos da
Unicamp, além de 78 pesquisadores contratados”, informa
Trevisan.
Segundo o diretor, já estão
em andamento pelo menos sete linhas de pesquisa voltadas
à exploração na camada pré-sal, relacionadas principalmente
com a retirada do petróleo a 8.000 ametros da superfície
da água e com a caracterização das rochas (carbonatos).
“Há muito a pensar em termos de estratégias de produção,
como a quantidade e as características dos poços a perfurar.
Serão poços de altíssima produção, mas que apresentam certas
dificuldades em relação a escoamento, como o elevado contato
com a rocha. Estudar alternativas é uma questão crucial,
que já estamos investigando”.
Osvair Trevisan adianta
que o trabalho de simulação das condições dos reservatórios
deve permitir, por exemplo, o aproveitamento da grande proporção
de dióxido de carbono (CO2) que eles contêm, em benefício
da produção. “Quando produzido e descartado, o CO2 vira
problema ambiental. Entretanto, depois de separado na superfície,
ele pode ser reinjetado no reservatório para aumentar a
pressão e facilitar o escoamento, graças a certas propriedades
do gás, como a admissibilidade com o óleo”.
O processo parece simples
em tese, mas exigirá muita engenharia, a começar pela separação,
recondicionamento e pressurização do gás para enviá-lo até
o reservatório, como observa o professor da Unicamp. “Lá
dentro, o CO2 vai interagir com o carbonato (que é sal)
e com o óleo. Também teremos que estudar esse comportamento
termodinâmico, havendo ainda a reação do próprio óleo com
a água natural. Tudo isso pode levar à formação de ácidos
capazes de corroer tubulações e válvulas”.
O diretor do Cepetro explica
que a exploração pede ainda conhecimentos da geofísica,
visto que a camada de sal funciona como um espelho contra
a penetração de ondas acústicas, o que dificulta o estudo
preciso da sua espessura e das condições encontradas abaixo
dela. “Outra questão é a deposição de parafinas presentes
do óleo. A oito mil metros, a temperatura do óleo é de 60
ou 70 graus, mas ao escoar pelas tubulações ele sofre um
resfriamento brutal (com a água a quatro graus) e a parafina
se solidifica. Entre as soluções possíveis estão o aquecimento
das tubulações, o reforço do isolamento térmico e o uso
de compostos químicos que solubilizem a parafina”.
Demanda por pesquisas
De acordo com Trevisan, as pesquisas na área de petróleo
que começam a ser realizadas agora, certamente, continuarão
pelas próximas décadas. “No momento, a Petrobras está testando
os poços do pré-sal, com início da produção previsto para
2014 ou 2015, atingindo o pico por volta de 2025. Problemas
estarão presentes até esse pico, na procura de poços, instalação
de linhas e montagem de plataformas – é a típica fase de
implantação de novas tecnologias”.
O professor atenta que as
pesquisas não irão parar mesmo depois de 2025, quando a
produção dos poços passará a declinar, como manda a lei
da natureza em relação aos recursos não-renováveis. “Aí
vem todo o esforço para manter a curva de produção no alto.
Genericamente, temos três fases de recuperação: a primária,
quando o reservatório ainda está pressurizado, com o uso
de técnicas para aproveitar aquela energia e trazer óleo
até a superfície; a secundária, injetando fluidos como gás
ou água para repressurizar o reservatório; e a terciária,
injetando vapor, polímero ou produtos químicos para separar
o óleo da rocha e da água, facilitando sua saída”.
Osvair Trevisan observa
que os técnicos já não utilizam tanto esta nomenclatura
para as fases de recuperação dos poços – primária, secundária
e terciária – devido à associação com o período cronológico.
“Dependendo das circunstâncias, é possível inverter a ordem.
Para o pré-sal, já se fala em antecipar a recuperação terciária,
injetando CO2 ao invés de água, a fim de solubilizar o óleo;
como a água não possui boa interação com o óleo, seria perda
de tempo, energia e recursos. Fato é que, como um poço possui
vida útil de 30 ou 40 anos, estaremos produzindo óleo no
pré-sal pelo menos até 2050”. (Luiz Sugimoto)